XXIII
“ROSA DO RIO”
Um dia, numa noite, sem esperar,
Ai, a mais bela flor, eu encontrei…
Como uma rosa, digna só de um rei,
Era como veludo ao desfolhar
Sem, no entanto, preciso ser tocar…
Gotas de orvalho nela vislumbrei,
Com um brilho que descrever não sei,
E que então me fizeram deslumbrar…
Mas rosa a flor não era propriamente,
Descia à beira rio, sem ter raiz,
Doava luz ao rio de tão feliz
Procurando aventura na corrente…
Era uma flor livre, era um sentimento,
Flor radical, pintura de um momento….
Haragano, O Etéreo in Terra de Vénus
(Gil Saraiva)
XXII
“PAISAGEM...”
Mais uma vez o olhar bebeu paisagem,
Esse meu pobre olhar, desgovernado,
Viu searas de trigo tão doirado
Que luz davam aos verdes, qual miragem,
De que dois olhos de água eram imagem…
Mais uma vez fiquei, ali, parado…
E, a custo, de meus dedos fiz arado
E com eles lavrei uma massagem
Por vales e encostas, com ternura,
Em momentos roubados ao prazer,
Por deles, por direito, não os ter,
Sorrindo no secreto da loucura…
E a paisagem surgiu alva e perfeita
Dos cumes onde o vento se deleita…
Haragano, O Etéreo in Terra de Vénus
(Gil Saraiva)
XXI
"Vida"
Pegar numa palavra sem sentido,
Fazer dela poesia, forma, rosto,
Torná-la expressão ou algo imposto
E dar-lhe a melodia, o ar vivido
Das outras com passado já perdido...
Conotar com prazer ou com desgosto
Essa palavra nova, ainda em mosto,
E dar-lhe um coração vivo, garrido...
Fazer dela senhora... mais: Rainha!...
Palavra das palavras, a maior!
Vida: Pode ser uma adivinha,
Um sonho, um riso, um grito ou um condor...
Seja o que for, Vida é sempre minha:
Amada, vida, dor... ou meu amor...
Haragano, O Etéreo in Terra de Vénus
(Gil Saraiva)
XX
"VERMELHA TEMPESTADE"
Querer... Já diz quem sabe que é poder;
Poder... Já diz quem tem que é divinal,
Divino... Diz quem sente que, afinal,
Amar é mais profundo... e mais que ter
Qualquer uma outra força pra viver...
Amar... um todo é!... Fundamental...
Amar - A luz mais forte: Capital
De quem pode o caminho escolher!...
Querer... poder... viver... Oh! Mas amar...
Nada é tão forte, quanta intensidade:
É como sentir vermelha tempestade
Nos invadindo a alma e o olhar;
É como ter na mão o infinito;
É querer, poder, viver, em um só grito!
Haragano, O Etéreo in Terra de Vénus
(Gil Saraiva)