Serve este local para tornar visível o pensamento do último dos vagabundos que conheço: EU!
Aqui ficarão registados pensamentos, crónicas, poemas, piadas, quadros, enfim, tudo o que a imaginação me permite
Serve este local para tornar visível o pensamento do último dos vagabundos que conheço: EU!
Aqui ficarão registados pensamentos, crónicas, poemas, piadas, quadros, enfim, tudo o que a imaginação me permite
Fez este mês cinquenta anos que morreu Jim Morrison, o vocalista da banda rock The Doors, mais propriamente no passado dia três. Por incrível que pareça eu lembro-me bem, sendo o mais novo de cinco irmãos (o mais velho dista doze anos de mim) desde muito cedo a música dos The Doors fez parte do meu universo musical e deixou marcas profundas nas minhas preferências musicais. Outros existiram e geraram o mesmo efeito, destaco, entre eles os The Beatles, os The Rolling Stones, Kim Crimson, Yes, Cat Stevens e mais uma infinidade de cantores e bandas dos anos sessenta e setenta.
Tenho a certeza que se tivesse conhecido Jim Morrison pesoalmente, este, por maior que fosse o meu esforço, jamais faria parte do meu lote de amigos. Demasiado alcoólico e drogado, demasiado anarquista e absolutamente imprevisível. Contudo, e há sempre um porém naquilo que é a nossa avaliação de alguém, isso não o impediu de ser um génio da múcica, alicerçado numa banda soberba. Um génio e um poeta. Ora, é a estas facetas que se dirige o meu tributo, cinquenta anos depois da morte de Jim Morrison, um monstro sagrado da música rock do século vinte.
Fotografia da Campa de Jim Morrison em Paris
Hoje, neste ributo deixo a minha tradução de um dos clássicos da banda, a música: Riders On The Sorm.
Riders On The Storm by The Doors
Cavaleiros na tempestade,
Cavaleiros na tempestade…
Nesta casa nascemos,
Ao mundo fomos lançados
Como um cão sem osso
Ou um ator emprestado.
Cavaleiros na tempestade…
Há um assassino na estrada,
De cérebro alterado,
Qual sapo esborrachado.
Aproveitem uma longa ponte
E deixem os seus filhos brincarem…
Porém, se deres boleia àquele homem
A tua doce família morrerá,
Sim!
Pelo assassino do asfalto.
Mulher,
Tu tens que amar o teu homem,
Mulher,
Tu tens que amar o teu homem!
Pega nele pela mão
E ajuda-o a entender…
Pois o mundo depende de ti
E para que a vossa vida não termine
Tu tens que amar o teu homem,
Isso sim!
Cavaleiros na tempestade,
Cavaleiros na tempestade…
Nesta casa nascemos,
Ao mundo fomos lançados
Como um cão sem osso
Ou um ator emprestado.
Cavaleiros na tempestade,
Cavaleiros na tempestade…
Cavaleiros na tempestade,
Cavaleiros na tempestade,
Cavaleiros na tempestade…
Compositores: John Densmore, Ray Manzarek, Robby Krieger e James Morrison: The Doors.
Tradução livre de Gil Saraiva
Riders On The Storm by The Doors
Pelo contibuto muito especial para a minha vida aqui fica a minha respeitosa homegem a este que foi um dos grandes vocalistas e criaticos do final do último milénio: Jim Morrison.
Brasil - Pipa – IV – Pousada da Praia do Amor (Foto de autor, direitos reservados)
Registos da Memória
IV
Brasil – Pipa
Pousada da Praia do Amor
A pequena tabuleta de madeira, por entre uma multidão de flores, anuncia o que me espera, com a simplicidade discreta de quatro palavras, por entre o verde e os fróis, numa imagem que reflete um conceito perdido pelo rebuliço urbano da Lisboa, que deixei para trás tem alguns dias. Inversamente, ali tudo convida à descontração e ao mais puro e antigo sentimento cantado por poetizas e poetas desde os primórdios até aos nossos dias, ou seja, tudo se conjuga para o amor.
Não é difícil pensar-se em amor quando o vemos escrito numa tabuleta, associado a pousada, um local onde a existência de um leito é evidente por definição e em que, ainda por cima, se evoca também a proximidade de uma praia, que se sonha idílica, pelo nome explicito e tão pouco enganador. Férias é isto mesmo, poder sonhar com aqueles instantes que mais tarde trazemos arquivados no coração, pela pureza dos momentos, pelo significado e justificação que dão à vida.
