PARTE III
RETRATOS
"OS SONETOS DO SONHO" ou
"O SORTILÉGIO DO AMOR"
I
“QUADRO DA BAHIA”
No calor amarelo da Bahia,
Passo eu Lua-de-mel inesquecível,
Perdido nessa carne apetecível
Num rodízio de amor e de alegria…
Damos na praia as mãos e vibra o dia,
A água à rocha dá beijo impossível,
Conversa a aragem em tons de invisível,
Respondem as palmeiras por magia…
Já tem três milhões de almas Salvador
E nós somos só duas de passagem,
Mais dois pontos num quadro da paisagem…
Respiramos o povo e somos cor,
No mercado modelo ou pelourinho
Somos da cor do mel, cachaça e vinho…
Haragano, o Etéreo in Portaló
(Gil Saraiva)
XII
“DESPEDIDA”
No Hotel Portaló o ser se reparte
Qual afago, festa ou cafuné,
De chalé em chalé
Cultura é baluarte
Que à natureza se mistura
Com engenho…
Quem chega,
Chega a um mundo à parte;
Quem parte
Não esquece o desempenho
De quem
O acolheu naquele hotel,
De quem
Lhe deu guarida,
Deu quartel,
Deu nova vida…
Portaló não é porta,
É como um véu,
Passar por ele só importa
Para quem quer ficar perto do céu…
Quem parte
Leva natura e arte
Quem chega
Tem saudades quando parte…
Haragano, o Etéreo in Portaló
(Gil Saraiva)
XI
“CHALÉ FERNANDO PESSOA”
Aqui, no Portaló, em Tinharé,
Longe de Paris, Rio ou Lisboa,
A vida, qual sorriso de um bebé,
Segue calma, simples e tão boa…
“Tudo vale a pena”… A forma é pura,
A prosa à poesia dá frescura
Com aromas de ser e de natura,
Neste espaço feito luz e cor…
Cada chalé tem nome de poeta ou de um escritor,
Cada chalé tem um coração, tem um sentir,
Tem paz, tranquilidade e tem amor,
Tem essência, alma e existir…
A pena é verde aqui, como a mata atlântica
E a palavra é barco, galeão, canoa,
É terra que floresce de romântica…
Em Fernando Pessoa
Me instalei meia quinzena,
E me senti um Rei, sem ter a coroa,
De um quinto império sem arena…
Fiquei por Portaló enamorado,
E pelos versos de Pessoa eu inspirado
Entendi, então, de forma plena,
O que vale ter a alma não pequena…
Haragano, o Etéreo in Portaló
(Gil Saraiva)
IX
“EPOPEIA”
Neste hotel de nome Portaló,
Somos como a aranha em sua teia,
Somos o guardião de uma baleia
Num quarto baptizado Moby Dick…
Só importa a quem cá fique
Instalado na encosta,
Saber daquilo que gosta,
Porque aqui não há despique…
No Morro de S. Paulo,
Em Portaló,
Ilha de Tinharé,
Terra de verde e pó,
Banhada de fé,
De azul, de céu e de águas,
Onde o passado em tempos
Lavou mágoas,
Por entre aromas tropicais
E de café,
Olhando paisagens geniais
Escutando um violão,
Um oboé,
Tudo floresce em cada grão de areia
Para gravar em nós esta epopeia…
Haragano, o Etéreo in Portaló
(Gil Saraiva)
VII
“AS ÁGUAS”
Bebem-se caipirinhas
E sorrisos,
Piropos, adivinhas, muitos risos…
Nas águas da cascata
Da piscina e das praias,
Tudo ao calor resiste e se desnata
Nos biquínis, nas minissaias,
Na chuva que ao cair é catarata
E que minutos depois já se esqueceu
Porque apenas nos lavou o eu…
Ah! Isto sim, é vida!
