Serve este local para tornar visível o pensamento do último dos vagabundos que conheço: EU!
Aqui ficarão registados pensamentos, crónicas, poemas, piadas, quadros, enfim, tudo o que a imaginação me permite
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Regressei, impelido pela curiosidade, ao blog da Isa no Sapo, aquele denominado "Um Pássaro Sem Poiso", onde ontem estive, desta vez para poisar a minha atenção sobre o poema intitulado "Vacuidade" e, mais uma vez, comentei. Volto, em primeiro lugar, ao poema e, como fiz no último, os comentários ficam para o fim:
1 - Em primeiro lugar e antes de uma outra coisa qualquer, menina Isa, amei de coração. Excelente poema! Muito bom mesmo. Como é possível criar algo vindo, tão perfeitamente, do âmago do que somos, usando um palavrão tão feio, como é, no caso, a "vacuidade".
A tristeza profunda e sentida que esse vazio emana, gerou, em mim, uma intensa vontade de lhe oferecer colo, não porque a menina precise dele, pois já se faz acompanhar do desabafo, à tijolada, feito de palavras, mas porque a vontade inata da alma lusa, que é parte de mim (como o é de muitos de nós), me impele a ser solidário, amigo e ativo.
Note, menina, que não estou a falar da solidariedade bacoca, como aquela das petições fingidas, em que se oferece algo aos coitadinhos deste mundo, tornada moda nas redes ditas sociais. Essa visa cobrar o dízimo e oferecer a falsa sensação de salvação aos mais abonados materialmente e que preferem pagar, para aplacar a sua culpa de almas esvaziadas de qualquer sentimento verdadeiramente empático e solidário.
Aqui, onde me encontro, sentado a ler o seu poema, menina Isa, eu vi hoje passar, de perto, o vazio angustiado e profundo de uma alma à deriva que se tenta salvar no grito mudo das palavras escritas. A vontade inata é esticar o braço e agarrar a corda ou a corrente, arrastando, no ato, a âncora para terra firme, como se este vagabundo dos limbos, em que me constituo, a pudesse salvar, qual cravo em cano de espingarda, que habilmente transforma a ditadura, em plena revolução, num jardim de liberdade que se deseja firme. Porém, não sendo eu, certamente, um porto de abrigo, pelos instantes que durou a leitura e até um pouco mais além, desejei sê-lo.
Ups! A minha querida amiga, por vezes, tem este efeito em mim. Quando desperto já estou sendo arrastado, quase desde o início, pela maré do seu sentir. Mil perdões. Deixo uma quadra que fiz, tem muito tempo...
Sorria, nunca ande triste
Pelos caminhos da vida,
Que a vida, que em nós existe,
Não tem volta, só tem ida!
Gil Saraiva
2 - Voltei. Estava pela quarta vez a reler o poema (que, repito, adorei) quando reparei que cada estrofe tinha dois versos que rimavam entre si. Giríssimo. Não tinha notado. Este facto fez com que o tornasse a ler, pelo menos mais quatro ou cinco vezes. Perdi-lhe a conta. No final, cheguei à conclusão que a rima é totalmente dispensável. Explico porquê.
Cada estrofe tem uma musicalidade emprestada pela leitura que flui, em si mesma, apenas pautada pelas virgulas e pontos finais. A cadência impregna o poema, dá-lhe ritmo e vida própria. Porém, ao integrarmos as rimas na leitura (apenas dois versos em cada quatro ou seis) a musicalidade e serenidade austera da poesia é afetada e alterada pela rima pontual, realçando-a e esbatendo a força das palavras, alterando a fluidez e a musicalidade do conteúdo.
E depois... quem rima "afundando-se" com "espraiando-se"???? (Hehehe). Eu, milagrosamente, não enfatizei, nem sequer reparei na rima nas primeiras leituras, pois teria perdido, se o tivesse feito, a beleza corrente e fluida do conteúdo. Peço desculpas pela crítica, mas o poema ganha muito mais se não ligarmos à rima.
Obrigado.
Gil Saraiva
Nota: Isa respondeu-me inteligentemente a ambos os comentários, porque de outra maneira não poderia ser. Porém, se querem seguir essa novela sigam o link do blog desta minha virtual e talentosa amiga.