Brasil - Pipa – III – A Pousada da Praia do Amor (Foto de autor, direitos reservados)
Registos da Memória
III
Brasil – Pipa
A Pousada da Praia do Amor
Olhando o mural de azulejo, com o nariz alçado e embebido da intelectualidade própria de um crítico de cinema, seria fácil chamar de pimba ou de brega à obra de arte que anuncia a Pousada da Praia do Amor a menos de duzentos metros da mesma. Porém, por muito que pareça estranho, esta pousada onde me instalei por mais do que uma semana tem a genuinidade sambada e o carinho próprios do povo brasileiro.
Com efeito, estando próximo de tudo em Pipa e a poucos metros da famosa praia, este alojamento destinado à classe média baixa tem mais para dar do que muitos alojamentos de cinco estrelas. Dormi sempre sem mosquitos, o pequeno-almoço foi sempre à escolha do freguês, a afabilidade dos proprietários e funcionários supera, na prática, a formação ética de uma qualquer escola hoteleira de renome. Sem dúvida, um poiso a repetir.
Brasil - Pipa – II – Praia do Amor - Foto de autor, direitos reservados)
Registos da Memória
II
Brasil – Pipa
Praia do Amor
A tabuleta não engana. A Praia do Amor fica na direção indicada e é um pequeno refúgio de areia entre rochas, a condizer com a própria tabuleta. Para lá chegar, como não podia deixar de ser, é preciso ir imbuído do verdadeiro espírito do amor e ainda ter alguma elasticidade nas pernas e equilíbrio, pois a descida faz-se por um caminho de rochas que obrigam a algum cuidado (que aumenta com a idade).
É claro que os jovens galgam a encosta com uma perna às costas e descem-na com a outra, mas este grupo etário não vai só atrás do amor, vai a ser conduzido pelas garras da paixão e o cheiro a erotismo mais ou menos descarado, dependendo dos ímpetos, de que pode vir a desfrutar nalguns dos recantos da dita praia. O mar é agitado por ali, embora não sendo perigoso, vem banhado pela espuma das ondas excitadas com a chegada à Praia do Amor. Um bar de apoio e alguns chapéus-de-sol para sombra, em tons de amarelo torrado, de verde bem vivo e um ou outro azul, completam o ar tropical, nordestino e “caliente” desta praia.
Os mais velhos protegem-se dos raios mais fortes do sol, sentados nas cadeiras brancas que o bar põe à disposição, protegidos pelos guarda-sóis. Porém, a água é o reino das pranchas de bodyboard e de surf, onde os heróis desafiam Neptuno, para gáudio das meninas que assistem da praia. Por toda a parte se sentem as hormonas que parecem despertas pelo nome sugestivo da praia. Quem não se puser a espreitar cada recanto, junto às rochas, poderá ficar na dúvida quanto ao porquê do nome praia do amor, agora se tiver atenção, já precisa de algum calo para não ruborescer. É tudo isto que a tabuleta indica na sua simplicidade despretensiosa, quase que desprendida do verdadeiro significado do amor. Afinal, o amor fica para aquele lado…
(Brasil - Nordeste – X – Pipa– O Bar-Restaurante - Foto de autor, direitos reservados)
Registos da Memória
X
Brasil – Nordeste
Pipa – O Bar-Restaurante
Antecipando os próximos registos da Memória que serão sobre Pipa, no Nordeste brasileiro, porque enquadrados num outro ano e noutra viagem, não poderia deixar de incluir aqui, nestes registos da memória, algo que achei importante guardar da visita relâmpago que fiz a Pipa durante a minha estadia na Ponta do Madeiro.
Com efeito, se Salvador Dali, alguma vez tivesse sido proprietário de um bar-restaurante e, por isso mesmo, o tivesse querido construir à sua imagem e semelhança, este que hoje aqui apresento, seria, sem qualquer dúvida, bem semelhante ao criado pelo grande Mestre da Pintura Mundial. O surrealismo do local, lembra o mestre em todo o seu esplendor. A forma impressionante como as imagens brotam das paredes e se misturam com toda a decoração só pode ser uma homenagem ao génio da pintura, representada por alguém com um profundo conhecimento da arte do inspirador deste espaço de lazer e cultura.
O bar criado algures por volta do ano de 2006, já necessita de alguns retoques na pintura para manter vivo o espírito surrealista de que se encontra embebido, contudo, ainda consegue surpreender o visitante pela forma como a pintura ganha a sua terceira dimensão, não apenas nos baixos relevos de paredes, muros e balcões, mas pela mobília escolhida a dedo para se integrar nesta disposição única e singular de arrojo e originalidade.
