Serve este local para tornar visível o pensamento do último dos vagabundos que conheço: EU!
Aqui ficarão registados pensamentos, crónicas, poemas, piadas, quadros, enfim, tudo o que a imaginação me permite
Serve este local para tornar visível o pensamento do último dos vagabundos que conheço: EU!
Aqui ficarão registados pensamentos, crónicas, poemas, piadas, quadros, enfim, tudo o que a imaginação me permite
(Brasil - Nordeste – VIII – Ponta do Madeiro – Pétala de Rosa - Foto de autor, direitos reservados)
Registos da Memória
VIII
Brasil – Nordeste
Ponta do Madeiro – Pétala de Rosa
Por entre o arvoredo dou conta de que algo se move no céu, bem por cima de mim. Na esperança de ver alguma das três ou quatro aves de rapina que costumam sobrevoar a Ponta do Madeiro e que ainda ando a tentar identificar, embora esteja quase certo que duas delas são águias brasileiras, que dão pelo nome de carcará, e uma outra me pareça uma das espécies de gaviões da região, contudo, acho que a última se assemelha, assim à distância, a um urubu, porém, ao olhar, armado em observador de passarada, dou com um parapente, disfarçado de pétala rosa, de uma rosa bem rosada, a desfrutar da brisa, navegando suavemente, como que saído das nuvens, rumo à eternidade.
O verde carregado das árvores, o céu azul a nascer clarinho e a subir, «ton sur ton» (como se diz por terras de França), até um azul mais pesado, enquadram quase que surrealmente o vistoso parapente, que navega, lá no alto, completamente indiferente aos meus pensamentos maravilhados com a descoberta ocasional. Por momentos deixo-me levar pelo voo do parapente e imagino a paisagem que lá de cima se vislumbrará. Os contornos da mata atlântica, das dunas e das terras áridas em contraste com a margem branca do oceano a desaguar azul na areia das praias e nas escarpas das falésias deve ser uma visão magnifica, digna de um registo da memória. Sorri…
(Brasil - Nordeste – VII – Ponta do Madeiro – As Flores - Foto de autor, direitos reservados)
Registos da Memória
VII
Brasil – Nordeste
Ponta do Madeiro – As Flores
Já referi nestes registos da memória o meu espanto e admiração pela flora da Ponta do Madeiro, principalmente nos jardins e espaços verdes sob a responsabilidade do hotel. Contudo, sem mostrar um pouco daquilo a que me refiro, fica uma sensação estranha de vazio e é essa a razão da fotografia de hoje. Sem exagerar, posso garantir que nestes espaços verdes contabilizei umas trinta e duas espécies de flores que eu desconhecia inteiramente.
Porém, o mais interessante no arranjo e distribuição da flora e das flores em particular nas áreas exteriores deste hotel localizado no Nordeste do Brasil, no Estado de Rio Grande do Norte, na região de Tibau Sul, perto de Natal, mais propriamente na Ponta do Madeiro, tem a preocupação de parecer natural, quase como se o estado selvagem ou silvestre de flores e plantas pudesse ser igualmente encontrado no exterior com o mesmo tipo de ordenamento e distribuição. Fazer um jardim parecer natural é, apesar de tudo, uma arte difícil de levar a cabo, mas que aqui é conseguida plenamente.
Paradoxalmente, as abelhas e as vespas, que se vêm nos jardins, parecem desinteressadas dos hóspedes humanos e nunca me senti incomodado pela sua presença durante toda a estadia no local. Embora o ambiente seja extremamente romântico, só o facto de eu ter sido levado a reparar nas flores, coisa a que não costumo dar grande relevância, é indicativo do seu impacto no conjunto harmonioso da paisagem. Aqui, fica a sensação de que Cupido, secretamente, aqui implantou uma parte do seu reino de amor. Se vier ao Hotel da Ponta do Maneiro, um dia, nas suas viagens, venha de espírito e coração prontos para entregar a alma ao amor…
Gil Saraiva
(Brasil - Nordeste – VII b – Ponta do Madeiro – As Flores - Foto de autor, direitos reservados)
(Brasil - Nordeste – VI – Ponta do Madeiro – O Sagui - Foto de autor, direitos reservados)
Registos da Memória
VI
Brasil – Nordeste
Ponta do Madeiro – O Sagui
Os jardins do Hotel Ponta do Madeiro são fabulosos pela diversidade de plantas e flores. Estando ao ar livre, junto à piscina, deitado numa espreguiçadeira, faz confusão à mente como é possível conseguir sentir no ar o aroma adocicado das flores a envolverem-nos com inúmeras fragrâncias tropicais, desconhecidas da memória de um europeu como eu. A relva bem aparada, as plantas murando a falésia e acompanhando a sua descida até à praia. Os arbustos como que desordenados, mas harmoniosamente ligando as árvores a todo o jardim.
