Serve este local para tornar visível o pensamento do último dos vagabundos que conheço: EU!
Aqui ficarão registados pensamentos, crónicas, poemas, piadas, quadros, enfim, tudo o que a imaginação me permite
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396. Beijo Único, quando procuramos na memória, revendo o passado em serena retrospetiva, os atos de toda a nossa vida, o que fizemos, o que sonhámos, o que quisemos, o que atingimos e alcançámos, tudo o que fomos e principalmente o que deixámos por fazer, finalmente, ele está lá, em lugar de destaque num pedestal ornado a ouro e diamantes pela nossa imaginação. Ou, então, ainda não existe, contudo, o pódio não desaparece apenas porque se encontra vazio à espera dele. Afinal, ele é o beijo único que jamais esqueceremos. Dado no momento exato, pela primeira vez, no local escolhido, à pessoa certa, por força de uma força mais forte que nós mesmos e que, ainda hoje, responde pelo nome de amor.
395. Beijo Um-Pouco-Mais, e a partir daqui a imaginação terá que funcionar, mas dou alguns exemplos, se for um pouco mais arrebatador é paixão, atração fatal, força irresistível. Um pouco mais violento, é submissão, se for repressivo, sadismo ou masoquismo dependendo de quem o exerce, ou abuso se for imposto. Um pouco mais romântico e estamos a entrar nos campos da empatia, do clique sensual, ou do amor. Um pouco mais sério e reina a amizade, a simpatia, a genuína solidariedade e crença no próximo. Os exemplos não têm fim, há que imaginá-los, mas isso cabe à destinatária deste nosso beijo um-pouco-mais…
394. Beijo de Uma Vida. Existem alturas no decorrer da nossa existência em que, muitas vezes sem sabermos bem como ou porquê, acontece algo de extraordinário e absolutamente incomparável com tudo o que experimentámos anteriormente, seja a nível profissional, espiritual, religioso, ou, mesmo até emocional, e é neste último campo que se enquadra o beijo de uma vida. Ele chega sem aviso prévio e marca quem nele intervém de forma permanente e inesquecível, um dia, cuja data jamais esqueceremos. Beijamos a pessoa certa e sentimos que somos senhores do universo, donos da felicidade, guardiões da paixão e do amor e tudo porque, aquele momento que durou segundos, nos fez ferver o sangue nas veias, nos fez mudar por completo a maneira como olhamos os outros, nos fez sentir gente e nos fez saber que existir faz sentido. Beijo de uma vida para que a vida se resuma àquele instante que fica cá dentro de nós.
393. Beijo Twist, porque não existe tradução para este género de dança e música, nascido nos Estados Unidos da América, nos anos sessenta do século XX, e assim designado daí em diante. Com origens no "rock and roll" e no jazz principalmente. O Twist traduz um movimento pélvico contorcido tornava a dança única no seu género dando-lhe imensa popularidade a nível mundial. Devido a isso várias outras coisas e áreas acabaram por ir adotando o termo "twist" para se referirem a algo contorcido, mas harmonioso e bonito de se ver, assim nasceram, por exemplo, as guloseimas "twist" que misturavam cores em linhas que se alongam em forma de corda. No Brasil chamam-lhe de beijo "Cosquinhas", porque, neste beijo, sempre se passa a língua no céu da boca do outro e se acaba por fazer cócegas no par. Em resumo, o beijo twist é um beijo sempre feliz, que nos faz rir por dentro e sorrir por fora, dançante e musical. Ele obriga indefinidamente ao cruzamento dos lábios que se cruzam e entrecruzam numa dança sensual de magia e beleza sensitiva.
