Serve este local para tornar visível o pensamento do último dos vagabundos que conheço: EU!
Aqui ficarão registados pensamentos, crónicas, poemas, piadas, quadros, enfim, tudo o que a imaginação me permite
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204. Beijo Kama Sutra, aquele que, aglomera os trinta inclusos no ancestral texto, porque todos apontam no mesmo sentido. Significa Kama, em indiano, prazer sexual ou sensual ou mesmo desejo. Já Sutra traduz-se como um relatório ou um manual técnico. Então, Vatsyayana, o provável autor e o filósofo indiano que escreveu o Kama Sutra, possivelmente por volta do século IV, pretendeu mesmo escrever o "Manual do Desejo" como uma forma de condensar o conhecimento sobre um dos quatro pilares da filosofia hindu. Ora, um beijo de Kama Sutra, ou Kamasutram, no seu original, será sempre um beijo virado para a utilização de todos os sentidos num único ato. Trata-se do beijo do desejo por excelência. Deve ser dado tendo em consideração todos os fatores envolvidos, tais como: ambiente, sentidos, amantes, estado mental, espiritual e sentimental, para que a parte física se desenvolva com a volúpia certa num beijo preliminar de uma união que se quer perfeita e inesquecível, quer pela sensualidade, quer pela sexualidade, que o devir implica. De preliminar, ao repetir-se durante o ato, o beijo torna-se o garante da perfeição e o cálice do êxtase.
203. Beijo de Justiça, antes de qualquer outra qualidade é na sinceridade que ele se encontra alicerçado. Conotado muitas vezes como o fundador da ilustre casa do beijar, ele é o pilar que impede a decadência do beijo através dos tempos. Dá-se porque é merecido, justo e apropriado. Mais do que um beijo sentimental ou mesmo até emocional ele é naturalmente racional, impõe o equilibro, recompensa qualquer boa prática. Beijo de justiça, aquele que indica os limites e fronteiras, balizando claramente o que está certo ou errado, servindo de abrigo e refúgio a todos os beijos dados por bem, a quem, por direito adquirido no quotidiano do sentir os mereceu certamente.
202. Beijo de Jasmim, em que o aroma paira no ar envolvendo as dermes, como que anunciando uma primavera propícia para afetos e demonstrações de ternura, com requintes de perfumaria cara. Não fosse o jasmim, a par com a rosa, um dos grandes pilares da perfumaria. Este beijo permite que tal doçura nos circunde as mentes transportando-nos para universos de relaxe, caricias e prazeres iniciadas pelo toque dos lábios, quais folhas de chá que, quando unidas pelo aroma da flor, despertam paladares e fragrâncias ainda mais apelativas, vivas e sensuais. Beijo de jasmim porque o beijo é o perfume do amor que antecede e assiste à união dos corpos.
201. Beijo de Jamais, pode parecer, numa primeira análise, superficial, ou até achar-se que este beijo não faz sentido. Não poderia ser maior o erro. Ele é o beijo irrepetível, supremo, ardente, inesquecível, divino e transcendente. Na existência do beijo perfeito ele será sempre o mais-que-perfeito, aquele que por muito que se queira não volta a acontecer. Não importa que o tentemos recuperar seja de que forma for. Uma vez dado, entregue, dividido, partilhado e sentido, acabou. Passa, depois, a figurar no lugar mais alto dos beijos gravados e registados nos arquivos deliciosos da nossa memória. Inscrito a sangue no âmago do coração, grafitado no monumento austero do nosso espírito, colocado no altar-mor da alma, para servir de graal às cerimónias do beijar.
