III
“VERDE E OURO”
Quem não queria poder ver mais além?
Se olhar a Bahia na chegada, lá do ar,
Nos faz sorrir, tremer, e mais, sonhar,
Ao descer encontramos outro bem
Ao continuar ainda mais mirando,
Ao vermos, por fim também, focando
As torrentes cristalinas de água
Agora desabando
Em chuva tépida, lágrimas sem mágoa,
Que nos mostram as ilhas na paisagem,
Frente à Bahia, quase uma miragem,
Como gotas puras, meigas, generosas,
Quais gemas saindo preciosas
Do Atlântico que lhes presta vassalagem…
As mornas chuvas tropicais vão lavando
Nas ilhas o verde e o ouro naturais
E em instantes, minutos, vão limpando
Os tons de jade puro e de cristais,
Por caminhos tornados aquedutos,
Onde as águas escorrem cristalinas,
Onde chapinham rapazes e meninas…
A natureza parece estar sorrindo,
Banhada de alegria ao Sol fugindo
Qual corcel, que por ravina,
Ao vento correndo dá à crina…
Haragano, o Etéreo in Portaló
(Gil Saraiva)
II
“BAHIA”
Primeiro a Via Láctea,
Galáxia nossa no Universo imenso…
Uma vez localizada
Procurar a agulha no intenso
Palheiro celestial
E, quando encontrada,
Desvendar por fim o Sistema Solar,
Berço do nosso bem, do nosso mal,
Coisa nossa, casa, terra, lar…
Depois… depois o Sol, os Planetas… olha a Terra…
Oceanos, continentes… paz e guerra…
E, já focando os trópicos, bem mais perto,
Avistar o azul e o verde da Bahia,
Imagem inversa do deserto,
De mata atlântica, em total harmonia,
Brilhando plena à luz do Astro Rei,
Jóia maior que descrever nem sei…
Eis a Bahia finalmente…
Imagem sagrada que se guarda qual tesouro,
Que brilha mais do que ouro,
Num verde e azul por si só tão reluzente…
E quase gemo e grito:
Isso… Bonito!
Haragano, o Etéreo in Portaló
(Gil Saraiva)
PARTE I
PAISAGENS
I
“MAIS PERTO DO CÉU”
Quem não tem fantasias nesta vida?
Filmes não vividos, só sonhados…
Soluções impossíveis que parecem ter saída,
Raciocínios absurdos mas na perfeição elaborados…
Caminhos percorridos pela mente,
Porque foram por ela imaginados.
Sonhar uma viagem tão secretamente
Que não se encontram excertos registados…
E assim… descobri um ponto no infinito,
Preciso, definido, desvendado,
E vê-lo mais perto, cada vez,
Sem palavras usar, nem mero grito,
A pouco e pouco melhor sendo focado,
Redesenhando, com espantosa nitidez,
As formas, os traços, as imagens,
Que na memória recordam as paisagens…
Quem não teve fantasias nesta vida?
Quem não sentiu saudades mesmo que de fugida?
Foi destapado o esquecimento, o véu,
Que nos prova o quanto, de verdade,
Já vivemos plena felicidade,
Mais perto, bem mais perto do céu…
Haragano, o Etéreo in Portaló
(Gil Saraiva)
"QUEM..."
Ah! Quem nos olhos trás a Primavera...?
Quem no sorriso tem a branca neve...?
Quem dança como pena, ao vento, leve...?
Quem pode ser humana e ser tão fera...?
Quem faz parar o mundo quando espera...?
A quem a poesia tudo deve...?
Por quem se torna a vida uma hora breve...?
Pra quem nasceu tão meiga esta quimera...?
E quem tem a frescura de uma brisa?
Quem tem traços mais brandos que aguarela?
Quem faz ferver as águas do Tamisa?
É quem o alto Olimpo inveja ao vê-la...
Não se compara a Héstia ou Artemisa...
És tu... que brilhas mais do que uma estrela!
Haragano, O Etéreo in Livro de Um Amor
(Gil Saraiva)