392. Beijo Turco, como a planta (beijo-turco) que lhe dá o nome, é um beijo florido (ou beijo-pintado), suculento na ação, macio e suave no contacto, colorido na forma, natural na textura e é normalmente partilhado em espaços campestres ou de ar livre. A planta, em Portugal, ganha o nome de Alegria-do-Lar, o que traduz a genuína alegria com que este beijo é criado, mas o facto de ser dado em público justifica o nome da planta no Brasil, Maria-Sem-Vergonha, porque se trata igualmente de um beijo sem pudores de quaisquer ordens. Beijo Turco, um beijo em que a iniciativa é feminina, mas que só pode ser concretizado se partilhado a dois.
391. Beijo de Tudo, apenas porque é tudo, e não partes de uma globalidade. O que se necessita indivisível para poder contar, convir ou ter qualquer importância, valor ou capacidade de, por isso mesmo, se tornar diferente. Importa primeiro, que o ritmo cardíaco signifique inequivocamente a existência de sentimentos traduzíveis por amor. Seguidamente é necessário que todo o organismo se sinta apto a seguir esse sentir. Em sequência torna-se obrigatório o envolvimento do espírito globalmente integrado e apoiante do físico. Por último, a alma e a essência têm que concordar com a atuação dos nossos seres. Só assim se tem um beijo pleno por entrega plena a quem nos torna plenos. Beijo de tudo, apenas porque menos é decerto pouco.
390. Beijo de Trovão que chegando de repente, quase sem se fazer anunciar, explode entre os dois num turbilhão de fluidos, gemidos, bafos de amor e de paixão, na procura quase insana do outro. Beijo entre movimentos inacabados que a toda a hora parecem querer recomeçar. Beijo onde tudo é ação, temperatura, efervescência, contacto e tato, na procura da fusão das bocas, da troca das línguas, do deslizar dos lábios, pele na pele, carne na carne, cheiros, odores e perfumes, sabores e paladares num tufão de um misto de erotismo e sensualidade, renovado a cada toque, a cada gesto, em cada trovão, por entre o relampejar dos egos.
389. Beijo Trazido pela noite em gotas de orvalho que no despontar da alvorada deveriam descer suaves entre seus lábios, saciando a secura da manhã ou, no caso bem mais apropriado, resvalar pela sua face hidratando-lhe a pele com a ternura do Sol que, por nascer, transportará consigo algum calor ao novo dia. Beijo trazido, vindo de longe, peregrino com rumo, devotado crente que procura abrigo no seu rosto. Um beijo trazido de dentro do âmago do ermita, para o exterior da reclusão, com a finalidade de repousar feliz, algures ali, pelas margens do seu sorriso. Da face, da boca ou do ventre da mulher ou homem a quem foi destinado e para quem este beijo foi trazido, entregue e desfrutado.
388. Beijo Transmissor. Existem os recetores, aqueles que recebem, a quem são dadas as coisas, sejam eles beijos, sorrisos ou artefactos corpóreos da mais diversa índole. Seja lá por que motivo for são eles quem acaba por rececionar o que é distribuído. Contudo, antes desses, e para que eles apareçam, foram originados os transmissores, aqueles que entregam, que dão e que passam a outros o que lhes pertence ou o que pretendem repartir. Sejam eles bens materiais ou os referidos beijos e sorrisos. Um beijo transmissor é um ato que acaba em recetor, que se divide por dois, mas que tem por finalidade unir, não separar, para que, ao ser criado, ambos se sincronizem num só sentimento de amizade, de amor ou de paixão.
387. Beijo Tranquilo, sem inquietações, ilusões ou nervosismos. Um agir sem a preocupação de ser apático, desenxabido ou pacífico. Um beijo tranquilo é como uma paisagem de uma manhã clara, em dia de estio, com mar calmo e Sol acolhedor. Pode ser inventado na amizade simples entre quem se conhece ou se quer relativamente bem. Pode ter um mero caráter familiar onde os laços são aquilo que os produz. Porém, pode provir da força que um amor correspondido nos transmite, calmo pela confiança, sereno pela beleza intrínseca que contém, tranquilo pela certeza da mutualidade envolvente desse sentir maior.