VIII
"IMAGINE-SE..."
Imagine-se um mar de prata
Bordado ao ouro macio de um pôr-do-sol,
Deixemos agora
A nossa mente
Colocar algumas aves nidificando
Na costa fina de arbustos salgados,
Reserva natural
De um qualquer sonhado paraíso...
Em silêncio,
Os bateres de asas,
Se confundem com o restolhar do vento
Que sorri prá Primavera
Agora tão tangível...
O sentimento é por certo de harmonia!...
Pra quem não sente em verso
O deleite que os sentidos propiciam,
Recomendo que respirem fundo,
Deixem entrar languidamente
O cheiro a maresia...
Issooo...
Procurem agora sentir
A aragem vos acariciar,
De leve,
Passando-se suave
Pelo brilho dos olhos
E obrigando ao esvoaçar de alguns cabelos...
Com o olhar
Sigam as aves
Que gritam cânticos de amor
E de acasalamento...
Se entreabrirem os lábios
As papilas vão, por certo,
Detetar o gosto a mar,
O gozo das sensações plenas
E do encontro puro e idílico com Gaia,
A deusa que voluptuosa
Representa a Terra original...
Sentem?
Agora pensem,
Com um sorriso,
Num amor ausente...
Procurem influenciar a mente,
Mas sem esforço...
Issoooooo...
Estão vendo a sereia?...
É no exato instante,
De sensual e romântica lasciva,
Em que de joelhos nos dobramos
Para colher uma flor
De beira de caminho,
Que estamos integrados!
Cheios de amor,
De vida e de natura,
Enfim... de plenitude!!!
Imagine-se
Um mar de prata
Bordado ao ouro macio
De um pôr-do-sol
E conclua-se
Que afinal amar é simples...
Senão o mar seria água
E nada mais,
As aves: pássaros
E a reserva: pântano...
Imagine-se...
Haragano, O Etéreo in Nos Caminhos Da Flor
(Gil Saraiva)
VII
"FRAGRÂNCIA"
Na fragrância vaporina
De um odor...
Vindo do branco têxtil
De uma renda...
Te sinto eu:
...
No íntimo do teu cheiro...
Do teu ser...
Do teu corpo...
Do teu eu!!!
Sentir-te é sentir-me!...
E eu...
Sou tão egoísta
Dessa palavra simples
Chamada: Nós!
Quero-te!...
Na plenitude do uno
E do indivisível
Para poder viver em ti...
Na fragrância
Vaporina
De um amor...
Haragano, O Etéreo in Nos Caminhos Da Flor
(Gil Saraiva)
VI
"EU ESPERO"
Penso sozinho, eu sei,
Na solidão...
E o silêncio, nas sombras,
Não me ajuda...
Apenas faz crescer
Minha paixão...
Apenas me corrói
E me tortura
Em processos de mágoas
E loucura!...
E como se agrava a minha dor...
Em mil momentos de pavor...
Pois quanto mais eu penso,
Mais eu sei,
O quanto me dói
E me magoa,
Ter na solidão a voz amiga
Ou um riso cínico de intriga!...
Onde estará o meu amor?
Será que me deseja
Ou que me insulta?
E pensará em mim
A flor oculta?
Porque será que amar
Também é dor...?
Talvez se sinta só,
Para além das estrelas,
Através de imaginária ponte...
Através da linha do horizonte
Vem com as ondas do mar,
Vem para amar...
Espuma de raiva incontida
De querer e me não ter,
Mas de ser vida...
Mas de ser Ser...
Ela sabe, ao certo,
Que a desejo...
Me conhece bem
Em cada beijo...
Ai! Como posso eu
Viver sem ela...?
Eu quero o meu amor aqui,
Comigo...
Brilhando com o brilho
De uma estrela!...
Sinto algures alguém...
Sinto um respirar na escuridão...
E sinto mesmo
Sem sentir ninguém
Porque oiço bater um coração,
No silêncio dos limbos
Que não vejo,
No escuro vagabundo
Onde desejo,
Qual Haragano,
Um Etéreo ser,
Sem forma definida...
Eu a verei até,
Talvez, quem sabe,
Um outro Inverno...
E esperarei de pé,
Mesmo que a força acabe,
Na calote cristalina, glaciar,
No frio gelado de tão externo...
Se tiver de aguardar...
Aguardarei...
Aguardarei por meu amor eterno!...
Como um raio de Sol ela será...
Tão radiante
O gelo fundirá...
Nada esconderá o seu semblante!...
Viajar pela noite viajarei...
Guiando-me pela luz sem ter sinais...
A luz do seu amor, do meu amor,
A luz dos nossos ideais!...
E agora, por fim, nada mais digo...
Sei... sou... desejo... quero...
Eu sei meu amor o que consigo:
"-Amor acredita... Amor... eu espero!..."
Haragano, O Etéreo in Nos Caminhos da Flor
(Gil Saraiva)
V
"ETERNIDADE"
Quando na Praia Grande
Um jovem passa,
Num surfar que abraça,
Sem que abrande,
A praia, o mar,
O horizonte...
Quando a prancha é ponte,
E de fugida,
Entre espuma é hino,
Pelas vagas da vida,
Sem destino...
Quando na curva navega
Sobre as ondas,
Livre de entrega,
Sem fios, sondas,
Rumo ao céu divino...
Quando ao mar arranca
Pelas águas,
Um rufar, qual tambor
Em desatino...
Quando, ao Sol que desce,
A prancha desliza intemporal,
Enquanto o perigo cresce,
De forma injusta
E desigual:
Eu... vejo no surfista
A despedida:
Na forma de uma vaga...
Em agitar fatal...
Me recordando,
Um momento de partida
Em que a espuma
É teu rosto
Em lágrimas de sal!...
Não!
Não posso mais sentir
Tamanha dor...
Meu corpo quero fundir
Com teu amor,
E, mais que a saudade
Que em meu ser hoje treme,
Eu quero a força
Da vaga que geme,
O azul-marinho
Da longevidade,
Eu quero, amor,
Contigo a eternidade!!!
Haragano, O Etéreo in Nos Caminhos da Flor
(Gil Saraiva)