A primeira vez que dei pelos saguis estava precisamente numa rede, deitado, na varanda do quarto, a olhar para o mar e a comer um pacote de amendoins, que poisara em cima de uma pequena mesa vermelha, que mais parecia um banco, ao lado da rede. No colo tinha a máquina fotográfica, pois estivera entretido a fotografar quatro aves de rapina, que me pareciam ser mais próprias do Andes, pois eram semelhantes ao condor. Contudo, estava certo disso, deviam ser águias em busca de almoço grátis. Jogara, a dada altura, a mão ao pacote de amendoins e este já lá não estava. Vi-o no chão, logo no momento seguinte. No canto da mesinha vermelha um sagui deliciava-se a abrir um amendoim e a comê-lo como se eu, ali bem perto, fosse mais um ornamento decorativo do que uma pessoa.
No chão, junto ao pacote, outros três saguis tinham subtraído, cada um deles, mais um amendoim e encontravam-se na fase de os abrirem. O que estava no canto do banco ia mais adiantado. Já devorara um amendoim e ia a meio do segundo. Com algum vagar peguei na máquina fotográfica e iniciei uma sessão de fotografias aos convidados penetras da minha varanda. O sagui do banco devia ser o macho alfa. Com um penteado à Einstein parecia indiferente ao facto de estar a devorar o que não lhe pertencia. Pensei que a teoria da relatividade se aplicava ao animal. Para ele era relativo que os amendoins fossem meus.
E=mc², ou seja, a sua energia diária era igual ao que comia multiplicada pela velocidade ao quadrado com que se aproveitava dos alimentos do incauto turista, no caso eu. Sorri para o meu Einstein. Para ele, o pacote dos amendoins fora uma oferta, senão porque estaria ali, assim, à disposição? Dei-lhe razão. Fora uma oferta. Terminado o pacote e devorado o seu conteúdo até ao último amendoim quer o alfa, quer os seus vassalos, abandonaram a varanda e desapareceram por entre a folhagem das árvores e dos arbustos. Sorri, tivera que ir ao brasil para conhecer Einstein. Estava deslumbrado com o acontecimento…
(Brasil - Nordeste – V – Ponta do Madeiro – A Praia - Foto de autor, direitos reservados)
Registos da Memória
V
Brasil – Nordeste
Ponta do Madeiro – A Praia
A Praia da Ponta do Madeiro tem um único acesso direto, uma escadaria, com patamares, que só se consegue aceder atravessando a propriedade do hotel com o mesmo nome, descendo os 196 degraus que acompanham a falésia, acedendo finalmente ao areal. Mais perto da água uma fila de guarda-sóis azuis marca a linha da maré que quando cheia se espuma a dois metros das espreguiçadeiras. Mais atrás ficam os chapéus de colmo, mais perto da arriba verdejante, de um verde carregado porque muito húmido e fértil. O bar fica logo ao lado, a metros da enorme escadaria.
Bem ao fundo é possível ver outro resort, que explora a Praia do Madeiro. O oceano, pintado a duas cores, banha a areia de um branco imaculado que se torna creme, a vários tons, pelo molhado das linhas da maré desenhadas no areal que acompanha toda a falésia entre praias. Das cores do oceano o branco predomina na margem, pelo quebrar de uma ondulação rasteira na areia da praia, quanto ao azul, predominam quatros tons cheios de significado e tingidos pela experiência dos séculos.
O mais escuro previne os banhistas da presença de rochas submersas ou de pequenos lençóis de algas por baixo da ondulação. O mais claro é sinal evidente de que o chão está perto e é possível ficar em pé na água. Os tons intermédios acusam profundidade onde no mais suave dos dois se nada, sem pé, com segurança e no outro fica um aviso de correntes firmes, que só devem ser frequentadas por nadadores entendidos na arte de bem nadar em toda a costa, porque este é um oceano amigo, que gosta de receber quem vem para se banhar nas suas águas, sem ambiguidades ou falsos avisos malandros que seriam incompreensíveis.
A areia da praia tem a finura de uma farinha consistente, que não chega ao pó, mas que ajuda os pés de quem passeia a se enterrarem facilmente, protegendo-os do calor da areia por vezes escaldante em demasia. Toda a natureza parece feita para prestar uma vassalagem hospitaleira a quem aqui chega, dando ao veraneante uma dimensão real do significado de plenitude. Brasil, Nordeste, Tibau Sul, Ponta do Madeiro, um resort digno de figurar nos mais prestigiados destinos do turismo mundial.
