Registos da Memória - V - Braga Branca - Pinheiros de Natal
(Braga Branca – Pinheiros de Natal - V - Foto de autor, direitos reservados)
Registos da Memória
V
Braga Branca – Pinheiros de Natal
A neve caía, naquele dia 9 de janeiro de 2009, branca, pura, cristalina, mas o dia continuava teimosamente nublado escuro, taciturno e enervante. Ali, perto de casa, eu ia registando o fenómeno, raro, ocasional, de o frio conseguir fazer-se acompanhar pela neve naquela cidade que raramente a vê. Chegam a passar décadas entre visitas dessa dama branca e fria. De máquina fotográfica em punho fui procurando na paisagem que me era nova e surreal captar cada detalhe, sem um porquê, apenas por o dia era diferente de outros dias.
A dada altura, no meio do pequeno jardim do bairro, deparei-me com três árvores, decoradas de branco, no meio da névoa ensombrada pela neblina densa. Aparentavam ser Árvores de Natal. Três Pinheiros de Natal altivos, majestosos, difíceis de enquadrar numa só fotografia, com a máquina rudimentar que me acompanhava. Num segundo olhar apenas o maior me pareceu, afinal, ser um pinheiro, mas o trio realmente lembrava Árvores de Natal, quais Reis Magos, chegando atrasados ao evento, 19 dias depois da sua celebração.
Pena era que o dia estivesse tão nublado, escuro e sombrio, encoberto por aquela névoa feita neblina, que parecia desfocar a paisagem, sujando de sombras o branco que caía em flocos. Tentei por diversas vezes registar o momento. As fotografias saíam invariavelmente como que desfocadas e manchadas de penumbras irritantes. Ia para virar costas quando um raio de Sol caiu, como que por milagre, sobre aquela parcela de natureza altiva. A árvore central brilhou ainda mais do que as outras e eu entendi porque é que Natal é quando um homem quiser. Tirei a foto e sorri com a mesma alegria de alguém que, no aconchego do lar, acaba de enfeitar a sua Árvore de Natal e contempla. Que sorte…
Gil Saraiva