Serve este local para tornar visível o pensamento do último dos vagabundos que conheço: EU!
Aqui ficarão registados pensamentos, crónicas, poemas, piadas, quadros, enfim, tudo o que a imaginação me permite
Serve este local para tornar visível o pensamento do último dos vagabundos que conheço: EU!
Aqui ficarão registados pensamentos, crónicas, poemas, piadas, quadros, enfim, tudo o que a imaginação me permite
Todos conhecem a Terra, Que vem dos confins do Tempo, Vem de um talvez contratempo, É testemunha afinal; Vem de tochas e de fráguas, Tem o timbre dos cantores, Tédios tranquilos vapores No transparente das águas, Tem temporal de báguas Em temores de rostos mil, Tem tempestade viril Na transcendência do Ser...
Todos conhecem a Terra, Tradição, trigo, ternura, Um terreno de bravura A transbordar tatuagens, Qual talismã de miragens De uma tarde ainda futura...
Todos conhecem a Terra, Texto, terreiro, trabalho, Trato, taxa ou espantalho, Trégua em tratado tardio... Taciturna por um fio; Território, telegrama, Transitório trunfo, trama A transbordar de tensão...
Tabuleiro de tornado, Turno de turma, pecado, O tardar da televisão Que é sinal de tempestade; Tomar tarefa, torpedo, Trincheira cheia de medo, Trânsito, tiro de verdade, Telemóvel e brinquedo; Transtornada tentação, Terramoto, temperatura, Tiquetaque de rotura, Tromba-d'água, tubarão; Talhar de teima, temer, Tecer truque tenebroso, Testemunho que odioso Nos faz tombar e torcer...
Todos conhecem a Terra, Que é trampolim da comédia E que num truque se encerra, De transpirar sem recibo Em tirania e tragédia Na traição de uma tribo...
Todos conhecem a Terra, Telefone de trovão Que tosse como um tufão Tóxicos traumas da guerra, Que não pára, não tem termo, Não tem fim, é um tormento... Tantas toupeiras num ermo, Quais tanques em movimento, Três, treze e quantas mais...? Vão cavar túmulos fatais...
Todos conhecem a Terra, Onde até o topo erra, Que é como um túnel, tesouro, Termómetro e tenebroso Tráfico feito sem ouro, Por um bandido tinhoso, Que trafica à tonelada, Sem táctica ter traçada... Tráfego, tranca, tarado, Testículo abandonado Por um traidor que merecia Não um trono, mas torrado, Ser em turbina de azia, Sem eles morrer castrado...
Todos conhecem a Terra, Técnica, troféu total, Tímpano, trauma, torneio, Transporte e tribunal, Tanto trilho, transfusão, Tentáculo de traiçoeiro, Travessia terminal Da trincheira de um tumor... Troco, turista, terror, Tratamento pra tirar Tudo o que houver que depor, Sem a tropa a tripular...
Todos conhecem a Terra... E se houver uma Terceira Guerra de trevas final, Começada à terça-feira Por um taliban fatal...? Temível, totalitário, Louco querendo trucidar Um trémulo mundo ao contrário Que não sabe ripostar... Da tristeza à transfusão, Com um terço em cada mão, Vamos todos esperar Que em bem possa terminar Esta luta dita santa Por quem tem cérebro de anta, Que as torres fez desabar!...
Mas nada disto adianta, Todos conhecem a Terra: Havendo homens no mundo, Num segundo travar guerra É tara, filosofia, Sonho tornado magia Que vem dos confins do Tempo, Vem de um talvez contratempo, Testemunho que entre mil Nos faz tombar e torcer Em tempestade viril Na transcendência do Ser...
Terminou o livro de poemas "O Próximo Homem". No seu lugar inicia-se o livro seguinte "Memórias da Terra".
Porque as Memórias da Terra são fruto dos homens que a habitam, estas memórias não são as de todos os homens mas as deste ser que me constitui.
Neste livro desfilam algumas das lembranças do meu existir. Pedaços de mim onde choro, riu, falo e grito deixando o meu registo em cada uma das palavras que se unem em frases. Frases que geram poemas, poemas que fazem o Livro.
Espero que gostem, porque o Poeta vive sem ser lido mas não a Poesia.
Cantam as vindimas os Podadores, Cantam na Praça de Tien An Men...
Vindimas de Junho Onde uvas, aos cachos, Aguardam a poda... E há quem as ouça... parecem gritar: "- Queremos Liberdade! Democracia... E embora com medo queremos Liberdade! Não vamos fugir, Somos milhares pedindo uma voz, E apenas uma, Hoje e aqui em Tien An Men, No lar da Paz Celestial... Tien An Men, Tien An Men, Pedimos apenas o que é natural!..."
Fazem chacinas os Caçadores, Caçam na Praça de Tien An Men...
Chacinas de Junho De foice e martelo, de gás e de bala, De bomba e canhão, de tanques estanques, Ceifam-se estudantes... Morrem às dezenas, centenas, milhares, Qual carne picada triturada a aço; Não sobra pedaço... No lagar de horrores o mosto já fede!...