É um crime o que esta pandemia nos obriga a perder. O ser humano é um bicho social em movimento, quando confinado definha, murcha e perde-se com a ausência do sorriso dos rostos, por detrás de máscaras que nos roubam a felicidade e nos empurram para estados de medo, ansiedade e depressão. Que este filme de horrores, doença, desemprego, agonia e morte acabe logo. Deixo um beijo,
(Brasil - Nordeste – IV – Ponta do Madeiro – A Luz - Foto de autor, direitos reservados)
Registos da Memória
IV
Brasil – Nordeste
Ponta do Madeiro – A Luz
No Brasil, mais propriamente no Nordeste, entre Tibau Sul e Pipa, fica localizada a Ponta do Madeiro, que possuiu um hotel com o mesmo nome e que oferece, a quem nele se instala, um pouco do paraíso, por uns dias, que certamente lhe ficaram na memória registados.
O acesso à praia é acessível por uma falésia, através de uma escadaria, com patamares que servem de miradouros, até uma praia maravilhosa com apoio de bar e duche, onde, não raramente, se encontram tartarugas de grande porte ou vêm golfinhos nadando ao largo.
Nas instalações do hotel, o terreno envolvente é o que mais chama a atenção, não apenas pelo exotismo das flores, ou pelos jardins primorosamente cuidados, mas também, pela piscina com apoio de bar, pelo serviço de massagem em tenda aberta, como pelos saguis que se passeiam com a confiança de quem se sente dono do pedaço. Não sendo eu um apreciador de toda a comida brasileira devo dizer que fiquei deliciado com o requinte dos pratos no restaurante do hotel.
Todavia, já nem falando da paisagem de deixar qualquer um de boca aberta, aquilo que mais me tocou foi a luz do lugar. O Sol parece divertido em brincar às escondidas com o arvoredo, aparecendo maroto, em todo o seu brilho e pujança em cada aberta que consegue encontrar. A luz torna-se intensa, radiante, transformando o verde em negro quando se intromete entre árvores ou arbustos altos, tal é a sua intensidade. Amei este local de cores vivas, de gente alegre, de paisagens de cortar a respiração, de comida deliciosa, contudo, quem me cativou a alma foi a luz, uma luz vinda diretamente de um sonhado paraíso…
(Brasil - Nordeste – III – Ponta do Madeiro - Foto de autor, direitos reservados)
Registos da Memória
III
Brasil – Nordeste
O Dragão da Ponta do Madeiro
Descendo de Tibau Sul a caminho de Pipa, situa-se, junto à costa o Hotel Ponta do Madeiro, que herdou o nome ao seu local de instalação. Descendo a escarpa, pelas escadas que parecem conduzir à eternidade, uma praia imensa chama por quem por ali passa, faz uma enorme baia, como que apontando o caminho para o Santuário Ecológico de Pipa mais ao fundo, onde as tartarugas sabem que estão em paz, quando sobem pela praia para desovar, quase parecendo ter o conhecimento concreto de que os seus ovos ficam protegidos de predadores animais ou humanos. Aliás, também é proibido apanhar tartarugas em toda a baía, bem como golfinhos que por ali nadam livremente, sem a preocupação de terem de fugir do bicho homem.
Da Ponta do Madeiro, não sei porquê, é sempre fácil ver nuvens carregadas na baía, porém, todas elas se mantêm à distância, embelezando a paisagem, sem nunca se aproximarem do local. Vejo-as muitas vezes sobre a zona que penso ser a do santuário, ganhando formas de animais difusos e gigantescos que parecem querer proteger toda a reserva. Um dia contornei uma dessas nuvens numa fotografia que tirei. Parecia-me um dragão nos céus zelando pelos pequenos animais dispersos entre a terra e o mar, sejam saguis, tartarugas ou golfinhos.
Os 196 degraus da escada que desce a falésia da Ponta do Madeiro até à praia, com serviço de bar e alguns confortos muito humanos, para que se possa disfrutar a natureza, podem não ser os 250 da outra escada na praia do madeiro, que fica mais a sul, mas, se não fossem os patamares ao longo do regresso, em que se pode parar e desfrutar da paisagem, eram coisa para se fazer uma única vez. Assim, com as paragens, nem damos conta do quando se subiu. Para trás fica o meu dragão imaginário com a sua língua de fogo, por entre as nuvens, intimidando possíveis meliantes. Fiquei com pena de desenhar o meu lendário guardião numa fotografia tão deslumbrante, pelo que mantive uma cópia original. Quem olhar, estou certo que verá o meu dragão…
Gil Saraiva
(Brasil - Nordeste – III b – Ponta do Madeiro - Foto de autor, direitos reservados)
(Brasil - Nordeste – II - Natal – O Cajueiro de Pirang- Foto de autor, direitos reservados)
Registos da Memória
II
Brasil – Nordeste
Natal – O Cajueiro de Pirangi
O Cajueiro de Pirangi é uma árvore gigante ou melhor dizendo, gigantesca, que se encontra situada na praia de Pirangi do Norte, no Município de Parnamirim, a 12 quilómetros a sul de Natal, a magnífica capital Sol e do Estado Brasileiro do Rio Grande do Norte, que envolve uma superfície de cerca de 8.500 metros quadrados, com um perímetro aproximado de 500 metros, da qual resulta, quando da safra, 70 a 80 mil cajus, o que ronda as 2,5 toneladas. Este gigante único equivale a 70 cajueiros normais e foi inscrita no “Guinness Book os Records” em 1994, depois dos peritos terem efetivamente comprovado que se tratava de uma única árvore.
