Beijo de Babel
43. Beijo de Babel, tão intenso e grande como a Torre que lhe dá o nome. Um beijo que parece chegar ao céu, mas se aqui Deus quisesse frustrar o beijo insano confundindo-nos as línguas só o iria tornar mais intenso, mais vivo, mais perfeito, fazendo deste beijo a verdadeira caminhada até ao paraíso nunca antes encontrado em vida pelos simples mortais. No país verde e amarelo há quem lhe chame de beijo Ventilador ou Helicóptero como que a explicar os giros da língua dentro da boca do outro, como se fosse uma hélice, num baile próprio de ventoinha e até o apelidam de beijo aspirador de pó porque de tão intenso chega a ser profundo e sufocante. Esta junção entre dois seres toca as fronteiras do impossível, funde almas e corpos e faz-nos entender o que o amor tem de divinal. Agora o apogeu está bem ali, parece gritar, silvar como uma sirene industrial do século passado… Porém, o alarme à cabeceira da cama insiste e acabamos por finalmente acordar, deixando assim o beijo confuso e perdido em sonhos trocados numa Babilónia onde a torre nos atrapalha as línguas. Para o sentirem ambos vão ter que um dia, enfim, sonhar e acordar bem lado a lado…