Li no blog do sapo denominado "Um Pássaro Sem Poiso", um poema denominado "Palavras Caladas", o qual, por sua vez, ainda remete o visitante para outro poema da mesma autora, denominado "Silêncio", esse escrito nos idos de 2019. Li e comentei. Mas vamos em primeiro lugar ao poema e, por fim, ao comentário:
O silêncio é composto de ruídos abafados e palavras caladas.
Palavras que enchem de barulho o pensamento de uma boca silenciada.
Mas também palavras serenas, que tranquilizam a mente que as guarda dentro de si.
Não é possível saber.
Quem escuta o silêncio pode senti-lo, mas o que sente está em si e não no significado do silêncio.
Isa Nascimento (em 30 / 07 / 2021)
(Imagem de Isa Nascimento)
O meu comentário:
"Quem escuta o silêncio pode senti-lo, mas o que sente está em si e não no significado do silêncio." A frase da menina Isa ajuda os mais distraídos a entenderem melhor o silêncio quando o escutam, ou não, fiquei sem ter a certeza. O verso visa orientar o leitor, ajudando-o numa reflexão mais profunda do tema.
Pensei nos meus silêncios, porque são vários. Tenho aqueles que me chegam do sentir, seja pelo amor, pelo medo, pelo pânico, pela ansiedade, saudade ou espera, esses eu sinto-os e compreendo bem o significado das palavras caladas que barafustam, internamente, desabafos pelas tascas do pensamento ou que se entregam à meditação, velada de conclusões, serena ou agitada conforme a origem ou a consequência.
Todavia, o pior e mais assustador dos meus silêncios dá pelo nome de imaginação.
Esse é um monstro terrível que muitas vezes me enche o cérebro de palavras e ruídos que se acumulam e transbordam, sem, contudo, terem para onde ir. Chego a sentir os portões da insanidade a rangerem de tão cheio que tudo se encontra no espaço limitado do meu cérebro.
Ás vezes, consigo sangrar o monstro, através de palavras mudas e de ruídos que não se escutam, nas palavras que escrevo, no mais profundo silêncio, dando alguma vazão à imaginação. Se este silêncio ganhar voz nas bocas de terceiros, não serei eu quem o desfaz, mas fico bem mais aliviado.
Minha querida amiga, às vezes a Isa leva-me tão longe, amei as suas "palavras caladas" de tal forma que vou usar quase todo este comentário num desabafo de um vagabundo próximo. Divinal este seu texto, desculpe se me estiquei em demasia.
Gil Saraiva
Nota: É evidente que o meu comentário teve resposta à altura por parte de Isa (veja no blog "Pássaro Sem Poiso")
Morreu hoje, no Hospital Militar onde se encontrava internado, Otelo Saraiva de Carvalho. O homem que personificou o 25 de abril de 1974. O rosto da Revolução dos Cravos, o Poeta da Esperança Popular. O inconformado, rebelde e inexplicável Otelo Saraiva de Carvalho.
Amado por uns, odiado por outros, Otelo nunca deixou que a sua pessoa fosse indiferente. Longe disso. Foi preso no 25 de novembro, foi mais tarde condenado por ser o líder das FP-25 e condenado a 15 anos de prisão dos quais apenas cumpriu 5, por indulto de Mário Soares. Era também considerado cúmplice e mandante das barbaridades cometidas pelo COPCON. Otelo sempre negou o comando das FP-25 e sempre repudiou a culpa nos abusos praticados pelo COPCON.
Na minha romântica perspetiva, Otelo nunca foi responsável pela violência destes factos passados depois do 25 de abril. Aproveitaram-se dele, da sua imagem e da sua aura para o usarem em proveito próprio.
O cravo de abril, como lhe chamei quando o entrevistei em 1991 murchou e morreu. O Fidel Castro-Che Guevara que acreditava, com um querer genuíno e pleno de ingenuidade, na revolução e no povo não subiu mais alto nos seus sonhos de um novo Portugal porque, como dizia, lhe faltava conhecimento político, cultural e bases de aprendizagem educativa e política para fazer melhor. Porém, o que fazia tinha alma, génio e impetuosidade irreverente de quem sonha pelo povo que defende.
Àqueles que o odeiam, aos que o consideram culpado de tudo o que foi acusado no PREC e nos tempos conturbados do período pós-revolucionário, peço que respeitem a morte do poeta da revolução e que não destilem veneno sobre esta homenagem que aqui deixo. Aos outros, àqueles que o vêm como eu via, deixo o meu profundo pesar num dia triste como o de hoje. Morreu o Senhor 25 de abril, o Senhor Revolução. Paz à sua memória, glória ao cravo irreverente da liberdade sem bazucas e capital. Adeus Otelo!