E choram as vitimas dos Podadores Choram na Praça de Tien An Men...
Vitimas de Junho... Só os mortos cantam, num descanso ameno, Na Praça da Paz Celestial... Vitimas do medo, que o Poder tremeu, Vitimas tão cedo de quem não cedeu... Mortos, mais mortos e outros ainda Que em Tien An Men Pra sempre ficaram... E só porque ousaram pedir Liberdade Pra poder falar e ouvir e ler, E poder escolher Entre concordar e não concordar...
E contam as vitimas os Ditadores Contam na Praça de Tien An Men
Um, dois, três, cem, mil, e mais e mais... Aumentam os corpos ceifados a esmo: Mulheres, homens, velhos, crianças, Dois mil, três mil... Vale mais não somar, Esquecer os totais... Que em Tien An Men , A praça da Paz Celestial, Nasceu um Inferno feito por mil Dantes... O Verão foi Inverno... morreram estudantes...
E cantam os Anjos num coro de dor Cantam as Almas de Tien An Men...
E a China já chora O chão decorado de ossos e tripas, De músculos rasgados, Banhados no sangue de um mar de mártires: Um novo Austerlitz!... No tocar dos extremos O sangue é fusão...
Cantam as vitimas os Podadores Tomara que só em Tien An Men...
Tomara também que no Luso Ocidente Vindimas não hajam Nos meses errados...
Cantam as vitimas os Podadores Tomara que só em Tien An Men...
Vitimas de Junho... Pisaram-se as uvas e embora verdes Um mosto vermelho encheu o lagar - Tien An Men... Tien An Men... Os bagos esmagados parecem falar...
E cantam as vitimas os Podadores Tomara que seja o Canto dos Cisnes...
Vem... Extraterrestre que o céu Ao Homem te entregou Porque as fábulas não servem pra sonhar!
Vem... Fantasma que a casa Ao anoitecer expulsou Porque as fábulas não são para assustar!
Vem... Sereia que o mar Um dia rejeitou Porque as fábulas não sabem nadar!
Vem... Lobisomem que a Lua Uma noite abandonou Porque as fábulas não vivem ao luar!
Vem... Abominável Homem que a neve Uma manhã desmascarou Porque as fábulas não sabem hibernar!
Vem... Vampiro que a noite Ao nascer da aurora atraiçoou Porque as fábulas não vivem a sangrar!
Vem... Loch Ness que o lago Da eterna neblina se acabou Porque as fábulas também têm de acabar!
Vem... Conto de fadas, mito, animação, Mistério oculto no fundo mais profundo, Bruxedo, animal, pré-histórico, ladrão, Mágico, mago, astronauta em novo mundo...
Vem... Venham... bruxa, fada, feiticeira, anjo , E porque não um pouco de diabo , Adamastor nas dobras de outro cabo!
Vem... E sejas conto, fábula, ou página de história, Ou auto da derrota ou da vitória, Mito, religião, Bíblia, mentira , Credo, cruzes e um pouco mais de fé...
Vem... Venham encher com tudo isto esta minha alma Que ficou cega, vazia, nua, Abandonada... E quer poder sonhar E ser amada Mesmo que o preço seja não ser nada!
Vem... Porque as fábulas não servem pra sonhar! Porque as fábulas também têm de acabar!
Saudades Choro de um riso antigo Hoje recordado...
Saudades Vou deixando Aqui, além... Recordações eu guardo do meus passos: Daquele alguém que um dia olhou pra mim E me chamou de amigo... E num olhar Disse poder guardar de mim memória E registar bem fundo o meu sorriso...
Saudades Vou guardando, conformado, Daqui, de além e de todo o lado Onde há um abraço de amizade; Onde a Humanidade for humana; Onde a Paz existir na Natureza E onde a Liberdade for amada...
Saudades, Nostalogias, lembranças, emoções E outros sentimentos pouco claros Que vão ficando em nós E que nos tornam Produtos inventados pela mente De quem a nosso lado já viveu E guardou para si a nossa imagem...
Saudades De outrora... de uma hora, Daquele momento exacto, Inesquecível, Daquele instante louco, fugidio, Em que a flor abriu, desabrochou... Ou de outro que não conto por pudor, Mas que por certo falava de Amor...
Saudades, Momentos presentes do Passado Que o Futuro não pode apagar; Vivências de uma vida, Lágrimas de dor, felicidade, Desejos e gritos já vividos; Anos de sonho e de saudades E dias que são claras ilusões...
Saudades Vou guardando, vou deixando Aqui, ali, além, por todo o lado Onde a lágrima seja borboleta Ou onde a eternidade iluminada Se reduza breve, num segundo, A gotas de orvalho e de saudade...
Saudades Choro de um riso antigo Hoje, uma vez mais, Já recordado Ou novamente, Até que enfim, reencontrado!...