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"FRIA"
Aqui, a rua está tão agitada...
Nas gentes um sorriso se retrata
E nestas noites um luar de prata,
Aviva a coisa mais inanimada...
E ali no largo, perto da esplanada,
Ali mesmo tu estás, distante, ingrata...
E em meu corpo um fogo se desata,
Queimando esta minha alma já queimada,
Por te sentir fria!... Fria e distante...
Por me sentir de todo desprezado...
E nesse tempo, nesse mesmo instante
Eu começo a fugir amedrontado...
O luar vai... se apaga lancinante...
E ali, no chão, eu quedo abandonado...
Haragano, O Etéreo in Noites Perdidas
"FLOR BELA"
Florbela...! Branca pétala suave
Lhe vai cobrindo só a curta vida
Eternamente presa, esmorecida,
Tal como na gaiola morre a ave...!
E quem ao pé de si a campa cave
Há-de encontrar, na terra dolorida,
Restos de mágoa e dor incompreendida
Pois que a porta de amor perdeu a chave...
Porém... ao se espreitar, então, cuidado,
Abre à noite... à sombra... e ao pecado...
As portas do castelo da Saudade...
E nesse espelho de árida ansiedade
Uma sozinha pena... cava... arranca
Gritos da Alma e à Flor bela Espanca...
Haragano, O Etéreo in Noites Perdidas
"ESTRELA"
Na noite hiper-estrelada procurei
Sob o brilho do Verão, à Lua Cheia,
A estrela mais brilhante da cadeia...
Mas desse cintilar todo encontrei
Apenas uns reflexos, mera grei,
Coisas pequenas como a Cassiopeia,
Sem alma, sem chama ou epopeia...
Na noite hiper-estrelada eu tentei
Achar o diamante mais perfeito,
Um tal que me aplacasse a agonia
Da saudade inflamada no meu peito...
Na noite hiper-estrelada fez-se dia,
Ao encontrar a Estrela, amor, enfim,
Brilhando nos teus olhos para mim!...
Haragano, O Etéreo in Noites Perdidas
"ESCURIDÃO"
Nesta cama, num livro, à cabeceira
Um voador insecto está sozinho,
A mosca cheira a bolo, a merda, a vinho,
Mas a pobre não sabe àquil que cheira...
E no silêncio desta companheira,
A noite vai passando de mansinho...
E o seu corpo por mim, devagarinho,
Vai-me envolvendo em sua ratoeira...
Já não durmo esta noite, ó noite calma...
Me invadindo a tristeza ganha alma
E me envolvendo faz, de mim, seu berço...
Já não me sinto ser quem conhecia!...
Na escuridão me sinto em pleno verso,
Que o verso, em escuridão, traduz meu dia...!
Haragano, O Etéreo in Noites Perdidas
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