Serve este local para tornar visível o pensamento do último dos vagabundos que conheço: EU!
Aqui ficarão registados pensamentos, crónicas, poemas, piadas, quadros, enfim, tudo o que a imaginação me permite
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95. Beijo Desportivo, significando que tem de haver uma troca. Devendo ser partilhado entre risos, gargalhadas, e porque não durante uma bebida enquanto se assiste a um jogo da Liga dos Campeões, uma Copa do Mundo, ou uma simples troca de bola na rua, com muito palavreado pelo meio. É um beijo que carece de assistência, entregue com todo o carinho possível, completamente sincero e com um significado inabalavelmente puro no que concerne à raiz das intenções. Um beijo que festeja sempre a alegria, com desportivismo, mas principalmente pela vitória. Dado num dia onde o que desperta em Lisboa acorda em Madrid, o que se passa em S. Paulo desagua em Lisboa, o que acontece no mundo corre no cerne de nós mesmos, sem complicações, com verdade, perto das gentes, entre a multidão. Beijo desportivo, saudável, aplaudido, um eco da dama no âmago de um homem feito atleta.
94. Beijo Desperdiçado por tanta gente, mas encontrado por alguém. Dividido por dois de forma simples. Perfeito na arquitetura, natural na construção, eloquente na entrega, desejado pelo querer, elementar na criação, mas apenas sonhado por aqueles que por algum motivo o perderam. Um beijar ainda às portas do inverno, quase que adormecido pelas estações do frio. Porém, finalmente desperto pelos executantes e num ápice tranquilamente pronto para provocar arritmias. Exige simbiose e afeto, carinho e ternura. Desenvolve emoções nesse ato praticado com a vontade explicita de conquistar almas, vidas, seres… sim, seres que se beijam por um desejo puro de sentir, de experimentar felicidade, de não perder pitada.
93. Beijo Delicioso, provido de volúpia, inventado exclusivamente para repartir prazer pelos sentidos, ávidos de sensações plenas, dos interlocutores. Gerado entre hormonas e sentimentos este é um beijo de boca com aromas de iguarias singulares. Um daqueles em que os palatos julgam reconhecer o travo de licores celestes, temperados a chocolate fino e perfumados com odores de rosas e lilases. Beijo delicioso porque se partilha com vontade, se entrega com dedicação, e se consome recheado de alma e acontecer.
92. Beijo Delicado, qual flor de estufa que não pode ser tratada de qualquer maneira. A fragilidade aqui obriga a extremos e ariscados cuidados de assistência quase que permanente. Tudo isto porque existe o periclito de poder ser rejeitado de forma abrupta, e com alguma aspereza, pela menina, senhora ou dama a quem o beijo se destinava pelos desígnios da nossa escolha e vontade. Para chegar a bom porto este ato terá de levar com ele o charme do concessor, arrebatando no romantismo do enlaço a força, o dinamismo e a energia positiva do ambiente para tentar levar de vencida a resistência feminina que poderia levar a uma possível rejeição. Depois, por fim, dissipadas as dúvidas, aplica-se paixão e beija-se com alma.
91. Beijo Decorado, que tem de ser requintado, não apenas com gosto ou alguns retoques de fantasia, mas aprimorado quer para a expetativa de quem o recebe, embebido de alegria, quer pela maneira como se entrega gerando felicidade. Importa criar um algo que possa ser recordado como belo, belíssimo ou mesmo soberbo, caso contrário a decoração não faz qualquer sentido. Interessa escolher o meio envolvente para a realização do evento, seja pela presença no ar de um bálsamo suave a flores silvestres, seja pela paisagem que poderá ser crepuscular e grandiosa ou urbana e suave na escolha das luzes que tiram a cena da penumbra. O ambiente deve ser acolhedor e o beijo entregue apaixonadamente, com convicção, ao som de uma música para a eternidade, para a memória, para a saudade.
90. Beijo Debaixo de Chuva, um dos que podemos ver repetido em inúmeras cenas românticas no cinema, da América à Índia, por todo o globo aliás, não existe provavelmente um país que não tenha um "take" num filme com uma sequência onde ele aconteça. Porém, muito mais importante ainda, é o facto de ele ser real, de ser quotidiano, de se repetir a cada dia por fazer prova de uma verdadeira demonstração de amor. Não tem a força de um beijo à chuva, mas anda perto. É digamos, uma réplica consolidada desse beijo anterior. Na verdade, nós, humanos, não saímos da nossa zona de conforto, retirando desta equação situações de poder ou de egoísmo, a não ser por algo superior, seja sobrevivência, fé ou pelo verbo magno a que designamos de amar.
89. Beijo Dançado, qual tango pleno que rasga uma sala na intensidade e beleza do ritmo. Dado com o jeito embalado de um samba que se mistura sensualmente com uma lambada de sangue latino porque se quer bem dado, bem sentido e bem emotivo. Entregue finalmente com um cheirinho de valsa, porque elegante, sério e cativante, de passo certo porque honesto e integro. Enfim, um beijo que nos embala numa dança sempre diferente, ao som de ritmos que apelam à ação dos corpos em exercícios de sensualidade que só se atingem dançado. Onde os movimentos dão ao beijar a cadência única daquilo que um dia se recordará como inolvidável.
88. Beijo Dado, aquele que se oferece por gosto, sem contrapartida, na expetativa da sua aceitação pacífica e, com alguma sorte, até acolhida com agrado. Quando puro ele faz parte de um lote restrito de ósculos que, pela sua natureza e essência, são altruístas, solidários, carinhosos, sentidos e absolutamente voluntários. Porém existem outros cambiantes. Na terra da picanha e do feijão preto ganha o nome de beijo de Tia, isto porque, em muitas ocasiões, só as bochechas se encostam e os lábios apenas fazem o movimento do beijo.Em situações mais extremas o beijo dado é também apelidado de beijo de perua porque nada se encosta e apenas se ouve o estalo do beijo e se nota o movimento da cabeça. Mas colocando de lado estas duas representações teatrais de um beijo que deveria ser efetivamente dado, ficamos perante um beijo espontâneo e sincero, em suma, um beijo de verdade.
87. Beijo Cúmplice, inventado pelo querer de dois seres que o realizam por desejo, vontade e paixão simultânea. Este é um beijo que ganha asas na privacidade das alcovas, protegido por esses refúgios pouco iluminados onde a sensualidade invade as sombras e os rasgos de luz dopam as mentes, apuram os sentidos, exaltam os sentimentos num universo de prazer tornado tátil por mãos, corpos e lábios que se envolvem em exercícios viciantes, de lancinante loucura sã, que só terminam por rendição das partes bem depois da unificação de um todo feito a dois. Beijo de cumplicidade, parente rico do amor, alma gémea da felicidade.
86. Beijo Cristalino como a gota de orvalho que seca a sede ao cato do deserto. Uma expressão que não me canso de usar pela força de vida que a imagem transmite, homenageando o grande Guerra Junqueiro. Porém, num beijo de elevada pureza, o realce tem de passar pela luz e brilho que o cristal aqui imprime. Seja um cristal de Murano, famoso pela arte e qualidade artesanal com que os italianos na ilha de Murano, ao largo de Veneza, fazem as suas peças, consideradas autenticas obras de joalharia e cristal, seja ainda um Bacará, sinónimo de status e opulência, charme e sofisticação, seja um Atlantis, símbolo de ressonância que se propaga no espaço dando aquela sensação de infinito, do brilho, da transparência e da luminosidade com que se chega ao belo. Beijo cristalino porque a perfeição é eterna.