200. Beijo de Jade ou beijo chinês que, emitindo sonoridades, qual estalo, dado principalmente na face, obriga à inspiração intensa dos perfumes, dos odores do que do par emanam. O jade, normalmente a fugir para um tom verde-esmeralda é uma pedra composta por dois tipos de mineral, a jadeíte e a nefrite, que uma vez unidos se tornam extremamente rijos chegando a pedra a ultrapassar a resistência do aço com relativa facilidade. Impressiona não apenas pela sua beleza evidente, de um brilho lustroso, mas pela dureza que imprime, sendo usada em adornos, objetos de culto e em algumas armas de defesa pessoal, tendo, por isso mesmo, uma grande procura. Ora, por analogia o beijo de jade é normalmente um beijo mítico, possuidor de poderes de encantamento e de fascínio. Um beijo vindo do misterioso oriente, resplandecente no toque e refletindo personalidade, magia e persistência. O beijo chinês resiste ao passar dos tempos e à memória. É dado com determinação, com um sentir superior entre dois seres que se beijam e que juntos marcam a diferença pela força da união com que se firmam.
199. Beijo Italiano, normalmente um beijo de lábios colados nas bochechas, onde a língua se diverte em movimentos orbiculares saboreando a face aprisionada, diriam no Brasil. Porém é bem mais do que isso. Trata-se de um "bacio” movido pela paixão, pelo fogo na guelra, pelo impulso inconsciente de um ser apaixonado. Um beijo quente, sentido, vibrante e que arrebata almas. Másculo na entrega, viril no orgulho, possante na toma e no envolvimento da maravilhosa criatura nos domínios sensoriais de um macho latino que se afirma com garra e se entrega com devoção.
198. Beijo Invisível, dado com o pensamento, com o querer, com a vontade férrea de atingir um fim. Dado voluntariamente, sonhado por o conseguir sentir, criar, inventar e materializar na mente, de tal forma que se torna um beijo entregue e não um mero desejo ou sensação. Um beijo que se demora a aperfeiçoar, mas que é belo, planeado até à essência, com os detalhes do cheiro da boca, do tato nos lábios, dos olhos que se fecham, dos arrepios que nos percorrem a espinha e se alojam no coração. Num beijar, sempre, acima de tudo, com a certeza criativa de que se tem presente a quem se quer, num ato que, por si só, fala de amor. Beijo invisível como o sentimento, mas sentido com a intensidade do mesmo.
197. Beijo de Inverno, se bem dado provoca uma união, quer pela procura de calor, quer pela partilha do conforto que o mesmo consegue propiciar. Este beijo vindo de uma atmosfera agreste, fria, quantas vezes gelada, consegue fazer o milagre, não de transformar pão em rosas, mas de obrigar a tempestade a virar bonança. Beijo de inverno, aquele que nos aquece a alma, que irradia ternura, carinho e alegria. Um ósculo que nos aponta o caminho certo para a luz de uma fogueira de cor e de paixão, de tons garridos, confortável, sobrepondo ao branco e ao cinzento as cores sanguíneas que, no seu seio, guardam a amizade, o amor e a paixão.
196. Beijo Inventado a dois, usados por dois, recordado por cada um intensamente. Inventando cada beijo diferente do anterior. Não há beijos iguais, nem se dados pelos mesmos interlocutores. Em cada beijo existe algo de parecido com um anterior, mas com diferenças que podem facilmente ser detetadas se pensarmos nelas. Ora, um beijo inventado em equipa, com o propósito de se tornar inesquecível, se tiver de génio o que tem de intenção, ficará por certo nos anais daqueles que o partilharam. Um pensará no carinho, no toque do lábio, no cheiro do rosto, até no brilho do olhar emanado pelo outro. Já do outro lado recorda-se o toque da língua, o calor no pescoço, o arrepio na espinha na fusão dos lábios. Afinal o que importa é que cada beijo seja sempre inventado a dois, para gozo de ambos.
195. Beijo Invasor, invencível, vindo de outro ser que nos circunda o existir. Pela ocupação da hipófise onde se instala. Por nos deixar condicionados pelas hormonas que decide produzir. Pelo assumir desse centro de comando do hipotálamo rendido ao invasor, onde, a partir desse momento, somos marionetas de emoções manobradas pelo querer de outro alguém. Beijo que se dá em alvoroço, podendo dar lugar a uma rebelião das sensações ou à total rendição incondicional deste sentir que era o nosso. Um beijo com a cumplicidade dos sentimentos que nos são próprios, para prazer e gládio dos sentidos, cujo comando a nós pertence e que se captura, sem consentimento prévio, num vislumbre alucinado de conquista.