Fez este mês cinquenta anos que morreu Jim Morrison, o vocalista da banda rock The Doors, mais propriamente no passado dia três. Por incrível que pareça eu lembro-me bem, sendo o mais novo de cinco irmãos (o mais velho dista doze anos de mim) desde muito cedo a música dos The Doors fez parte do meu universo musical e deixou marcas profundas nas minhas preferências musicais. Outros existiram e geraram o mesmo efeito, destaco, entre eles os The Beatles, os The Rolling Stones, Kim Crimson, Yes, Cat Stevens e mais uma infinidade de cantores e bandas dos anos sessenta e setenta.
Tenho a certeza que se tivesse conhecido Jim Morrison pesoalmente, este, por maior que fosse o meu esforço, jamais faria parte do meu lote de amigos. Demasiado alcoólico e drogado, demasiado anarquista e absolutamente imprevisível. Contudo, e há sempre um porém naquilo que é a nossa avaliação de alguém, isso não o impediu de ser um génio da múcica, alicerçado numa banda soberba. Um génio e um poeta. Ora, é a estas facetas que se dirige o meu tributo, cinquenta anos depois da morte de Jim Morrison, um monstro sagrado da música rock do século vinte.
Fotografia da Campa de Jim Morrison em Paris
Hoje, neste ributo deixo a minha tradução de um dos clássicos da banda, a música: Riders On The Sorm.
Riders On The Storm by The Doors
Cavaleiros na tempestade,
Cavaleiros na tempestade…
Nesta casa nascemos,
Ao mundo fomos lançados
Como um cão sem osso
Ou um ator emprestado.
Cavaleiros na tempestade…
Há um assassino na estrada,
De cérebro alterado,
Qual sapo esborrachado.
Aproveitem uma longa ponte
E deixem os seus filhos brincarem…
Porém, se deres boleia àquele homem
A tua doce família morrerá,
Sim!
Pelo assassino do asfalto.
Mulher,
Tu tens que amar o teu homem,
Mulher,
Tu tens que amar o teu homem!
Pega nele pela mão
E ajuda-o a entender…
Pois o mundo depende de ti
E para que a vossa vida não termine
Tu tens que amar o teu homem,
Isso sim!
Cavaleiros na tempestade,
Cavaleiros na tempestade…
Nesta casa nascemos,
Ao mundo fomos lançados
Como um cão sem osso
Ou um ator emprestado.
Cavaleiros na tempestade,
Cavaleiros na tempestade…
Cavaleiros na tempestade,
Cavaleiros na tempestade,
Cavaleiros na tempestade…
Compositores: John Densmore, Ray Manzarek, Robby Krieger e James Morrison: The Doors.
Tradução livre de Gil Saraiva
Riders On The Storm by The Doors
Pelo contibuto muito especial para a minha vida aqui fica a minha respeitosa homegem a este que foi um dos grandes vocalistas e criaticos do final do último milénio: Jim Morrison.
Inicia-se, durante este mês de junho, uma nova rubrica anunciada aqui nos Desabafos de um Vagabundo, mas que terá seguimento na Carta à Berta. Tratam-se das “Entrevistas à Mesa do Café”, todas sobre quaisquer temas, pessoas, lojas, restaurantes, monumentos ou pontos de interesse do Bairro de Campo de Ourique.
Para além de entrevistas sobre temas ou pessoas que, por algum motivo, me chamem à atenção enquanto contador de histórias do nosso bairro, estas entrevistas estão abertas a todos os que tenham uma qualquer situação de interesse a partilhar com todo o bairro. Dou um exemplo; uma geladaria do nosso bairro enfrenta sérias dificuldades para conseguir sobreviver à pandemia e corre o risco de fechar. Por intermédio de uma cliente do espaço chegou ao meu conhecimento a difícil situação que atravessa. Assim, com o acordo dos proprietários, marquei aquela que será uma das primeiras entrevistas desta rubrica.
Todos os interessados que têm algo para partilhar, mas que precisam de uma ajuda para expor uma situação, que tem obrigatoriamente de se situar dentro das fronteiras do bairro de Campo de Ourique, podem solicitar uma entrevista para o meu email: saraiva.gil@gmail.com e deixar o seu número de telemóvel para posterior contacto da minha parte. Se eu considerar que o assunto merece divulgação marcarei posteriormente uma entrevista com a pessoa para que o possa divulgar.