Situado no centro turístico de Pipa chama a atenção, em primeiro lugar pelo surrealismo evidente e depois pelo menu, não menos surreal. Se não refiro o nome do espaço é não apenas porque é irrelevante, mas porque, caso visite a estância balnear, não tem como não dar por ele e descobrir tudo por si. Pipa tem tudo isso a propor a quem a visita, romantismo, surrealismo, oceano, paisagem, povo, ambiente e amor.
Gil Saraiva
(Brasil - Nordeste – X – Pipa– O Bar-Restaurante b - Foto de autor, direitos reservados)
(Brasil - Nordeste – IX – Ponta do Madeiro – Piscina e Bar - Foto de autor, direitos reservados)
Registos da Memória
IX
Brasil – Nordeste
Ponta do Madeiro – Piscina e Bar
Do ponto onde me encontrava a tirar esta fotografia apanhei, sem querer, o oceano, por entre as árvores, para lá da falésia. Fiquei satisfeito com o resultado. Afinal, não fora com intenção que registara os três azuis, oceano, céu e piscina. O registo era o do bar, por de baixo de um telhado de colmo, com os bancos do balcão dentro de água.
Uma comodidade da qual fiz uso e abuso durante toda a minha estadia ali, no Hotel Ponta do Madeiro, na zona de Tibau Sul, no Nordeste Brasileiro a Sul de Natal. O prazer de estar sentado dentro de água, encostado ao balcão, em conversas de circunstância e a beber um «chopo» (aquilo a que nós por cá chamamos de imperial ou de fino, dependendo da região do país), ainda hoje me vem à mente com saudades e alguma nostalgia associada.
Sentir o ar nas costas a queimar o dorso, enquanto o corpo se refresca sentado dentro de água e apoiado pelos cotovelos num balcão de bar, é uma daquelas imagens, do tipo que vemos nos filmes, a que normalmente associamos a paraíso. Não é assim tão estranho porque, afinal, estar ali representa despreocupação em relação ao passado, relaxe simples e sereno no presente e nenhuma apreensão em relação ao futuro. O jogo de luz, na quase totalidade da piscina, acompanhado pela sombra tépida da área do bar, fazem qualquer matemático pensar que a natureza é bem mais bonita do que meros cálculos abstratos e sem significado paisagístico, muito maior, por evidência lógica, é esse efeito num romântico inveterado que destila poesia apenas porque é muito bom ser feliz.
(Brasil - Nordeste – VIII – Ponta do Madeiro – Pétala de Rosa - Foto de autor, direitos reservados)
Registos da Memória
VIII
Brasil – Nordeste
Ponta do Madeiro – Pétala de Rosa
Por entre o arvoredo dou conta de que algo se move no céu, bem por cima de mim. Na esperança de ver alguma das três ou quatro aves de rapina que costumam sobrevoar a Ponta do Madeiro e que ainda ando a tentar identificar, embora esteja quase certo que duas delas são águias brasileiras, que dão pelo nome de carcará, e uma outra me pareça uma das espécies de gaviões da região, contudo, acho que a última se assemelha, assim à distância, a um urubu, porém, ao olhar, armado em observador de passarada, dou com um parapente, disfarçado de pétala rosa, de uma rosa bem rosada, a desfrutar da brisa, navegando suavemente, como que saído das nuvens, rumo à eternidade.
O verde carregado das árvores, o céu azul a nascer clarinho e a subir, «ton sur ton» (como se diz por terras de França), até um azul mais pesado, enquadram quase que surrealmente o vistoso parapente, que navega, lá no alto, completamente indiferente aos meus pensamentos maravilhados com a descoberta ocasional. Por momentos deixo-me levar pelo voo do parapente e imagino a paisagem que lá de cima se vislumbrará. Os contornos da mata atlântica, das dunas e das terras áridas em contraste com a margem branca do oceano a desaguar azul na areia das praias e nas escarpas das falésias deve ser uma visão magnifica, digna de um registo da memória. Sorri…
(Brasil - Nordeste – VII – Ponta do Madeiro – As Flores - Foto de autor, direitos reservados)
Registos da Memória
VII
Brasil – Nordeste
Ponta do Madeiro – As Flores
Já referi nestes registos da memória o meu espanto e admiração pela flora da Ponta do Madeiro, principalmente nos jardins e espaços verdes sob a responsabilidade do hotel. Contudo, sem mostrar um pouco daquilo a que me refiro, fica uma sensação estranha de vazio e é essa a razão da fotografia de hoje. Sem exagerar, posso garantir que nestes espaços verdes contabilizei umas trinta e duas espécies de flores que eu desconhecia inteiramente.