Águas benditas mais do que água benta,
Que nos fazem esquecer uma partida
Que embora longe já nos atormenta…
Que toquem oboés,
Que dobrem sinos,
Que do velho Sinai desça Moisés,
Que se dance o samba, cantem hinos,
Mesmo após o poente glorioso
Fazer nascer a lua prateada,
Pois tudo aqui é bom, é tudo gozo,
Tudo nos traz a alma embriagada
Neste Portaló feito virtude
Onde cada momento é plenitude…
Haragano, o Etéreo in Portaló
(Gil Saraiva)
VI
“A VIGÍLIA”
O sonho parece não ter fim…
Criando praiazinhas graciosas
O mar banha os despontares de areia,
Com flores de espuma, qual jardim,
Regado a gotas de oceano, preciosas,
Pérolas de mar na maré cheia…
De forma suave, harmoniosa,
Chegam as águas fluidas à muralha,
E a meiga ondulação vai radiosa
Penteando as pedras sem batalha,
Numa paz cúmplice que enleia
As margens por onde serpenteia…
Na piscina do hotel a queda de água
Trauteia indolente a voz da vida,
Sem sinas, tristeza ou sequer mágoa,
Apenas porque a vida lhe é querida…
Ao fundo um colorido bar molhado,
Servido por morena no sorrir garrida,
Refresca, por dentro e fora,
O mais acalorado convidado,
P’ra quem as cervejinhas, canapés
Ajudam a ficar mais relaxado,
Sobre a vigília plácida dos chalés….
Haragano, o Etéreo in Portaló
(Gil Saraiva)
V
“HARMONIA”
Aqui,
Neste hotel me sinto estranho,
Aqui,
Nada é pequeno nem tacanho,
Aqui,
Eu vivo paz, me sinto em casa,
Aqui,
Posso voar sem grão na asa….
Por entre árvores de fruto e palmeiras,
Por entre arbustos, por entre trepadeiras,
Passam correndo répteis velozes,
Lagartos, entre o verde e o castanho,
Fugindo sem tempo para poses,
Com medo de nós pelo tamanho
Ou pelo gargalhar das nossas vozes…
Por todo o lado
Vibra, quase com ardor, a empatia,
O sonho aqui está acordado
E a saudade é meta para um dia…
Tudo aqui é natureza na essência,
Aves, flores, gentes e magia,
Tudo aqui é puro, é existência,
Porque aqui se respira a harmonia…
Haragano, o Etéreo in Portaló
(Gil Saraiva)
IV
“MIL AMORES”
No ar
O som das aves é vida,
É luz que brilha atrevida,
É música, é alegria
Cantada como por magia
Em tom de felicidade
Com força, com garra, com vontade…
Pelas calçadas e valados
De um cinza feito de matizes,
Onde desponta aqui e ali a cor da terra,
Pelos arbustos salpicados
Entre o verde das copas
E o amarelo das raízes,
Por entre tons do morro
Que lembram serra,
Pelo verde da erva tão garrido,
Pelas pétalas que o tornam colorido,
Por toda a parte enfim,
Pairam aromas mil
De mil e uma flores,
Pairam partes de mim
Enfeitiçado pelo verão primaveril,
Por Portaló,
Por mil amores…
Haragano,o Etéreo in Portaló
(Gil Saraiva)
III
“A PAISAGEM”
Do ocre das fachadas
Das acomodações e dos chalés
Imagens de cor ficam gravadas,
Se destacam os detalhes, lés-a-lés,
Das madeiras, dos alçados,
Das varandas,
Passadeiras, caminhos, cordas bambas,
Delimitando espaços e picados…
São os chalés, por fora, salpicados
De espreguiçadeiras inovando
Ora repouso ameno,
Ora pecados,
Que cabe a cada um ir desvendando…
Tudo se vira ao porto, ao mar
E a Valença,
Ponto continental no horizonte,
Que a noite, ao cair, faz revelar
Do outro lado da água, bem de fronte,
Pelas luzes, as formas e a presença
Que olhando podemos vislumbrar…
São paisagens reais que amo e friso
Só porque adoro estar no paraíso…
Haragano, o Etéreo in Portaló
(Gil Saraiva)
II
“O REFÚGIO”
Venham visitar o refúgio
Dos poetas, criadores,
Dos amantes, pensadores,
Sem subterfúgio
Entrar com amor,
Vir sentir a paz e a harmonia,
Num descanso tão consolador
Seja no pôr-do-sol
Ou raiar do dia…
É aqui que escrevo
Eu estas linhas,
É aqui que estou
Eu deslumbrado,
Tentando colocar nas entrelinhas
O quanto aqui me sinto
Apaixonado…
O Portaló tem um manto de magia,
Algo me faz sentir
Enfeitiçado,
Como se num cerne de alegria
Fosse possível tocar
A nostalgia…
Haragano, o Etéreo in Portaló
(Gil Saraiva)