Não imagino sequer se esta rubrica terá muitos capítulos, mas terá os que forem precisos. Serão pelo menos duas cartas. Conforme as adesões, a rubrica terá ou não seguimento. Agradeço a todos os grupos de Campo de Ourique a divulgação destas entrevistas. A tentativa é dar voz a quem não tem tempo ou queda para pôr por escrito o que tem para contar aos outros. Obrigado.
III - A perspetiva do Market Canal - Tunga TV - Abril de 2015
IV - A perspetiva de Joana Balaguer - Julho de 2017
V - A perspetiva do Propagando Vlog - Janeiro de 2021
Rolê por Campo de Ourique. Conheça uma das melhores freguesias de Lisboa.
VI - A perspetiva da TVI - Novembro de 2015
Nota: a partilha destes vídeos está sujeita a poder ser retirada pelos autores da internet em qualquer momento e deixar de ficar acessível devido a esse facto. Alguns deles incluem publicidade o que é totalmente alheio aos Desabafos de um Vagabundo. A sequência dos vídeos da memória de Campo de Ourique irá intercalar os "Registos da Memória" atualmente em curso nos Desabafos.
II - A perspetiva inglesa do Bairro de Campo de Ourique em abril de 2019
Nota: a partilha destes vídeos está sujeita a poder ser retirada pelos autores da internet em qualquer momento e deixar de ficar acessível devido a esse facto. Alguns deles incluem publicidade o que é totalmente alheio aos Desabafos de um Vagabundo. A sequência dos vídeos da memória de Campo de Ourique irá intercalar os "Registos da Memória" atualmente em curso nos Desabafos.
I - A perspetiva brasileira do Bairro de Campo de Ourique em Novembro de 2020
Nota: a partilha destes vídeos está sujeita a poder ser retirada pelos autores da internet em qualquer momento e deixar de ficar acessível a partir desse facto. Alguns deles incluem publicidade o que é totalmente alheio aos Desabafos de um Vagabundo. A sequencia dos vídeos da memória de Campo de Ourique irá intercalar os "Registos da Memória" atualmente em curso nos Desabafos.
Brasil - Pipa – IV – Pousada da Praia do Amor (Foto de autor, direitos reservados)
Registos da Memória
IV
Brasil – Pipa
Pousada da Praia do Amor
A pequena tabuleta de madeira, por entre uma multidão de flores, anuncia o que me espera, com a simplicidade discreta de quatro palavras, por entre o verde e os fróis, numa imagem que reflete um conceito perdido pelo rebuliço urbano da Lisboa, que deixei para trás tem alguns dias. Inversamente, ali tudo convida à descontração e ao mais puro e antigo sentimento cantado por poetizas e poetas desde os primórdios até aos nossos dias, ou seja, tudo se conjuga para o amor.
Não é difícil pensar-se em amor quando o vemos escrito numa tabuleta, associado a pousada, um local onde a existência de um leito é evidente por definição e em que, ainda por cima, se evoca também a proximidade de uma praia, que se sonha idílica, pelo nome explicito e tão pouco enganador. Férias é isto mesmo, poder sonhar com aqueles instantes que mais tarde trazemos arquivados no coração, pela pureza dos momentos, pelo significado e justificação que dão à vida.
Brasil - Pipa – III – A Pousada da Praia do Amor (Foto de autor, direitos reservados)
Registos da Memória
III
Brasil – Pipa
A Pousada da Praia do Amor
Olhando o mural de azulejo, com o nariz alçado e embebido da intelectualidade própria de um crítico de cinema, seria fácil chamar de pimba ou de brega à obra de arte que anuncia a Pousada da Praia do Amor a menos de duzentos metros da mesma. Porém, por muito que pareça estranho, esta pousada onde me instalei por mais do que uma semana tem a genuinidade sambada e o carinho próprios do povo brasileiro.
Com efeito, estando próximo de tudo em Pipa e a poucos metros da famosa praia, este alojamento destinado à classe média baixa tem mais para dar do que muitos alojamentos de cinco estrelas. Dormi sempre sem mosquitos, o pequeno-almoço foi sempre à escolha do freguês, a afabilidade dos proprietários e funcionários supera, na prática, a formação ética de uma qualquer escola hoteleira de renome. Sem dúvida, um poiso a repetir.