V
“BRAÇOS ABERTOS”
Quando os braços abriste para mim
E me deste teu meigo e doce colo,
Não sei eu se segui o protocolo,
Mas sei que me senti mui’ bem assim
Entre teus braços… Abraço sem fim
Junto ao teu peito meigo em que me enrolo,
Por esse teu carinho um novo Apolo
Me fizeste sentir… Num folhetim
Daqueles de cordel, com muito mel,
Apaixonado e vivo uma vez mais.
Quando os braços abriste fui jamais,
Fui nunca, garanhão, eu fui corcel
Cavalgando por ti, fui haragano,
No abrir dos teus braços… oceano!
Haragano, o Etéreo in Portaló
(Gil Saraiva)
IV
“VERMELHA MALA”
O brilho dos teus olhos deste a mim,
O rubro dessa boca me ofertaste,
No calor de teus seios me amparaste,
Em teus braços… de mata fui jardim…
Um bom abrigo foste tu, enfim…
Com tuas ternas mãos me massajaste,
Com as pontas dos dedos me coçaste,
No fundo do teu ser fui Mandarim…
Agora te dou algo onde guardei
O tão forte bater do meu sentir,
O meu amar, o meu por ti sorrir,
O meu ser, porque a ti amor me dei…
Guarda-a bem amor, porque ela embala
Meu coração, esta vermelha mala…
Haragano, o Etéreo in Portaló
(Gil Saraiva)
III
“APOGEU”
Sua teu corpo amor e sua o meu
Até a vista nos ficar nublada,
Da fusão do contacto à pele suada
Sexo de fogo a noite desprendeu…
Seguindo unidos… Já amanheceu…
No Portaló um céu de trovoada
Parecia cantar, em alvorada,
A noite que entre nós aconteceu…
Veio a luz da manhã, se fez esplendor,
Brilhou como cristal a água azul,
Atracou um barco mais pra Sul
E buzinou pra nós o nosso amor…
Suou teu corpo amor, suou o meu,
De gota em gota… até ao apogeu!...
Haragano, o Etéreo in Portaló
(Gil Saraiva)
II
“A BATALHA”
Macumbas, fadas, anjos e bruxedos,
Sereias, mais encantos e vudu
Ou Iemanjá, milagre e tabu,
Trazem as trovoadas aos penedos…
Chuvas, calor e Sol entre rochedos,
Gotas de sal e sangue em rio Cairu…
Amor, suor e vida em corpo nu,
No Morro de S. Paulo são segredos…
Por toda a ilha o céu vence o inferno
E esta batalha não acaba mais,
Pois Tinharé protege seus mortais
Com seu manto de verde quase eterno…
Desde a primeira à quinta praia a vida
Usa o amor e a fé como saída…
Haragano, o Etéreo in Portaló
(Gil Saraiva)
PARTE III
RETRATOS
"OS SONETOS DO SONHO" ou
"O SORTILÉGIO DO AMOR"
I
“QUADRO DA BAHIA”
No calor amarelo da Bahia,
Passo eu Lua-de-mel inesquecível,
Perdido nessa carne apetecível
Num rodízio de amor e de alegria…
Damos na praia as mãos e vibra o dia,
A água à rocha dá beijo impossível,
Conversa a aragem em tons de invisível,
Respondem as palmeiras por magia…
Já tem três milhões de almas Salvador
E nós somos só duas de passagem,
Mais dois pontos num quadro da paisagem…
Respiramos o povo e somos cor,
No mercado modelo ou pelourinho
Somos da cor do mel, cachaça e vinho…
Haragano, o Etéreo in Portaló
(Gil Saraiva)
XII
“DESPEDIDA”
No Hotel Portaló o ser se reparte
Qual afago, festa ou cafuné,
De chalé em chalé
Cultura é baluarte
Que à natureza se mistura
Com engenho…
Quem chega,
Chega a um mundo à parte;
Quem parte
Não esquece o desempenho
De quem
O acolheu naquele hotel,
De quem
Lhe deu guarida,
Deu quartel,
Deu nova vida…
Portaló não é porta,
É como um véu,
Passar por ele só importa
