XVI
"SEM..."
Para ser um mito
De alguém
Eu teria de existir
Antes de ser,
De ter vivido
Antes de existir,
De ser sonhado
Antes de conhecido ser...
Porém,
Por tudo isso...
Não passo de simples rumor
Nas gargantas
De quem nunca me imaginou...
Sou um Vagabundo Dos Limbos,
Sou Haragano, O Etéreo,
Condenado a não sentir
O cheiro da rosa...
Sem que uma pétala
Deslize entre meus dedos,
Qual torrente de um rio
Com margem certa...
Sem que um espinho
Me prove que o sangue
Ainda corre em minhas veias...
Sem que a beleza de uma flor
Me cegue de amor,
Qual rosa do rio
Que murmura segredos de infinito
Em meus ouvidos...
Sou um Vagabundo Dos Limbos,
Haragano, O Etéreo,
Prisioneiro do aroma suave
De uma simples flor,
Mas longe de ganhar raízes
Nas profundezas íntimas
Desse botão aberto ainda
Sem destino...
Nos caminhos da flor,
Qual seiva
Que alimenta a planta,
Eu continuo
Sem rumo
Meu caminho para a extinção...
Haragano, O Etéreo in Nos Caminhos da Flor
(Gil Saraiva)
III
"BIUNIVOCAMENTE..."
Tu és o aroma
Que meus passos
Adoram percorrer,
O sorriso que ilumina
O fundo da minha alma,
A vida pela qual
Eu acabo por descobrir
Que tudo valeu a pena...
Mais do que a flor
És a essência,
A coerência,
A relação adequada
Entre o sentir
Que te transmito
Pelo conhecimento do que és
E o amor que me difundes
No cerne desse mundo
Que te constitui...
A essência...
A verdade...
A pureza dos princípios,
A lógica ordenada
De nossos olhares,
A ordem afrodisíaca
De uma linguagem mista,
Linguisticamente pura,
Absolutamente articulada,
Interativa...
Onde o discurso de incoerente
Desagua em ideias
Plenas de subjetividade,
De nuances incompreensíveis,
Em que tudo se resume
Àquilo que o coração
Chama de Amor...
Tu és o aroma,
O texto sagrado
De uma religião paranormal
Porque transcendente da razão...
Tu és o acontecimento,
A situação e mais ainda,
A equívoca equação
Que não se anula
Mas se traduz no íntimo
Deste teu interlocutor...
A falta de univocidade
Pode transformar nossas palavras
Num lugar indefinido
Que nenhum de nós
Consegue controlar...
Mas controlar para quê?
Importa sim sentir...
Sim... sentir...
O aroma
Que meus passos adoram percorrer,
O discurso de ideias
Plenas de subjetividade,
O texto sagrado
De uma religião paranormal,
A equívoca equação
Que não se anula,
O lugar indefinido,
Sem norma, sem razão,
Sem leis, sem regras,
Em que biunivocamente
Nos amamos!...
Haragano, O Etéreo in Nos Caminhos Da Flor
(Gil Saraiva)