Com efeito, a natureza adaptou-se perfeitamente à região. O cajueiro, em vez de crescer em direção ao céu, como é normal, devido à criação própria de uma mutação genética, cresceu para os lados e foi-se expandindo. Porém, o peso da ramagem cada vez maior obrigava os ramos a acabarem por tocar no solo e o cajueiro, mais uma vez, inventou outra mutação, criando raízes em cada ponto onde os seus ramos atingiam o chão e daí partindo para novos horizontes, repetindo sequencialmente o mesmo método.
Os especialistas do Guinness contrataram cientistas próprios para terem a certeza de que continuava a tratar-se da mesma árvore, já que não existe outra assim, e, pela sequenciação do genoma, a prova final não deixou dúvidas à equipa científica de se tratar tudo de uma única árvore, ou seja, esta não era apenas uma única árvore como é também um cajueiro único. O velho Darwin é que tinha razão, a natureza adapta-se para sobreviver e em seguida para prosperar.
Este exemplo vivo do engenho e da arte da vida, ajuda-nos a entender como evoluíram animais e plantas em ambientes que à partida lhes eram ou se tornaram adversos. Uma nota engraçada é que a população autóctone chama a um dos cinco ramos que partem do cajueiro pelo nome ternurento de “salário mínimo”. Tudo porque este, ao tocar no solo, não continuou a sua expansão para novos destinos.
É com saudades que me lembro de Natal, onde inclusivamente já tive um apartamento, uma terra única de Sol, onde este se mostra o ano inteiro entre 11 horas e 45 mitunos a 12 horas e meia, por cada dia, e onde as temperaturas, durante as quatro estações, se situam entre os 22 graus de mínima e o 32 graus de máxima, raramente ultrapassando estes valores, em qualquer dos sentidos. Natal, cidade fundada no dia de Natal de 1599, há já 422 anos é ainda um dos paraísos da Terra, queira o Homem mantê-lo e preservá-lo para futuras gerações...
Gil Saraiva
((Brasil - Nordeste – II (a/b) - Natal – O Cajueiro de Pirang- Foto de autor, direitos reservados)
(Brasil - Nordeste - Tibau Sul – I - Foto de autor, direitos reservados)
Registos da Memória
I
Brasil – Nordeste
Tibau Sul – Foz dos Rios Jacu e Santo Alberto - Lagoa das Guaraíras - O banho
Este pôr-do-sol em Tibau Sul, junto à foz dos rios Jacu e Santo Alberto, no Nordeste brasileiro, no ponto em que estes cursos de água se encontram com o Atlântico, não é um lugar imaginário montado para um filme realizado no paraíso. É sim, em vez disso, um sítio a não perder para quem se passeia pelas bandas do Nordeste, que dá pelo nome de Lagoa das Guaraíras, seja ao sabor de uma caipirinha, seja a beber um chope (que seria o mesmo que em Portugal beber uma imperial ou um fino), seja apenas o local escolhido para o romance ou para nos deliciarmos com a magnificência da natureza no seu estado mais perfeito.
Uma combinação perfeita entre o homem e o mundo que o rodeia, sem que nenhum tenha intenção ou vontade de ofender o outro. As palmeiras no topo da escarpa, ao entardecer, ganhando tons de negro no topo da falésia, lembram filmes de piratas transportando, à chegada do crepúsculo, o saque feito em pleno Atlântico, porque a água serena do rio parece tisnada de azuis e negros, numa tentativa de ajudar os meliantes a esconder o baú das relíquias saqueadas.
Mas a imaginação pode variar para outras aventuras mais novelescas, como o aproximar dos dois vultos que se banham na água ao pôr-do-sol, depois de mergulharem ali, na lagoa, deixando o barco no meio da passadeira de água que, sem ter pressa, se apresentou serena na foz, para beijar o Atlântico uma vez mais. Ao fundo, por entre nuvens baixas, um pôr-do-sol continua a sua marcha lenta a caminho de outras bandas, enquanto a lagoa, mais perto brilha de negro, de azuis e de doirado incentivando ao amor desse casal que no seu leito parece querer fazer a cama…