XVI
"SEM..."
Para ser um mito
De alguém
Eu teria de existir
Antes de ser,
De ter vivido
Antes de existir,
De ser sonhado
Antes de conhecido ser...
Porém,
Por tudo isso...
Não passo de simples rumor
Nas gargantas
De quem nunca me imaginou...
Sou um Vagabundo Dos Limbos,
Sou Haragano, O Etéreo,
Condenado a não sentir
O cheiro da rosa...
Sem que uma pétala
Deslize entre meus dedos,
Qual torrente de um rio
Com margem certa...
Sem que um espinho
Me prove que o sangue
Ainda corre em minhas veias...
Sem que a beleza de uma flor
Me cegue de amor,
Qual rosa do rio
Que murmura segredos de infinito
Em meus ouvidos...
Sou um Vagabundo Dos Limbos,
Haragano, O Etéreo,
Prisioneiro do aroma suave
De uma simples flor,
Mas longe de ganhar raízes
Nas profundezas íntimas
Desse botão aberto ainda
Sem destino...
Nos caminhos da flor,
Qual seiva
Que alimenta a planta,
Eu continuo
Sem rumo
Meu caminho para a extinção...
Haragano, O Etéreo in Nos Caminhos da Flor
(Gil Saraiva)
XV
"RASTO"
Olhar o céu
E ver nas estrelas
O florir da Primavera...
Sentir em cada uma
O perfume de uma flor!...
Tocar o infinito
Como quem toca uma quimera
Na essência vaporina
De um odor!...
Colher a mais perfeita,
Porém...
Da vista oculta,
Que não do meu sentir...
Que não do coração...
Sorrir só por sorrir!...
Em pétalas de amor
A desfolhar...
Entre meus dedos
Dar-lhe a forma
E um olhar...
Sentir a agitação do pólen
Me viciar o corpo,
Ir mais além...
Que ao infinito
Nunca foi ninguém!...
Regar,
Essa mais linda flor,
De vida,
De lágrimas de sémen
E saudade...
E ver nascer
Em folhas de prazer
Um novo amor,
Roubando assim à estrela
A liberdade!...
Ébrio de sonhos
Busco a flor oculta
Olhando o céu estrelado
E vasto...
Perdido de ilusão
Busco de novo...
Para encontrar apenas
O seu rasto...
Quem quiser ver
Florir a Primavera,
Nas estrelas
Do Universo imenso,
Tem que uma oculta flor
Ver brilhar
Sem que um qualquer outro
Possa vê-la!...
Pra poder ser minha
A oculta estrela
Tem de pensar o mesmo
Do que eu penso,
Tem de por mim sentir
Um amor tão vasto...
Que eu possa,
Por amor,
Seguir-lhe o rasto!...
Haragano, O Etéreo in Nos Caminhos da Flor
(Gil Saraiva)
XIV
"POR MAIS..."
Por mais
Que o encanto
Pareça estar quebrado...
Por mais
Que o sonho
Tenha dado lugar ao Sol
Depois de um raiar irritante
E nublado da aurora...
Por mais
Que o cotidiano
Me tente chamar à razão,
Qual despertador enervante,
Repetitivo,
Monótono
E incansável...
Por mais
Que a flor
Se encontre oculta...
Por mais
Que tudo...
Nada vai parar
Quem sonha
Com o que sabe querer,
Por mais
Que o sonho
Demore a chegar...
Por mais que o sonho
Demore
A sonhar...
Haragano, O Etéreo in Nos Caminhos da Flor
(Gil Saraiva)
XIII
"ONDE ESTÁS?"
Onde estás?...
Tu iluminas meus sonhos
Noite após noite
Como se eterna fosse
A tua luz...
Onde estás?...
Tu que me fazes sentir gente
Por entre gente
Que jamais o foi...
Onde estás?
Tu que saíste
Do cotidiano das imagens
Pra te instalares
Pra sempre
Em minha mente...
Onde estás?
Tu que és a seiva
Que me corre nas veias,
O gosto que me vem à boca,
O odor que me invade
O cérebro escravizado...
A flor oculta
Que floresce em meus sentidos...
Onde estás?
Diz-me pra que eu possa
De novo ser alguém!!!
Haragano, O Etéreo in Nos Caminhos da Flor
(Gil Saraiva)