Porém, o mais interessante no arranjo e distribuição da flora e das flores em particular nas áreas exteriores deste hotel localizado no Nordeste do Brasil, no Estado de Rio Grande do Norte, na região de Tibau Sul, perto de Natal, mais propriamente na Ponta do Madeiro, tem a preocupação de parecer natural, quase como se o estado selvagem ou silvestre de flores e plantas pudesse ser igualmente encontrado no exterior com o mesmo tipo de ordenamento e distribuição. Fazer um jardim parecer natural é, apesar de tudo, uma arte difícil de levar a cabo, mas que aqui é conseguida plenamente.
Paradoxalmente, as abelhas e as vespas, que se vêm nos jardins, parecem desinteressadas dos hóspedes humanos e nunca me senti incomodado pela sua presença durante toda a estadia no local. Embora o ambiente seja extremamente romântico, só o facto de eu ter sido levado a reparar nas flores, coisa a que não costumo dar grande relevância, é indicativo do seu impacto no conjunto harmonioso da paisagem. Aqui, fica a sensação de que Cupido, secretamente, aqui implantou uma parte do seu reino de amor. Se vier ao Hotel da Ponta do Maneiro, um dia, nas suas viagens, venha de espírito e coração prontos para entregar a alma ao amor…
Gil Saraiva
(Brasil - Nordeste – VII b – Ponta do Madeiro – As Flores - Foto de autor, direitos reservados)
(Brasil - Nordeste – VI – Ponta do Madeiro – O Sagui - Foto de autor, direitos reservados)
Registos da Memória
VI
Brasil – Nordeste
Ponta do Madeiro – O Sagui
Os jardins do Hotel Ponta do Madeiro são fabulosos pela diversidade de plantas e flores. Estando ao ar livre, junto à piscina, deitado numa espreguiçadeira, faz confusão à mente como é possível conseguir sentir no ar o aroma adocicado das flores a envolverem-nos com inúmeras fragrâncias tropicais, desconhecidas da memória de um europeu como eu. A relva bem aparada, as plantas murando a falésia e acompanhando a sua descida até à praia. Os arbustos como que desordenados, mas harmoniosamente ligando as árvores a todo o jardim.
A primeira vez que dei pelos saguis estava precisamente numa rede, deitado, na varanda do quarto, a olhar para o mar e a comer um pacote de amendoins, que poisara em cima de uma pequena mesa vermelha, que mais parecia um banco, ao lado da rede. No colo tinha a máquina fotográfica, pois estivera entretido a fotografar quatro aves de rapina, que me pareciam ser mais próprias do Andes, pois eram semelhantes ao condor. Contudo, estava certo disso, deviam ser águias em busca de almoço grátis. Jogara, a dada altura, a mão ao pacote de amendoins e este já lá não estava. Vi-o no chão, logo no momento seguinte. No canto da mesinha vermelha um sagui deliciava-se a abrir um amendoim e a comê-lo como se eu, ali bem perto, fosse mais um ornamento decorativo do que uma pessoa.
No chão, junto ao pacote, outros três saguis tinham subtraído, cada um deles, mais um amendoim e encontravam-se na fase de os abrirem. O que estava no canto do banco ia mais adiantado. Já devorara um amendoim e ia a meio do segundo. Com algum vagar peguei na máquina fotográfica e iniciei uma sessão de fotografias aos convidados penetras da minha varanda. O sagui do banco devia ser o macho alfa. Com um penteado à Einstein parecia indiferente ao facto de estar a devorar o que não lhe pertencia. Pensei que a teoria da relatividade se aplicava ao animal. Para ele era relativo que os amendoins fossem meus.
E=mc², ou seja, a sua energia diária era igual ao que comia multiplicada pela velocidade ao quadrado com que se aproveitava dos alimentos do incauto turista, no caso eu. Sorri para o meu Einstein. Para ele, o pacote dos amendoins fora uma oferta, senão porque estaria ali, assim, à disposição? Dei-lhe razão. Fora uma oferta. Terminado o pacote e devorado o seu conteúdo até ao último amendoim quer o alfa, quer os seus vassalos, abandonaram a varanda e desapareceram por entre a folhagem das árvores e dos arbustos. Sorri, tivera que ir ao brasil para conhecer Einstein. Estava deslumbrado com o acontecimento…