Poesia: Livro - Baladas de Embalar
Balada dos Montes Quentes
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À noite sonhei contigo,
Sonhei um sonho de amor,
Vi em teu peito um abrigo,
Nele sequei meu fulgor...
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Senti a pele macia,
Sob a dureza dos cumes,
Senti que todo eu ardia
Num epicentro de lumes...
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Passei a língua molhada
Sobre essa derme aquecida,
Esqueci de tudo, de nada,
E renasci para a vida...
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À noite sonhei contigo,
Sonhei um sonho de amor,
Vi em teu peito um abrigo,
Nele sequei meu fulgor...
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Trinquei de leve, com jeito,
A carne fofa, encantada,
E essa trinca em teu peito
Deixou-me a calça molhada...
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Logo envolvi os meus lábios,
A doce alvura cercando,
Beijos que, não sendo sábios,
Lá aprenderam amando...
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À noite sonhei contigo,
Sonhei um sonho de amor,
Vi em teu peito um abrigo,
Nele sequei meu fulgor...
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Suguei-te doido, perdido,
Mamei sem sede de leite,
De novo fui atrevido,
Senti nas calças o azeite...
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Fervia já, todo eu,
Nessas montanhas montado,
Tocando no que era teu
E me sentindo tocado...
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À noite sonhei contigo,
Sonhei um sonho de amor,
Vi em teu peito um abrigo,
Nele sequei meu fulgor...
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E as minhas mãos deslizaram,
Sobre os pecados mortais,
E, essa carne apertaram,
Entre os meus e os teus ais...
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E já a roupa tiravas,
Nesse sonho que sonhei,
Logo quando te entregavas,
Por azar, eu acordei...
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À noite sonhei contigo,
Sonhei um sonho de amor,
Vi em teu peito um abrigo,
Nele sequei meu fulgor...
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E os seios, de almofada,
Eram só penas de pato,
Na fronha que, enfeitiçada,
Quase conseguiu um acto...
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Simples pano de algodão,
De um palácio fez cabana,
Mente quem diz, sem razão,
Que o algodão não engana...
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Haragano, O Etéreo in Baladas de Embalar