Para quem quer ficar perto do céu…
Quem parte
Leva natura e arte
Quem chega
Tem saudades quando parte…
Haragano, o Etéreo in Portaló
(Gil Saraiva)
XI
“CHALÉ FERNANDO PESSOA”
Aqui, no Portaló, em Tinharé,
Longe de Paris, Rio ou Lisboa,
A vida, qual sorriso de um bebé,
Segue calma, simples e tão boa…
“Tudo vale a pena”… A forma é pura,
A prosa à poesia dá frescura
Com aromas de ser e de natura,
Neste espaço feito luz e cor…
Cada chalé tem nome de poeta ou de um escritor,
Cada chalé tem um coração, tem um sentir,
Tem paz, tranquilidade e tem amor,
Tem essência, alma e existir…
A pena é verde aqui, como a mata atlântica
E a palavra é barco, galeão, canoa,
É terra que floresce de romântica…
Em Fernando Pessoa
Me instalei meia quinzena,
E me senti um Rei, sem ter a coroa,
De um quinto império sem arena…
Fiquei por Portaló enamorado,
E pelos versos de Pessoa eu inspirado
Entendi, então, de forma plena,
O que vale ter a alma não pequena…
Haragano, o Etéreo in Portaló
(Gil Saraiva)
IX
“EPOPEIA”
Neste hotel de nome Portaló,
Somos como a aranha em sua teia,
Somos o guardião de uma baleia
Num quarto baptizado Moby Dick…
Só importa a quem cá fique
Instalado na encosta,
Saber daquilo que gosta,
Porque aqui não há despique…
No Morro de S. Paulo,
Em Portaló,
Ilha de Tinharé,
Terra de verde e pó,
Banhada de fé,
De azul, de céu e de águas,
Onde o passado em tempos
Lavou mágoas,
Por entre aromas tropicais
E de café,
Olhando paisagens geniais
Escutando um violão,
Um oboé,
Tudo floresce em cada grão de areia
Para gravar em nós esta epopeia…
Haragano, o Etéreo in Portaló
(Gil Saraiva)
VII
“AS ÁGUAS”
Bebem-se caipirinhas
E sorrisos,
Piropos, adivinhas, muitos risos…
Nas águas da cascata
Da piscina e das praias,
Tudo ao calor resiste e se desnata
Nos biquínis, nas minissaias,
Na chuva que ao cair é catarata
E que minutos depois já se esqueceu
Porque apenas nos lavou o eu…
Ah! Isto sim, é vida!
Águas benditas mais do que água benta,
Que nos fazem esquecer uma partida
Que embora longe já nos atormenta…
Que toquem oboés,
Que dobrem sinos,
Que do velho Sinai desça Moisés,
Que se dance o samba, cantem hinos,
Mesmo após o poente glorioso
Fazer nascer a lua prateada,
Pois tudo aqui é bom, é tudo gozo,
Tudo nos traz a alma embriagada
Neste Portaló feito virtude
Onde cada momento é plenitude…
Haragano, o Etéreo in Portaló
(Gil Saraiva)
VI
“A VIGÍLIA”
O sonho parece não ter fim…
Criando praiazinhas graciosas
O mar banha os despontares de areia,
Com flores de espuma, qual jardim,
Regado a gotas de oceano, preciosas,
Pérolas de mar na maré cheia…
De forma suave, harmoniosa,
Chegam as águas fluidas à muralha,
E a meiga ondulação vai radiosa
Penteando as pedras sem batalha,
Numa paz cúmplice que enleia
As margens por onde serpenteia…
Na piscina do hotel a queda de água
Trauteia indolente a voz da vida,
Sem sinas, tristeza ou sequer mágoa,
Apenas porque a vida lhe é querida…
Ao fundo um colorido bar molhado,
Servido por morena no sorrir garrida,
Refresca, por dentro e fora,
O mais acalorado convidado,
P’ra quem as cervejinhas, canapés
Ajudam a ficar mais relaxado,
Sobre a vigília plácida dos chalés….
Haragano, o Etéreo in Portaló
(Gil Saraiva)