Beijo de Sete Colinas
361. Beijo de Sete Colinas, em que o tempo que vem não vai ou é esquecido. Beijo, em que a cidade que fervilha habitualmente parece vazia de gentes, de transportes, de ruído. Beijo, em que as águas do rio Tejo se calam ao passar numa corrente muda de respeito. Beijo, em que os pombos imitam gárgulas petrificadas num silêncio estático nas árvores e beirais. Beijo, em que os monumentos se escondem na vergonha de só serem história, memória, glória e não terem vida, mas apenas existir. Beijo, em que o vento se senta na calçada ultrapassado pela força e beleza do momento e vira brisa. Beijo, em que a luz astral se une à luz dos homens para dar brilho, cor, significado, vida e transcendência, num só foco, à cena em curso. Beijo sete vezes repetido, um por cada colina da cidade, intenso, forte, apetecido, porque eterno, presente, sem idade, qual rei altivo no porte e na coroa, um beijo ofertado assim, entregue em Alfama, Mouraria ou Madragoa, tem a magia do mundo num beijo aqui chamado de Lisboa.