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Desabafos de um Vagabundo

Serve este local para tornar visível o pensamento do último dos vagabundos que conheço: EU! Aqui ficarão registados pensamentos, crónicas, poemas, piadas, quadros, enfim, tudo o que a imaginação me permite

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A Peça do Chinês - Parte V

A PeçaChinês5.jpg

CRÓNICAS DE UM VAGABUNDO

EPISÓDIO 110

Parte V

A PEÇA DO CHINÊS - E ESTA; HEI?…

Sábado, tal como o dia anterior, serviu para me tirarem sangue para análises, testarem o meu nível de glicémia, medirem a pressão, o ritmo cardíaco e a temperatura e para umas escapadelas até à entrada do hospital, de cadeira de rodas, pois que o equilíbrio era o de um hipopótamo na corda bamba, com o objetivo único de matar o vicio do tabaco. Pese embora o Governo advirta que fumar mata, não deixa de encher os bolsos com impostos à custa da minha morte que tão hipocritamente anuncia.

O Domingo começou bem, mas terminou com a já esperada dieta zero, neste dia designada por jejum. Lá me colocaram um papel plastificado por cima do leito com o aviso fatal, não fosse uma auxiliar distraída alimentar-me o ego ou o bandulho. Faço aqui um pequeno desvio da narrativa para elogiar a dedicação de todos os trabalhadores deste hospital. Fiquei impressionado pelo modo como se dedicavam, principalmente aos acamados sem a independência para tratarem de si, muito para além das normas de dever e obrigação. Houve uma pequena exceção, como em toda a regra… uma enfermeira, catraia demais, para saber e entender o que significa dignidade e respeito, mas a coitada nem conta, nesta incrível estatística hospitalar.

Segunda-Feira desci às profundezas do piso zero para a muito aguardada intervenção. Soube que seria o segundo daquele dia a ser intervencionado. Ia lindo, na cama, com uma bata branca, que pela frente parecia mais um vestido em minissaia e que pela parte de trás tinha um decote até aos calcanhares. Acordei da anestesia geral pouco depois de terem passado duas horas desde que partira do universo consciente da realidade para o sonho cirúrgico dos especialistas. Despertei a arrancar tudo, cateter, oxigénio, pulseira identificativa, soro, roupa da cama, eu sei lá. Parecia que fugia de alguém que apreciara o meu decote traseiro. Foi indescritível.

A enfermeira do bloco acalmou-me. Não sei bem se me recordou que o Passos Coelho já não era Primeiro Ministro, mas também não importa para o caso. Lá me contou como correra a minha operação. Ficara a meio. Achavam que tinham partido a pedra, mas sem certezas, nem tinham tido tempo de colocar o tubo para no canal biliar, nem revisto se eu estava livre da pedraria clandestina que me invadira. Espantado fiquei a saber que a peça da China, avariara de novo (talvez não fosse da China pensei eu, mas sim uma Peça do Chinês, com a devida qualidade que lhe deu fama). Enfim, teria de voltar dali a um mês. Lembrei-me de Fernando Pessa: E esta, hei???

Fim

Gil Saraiva

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