Serve este local para tornar visível o pensamento do último dos vagabundos que conheço: EU!
Aqui ficarão registados pensamentos, crónicas, poemas, piadas, quadros, enfim, tudo o que a imaginação me permite
Serve este local para tornar visível o pensamento do último dos vagabundos que conheço: EU!
Aqui ficarão registados pensamentos, crónicas, poemas, piadas, quadros, enfim, tudo o que a imaginação me permite
306. Beijo de Primavera, ornado de natura que desponta em sorrisos coloridos de mil cores, mil chilreiros, mil murmúrios de acasalamento, mil novos sinais de vida a cada instante, em cada momento, por cada segundo. Beijo animado pelo correr de águas cristalinas da nascente até à foz, transbordando frescura, na paisagem sedenta de viver e existir, onde, lá do alto, o Sol ocupa o nobre lugar de guardião com sua manta de luz e afago protegendo um beijo que se quer renovado a cada passo. Beijo alegre em cada movimento, fértil em cada par, protagonista em cada cena onde o guião, por mais diverso que aparente ser, acaba sempre por só falar de amor, de propagação, de primavera.
305. Beijo de Presente, embrulhado em fino e suave papel de seda, embebido em fragrâncias de orquídeas selvagens adocicadas por aromas ténues de mel. Beijo enviado dentro de uma caixa acolchoada com muita imaginação, farrapos de alegria e sorrisos em palha, devidamente resguardado de influências de estranhos por forma a ser aberto e poder chegar perfeito à face da devida destinatária. Beijo, de presente sendo, finalmente, entregue como se de uma caricia se tratasse, como se, qual surpresa, a sua descoberta deslumbrasse, chegando a quem o recebe com requintes de oferenda preciosa, rara e muito apreciada.
304. Beijo Preliminar, o mais comum ponto de partida para uma viagem que se espera longa e feita na medida certa dos participantes. Beijo, normalmente, demorado em cada paragem e sem regresso marcado, previsto ou ansiado. Beijo, qual cruzeiro que ruma navegando mar adentro na descoberta de mundos de prazer, de vulcões de cópula, de estuários de luxúria, de rios de gozo, de terrenos de prazer, daquela foz de deleite puro ou do arquipélago das ilhas da voluptuosidade, da lubricidade, da lascívia, da concupiscência e da sensualidade. Beijo preliminar, enfim, uma espécie de Triângulo das Bermudas, mas mais conhecido como o Pentágono do Sexo. Beijo preliminar porque é preciso começar.
303. Beijo Precioso, aquele que vale pela entrega sincera entre as partes. Beijo de uma harmonia que parece tirada de uma cena de um antigo livro romântico dos anos cinquenta do século passado. Tudo porque se trata da partilha sentida, em que quem beija se confunde com quem é beijado, numa troca de comandos e sensações que não permitem mais descobrir um líder, o que revela sensualmente a preciosidade deste ato disputado com ternura, carinho, entrega, vibração e, porque não, loucura. Beijo de um desvairo são porque mutuamente oferecido até que o sentimento difundido pelo ato se torne memorável. Beijo precioso, aclamado e impagável por fundir o sentir, a alma e o coração.
302. Beijo de Praia, forrado de emoções e recheado de suspense. Este é um beijo que se inicia a meio das costas desnudas da dama que, desprevenida, o recebe com um arrepio de surpresa e de sensualidade genuína porque o beijo ocorre, com frequência. Beijo após uma saída da água, quando o homem chega molhado a mar, cheirando a sal, suor e maresia, junto da toalha onde, num plano quase horizontal, de costas, a fêmea vai deixando o Sol acariciar-lhe o dorso, a nuca, as pernas e as coxas. Beijo, numa pose que transpira sensualidade e desejo mesmo já antes de sentir o encostar dos lábios frescos e húmidos contra o eixo relaxado do seu torso, obrigando-a à contração dos músculos a cada pinga de mar que foge do cabelo do banhista enamorado para desaguar, deslizante, para lá do fundo das suas costas. Beijo que deixa que sinta a língua, o toque envolvente de dedos e mãos e onde, partir daí, dominam os sentidos, os movimentos ondulantes por entre a brisa felina da praia deserta. Beijo de praia, dado com a maré, recebido como uma onda.
301. Beijo de Poeta, de Camões, de Florbela, de Bocage, de Antero ou de Guerra Junqueiro, cantado em versos sem fim, em odes ou quadras rimadas na suavidade das formas, no encadeamento das rimas, por sonetos inventados em fontes profícuas de sensualidade, garbosas e apaixonadas, galantes e indescritivelmente originadas na dor que se torna amor, na lágrima que mata a sede, na fome que se transmuta em fartura. Beijo de poeta, aquele que implica sentimento à flor da pele, pele na pele, tudo em paisagens perdidas nas areias de melodias poéticas à beira-mar sob um ocaso de romance e sonho. Beijo de poeta entregue na alma, sentido nos lábios, cantado na voz, eternizado no coração.
300. Beijo de Poema, seja quadra, oitava, soneto ou verso livre, que se declama afavelmente durante toda a poesia, em cada letra um verso, de uma palavra, de uma frase sentida cá no fundo. Iniciada pelo B, de Bela, seguida por um E, de Encantadora e um I, de Imaginação, depois vem o J, de Jasmim e O, de Olhar, ou seja, assim se cria um BEIJO para uma Bela mulher, sempre simpática e Encantadora, muito para além do que a Imaginação consegue abranger. Beijo de poema, que se atinge, na realidade, com a simplicidade de uma flor, de um Jasmim em cada sorriso, seguro no porte e querido no O Beijo de poema, romântico, quantas vezes apaixonado, vivido entre o desejo e o sonho, declamado sempre nos lábios de quem quer beijar.
299. Beijo Platónico, fictício, ambicionado, oprimido, mas apenas entregue pelo pensamento de quem o inventa numa criação irreal que espera vir, um dia, a conhecer a luz, a realidade, a sensação final da concretização tão cobiçada. Quem assim beija deseja com carinho, amor, mas à distância, sonhando cada detalhe, da forma como o entregará, num instante que será eternizado na sua memória, à maneira como o acoita a dama a quem o mesmo se destina. Beijo platónico, porque para algo poder acontecer é preciso saber idealizar.
298. Beijo Pintado, em que as línguas substituem os pincéis, um agir que não se fica pela junção dos lábios ou dentro dos contornos das bocas, mas que se estende aos olhos, à testa, ao nariz, às faces, ao queixo e ao pescoço. Trata-se evidentemente de um beijo húmido, lambido e pleno de sabores que, porém, regressa sempre ao cerne da ação, na partilha dos lábios e das línguas, na busca da intimidade escondida das bocas ávidas de erotismo e sensualidade.
297. Beijo Pingado como esta terra que não para de lacrimejar por reverência à sua ausência ou distância, quase chorando lágrimas de saudade, olhando horas que não passam, dias que não chegam, tempos que não vêm por muito que se espere. Um beijo assim é um quase beijo piegas. Clama pela derme onde quer repousar, por fim, como quem dela depende para continuar a existir. Beijo molhado, pelo menos húmido, perdido na ansiedade louca de se fazer cumprir, de culminar entre seus lábios, seus ombros, seu pescoço ou sua face com a sensualidade escorregadia de uma lágrima que anseia tornar-se magicamente em alegria.