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Desabafos de um Vagabundo

Serve este local para tornar visível o pensamento do último dos vagabundos que conheço: EU! Aqui ficarão registados pensamentos, crónicas, poemas, piadas, quadros, enfim, tudo o que a imaginação me permite

Serve este local para tornar visível o pensamento do último dos vagabundos que conheço: EU! Aqui ficarão registados pensamentos, crónicas, poemas, piadas, quadros, enfim, tudo o que a imaginação me permite

Beijo de Nascente

260 - nascente.jpg260. Beijo de Nascente, genuíno e impoluto, fora da contaminação dos homens, integro e natural, de uma transparência sã que ascende do íntimo da existência. Beijo puro e fresco como a água que brota da terra lá bem no alto da montanha. Cristalino como o rio que corre pela natureza. Vivo e criador como essa corrente de vida que procura chegar breve à foz, espalhando fauna e flora pelas suas margens bem delineadas. Enfim, belo porque são, feliz porque simples. Um beijo que nasce do seio da nossa própria essência, impelido por uma palavra, um olhar, um sorriso que assim, sem mais nem menos, nos diz que é bom viver e partilhar.

 

 

 

Poemas de um Haragano: Achas de um Vagabundo – Um Poema

 

 

        XVI

 

"UM POEMA"

 

Um poema

Nada tem de silencioso,

Mágico ou natural,

É sim um grito mudo

Do amago de quem escreve

Para a essência de quem lê...

 

Se for ouvido é música divina,

É arte,

É voz...

 

Mas se na valeta

Do esquecimento

Ele cair

Então

O poeta morreu uma vez mais,

Mas não sem antes sofrer muito

Para além do suportável

Pelo comum dos mortais...

 

Quantos de nós,

Muito além desse sentido,

A que chamamos de audição,

Escutamos realmente o grito mudo?

 

Quantos de nós ouvimos

No marasmo do nosso cotidiano

Um só poema?

 

"-Depende..."

Dirão os mais sensíveis...

"-Eu acho que sim!"

Afirmarão os convencidos

Pelas lições que a vida

Lhes foi dando...

"-Eu escuto..."

Dirás tu

Com medo da tua própria voz...

 

Um poema

Nada tem de silencioso,

Mágico ou natural,

É sim um grito mudo

Do amago de quem escreve

Para a essência de quem lê...

 

Haragano, O Etéreo in Achas para um Vagabundo

(Gil Saraiva)

Poemas de um Haragano: Achas de um Vagabundo – Um Copo

 

 

        XV

 

"UM COPO"

 

Um copo de cerveja e um cigarro...

E a música apalpando toda a gente...

Um copo de cerveja e um cigarro...

E gente sentindo o corpo quente...

 

Um corpo que deseja e mais um charro...

E o álcool subindo calmamente...

Um corpo que deseja e mais um charro...

E outro corpo aquecendo lentamente...

 

Um litro se despeja zarpa o carro...

E o leito se aproxima ardentemente...

Um litro se despeja, zarpa o carro...

E zarpa o sangue no corpo da gente...

 

Um fogo que se inveja, coze o barro

E unindo dois corpos fortemente:

É movimento, ritmo, ternura,

É febre, suspiros e loucura;

É infinito num tempo finito,

No segundo louco da expansão...

 

Um grito se solta e é bizarro...

É suor, saliva e sucos de emoção...

Um grito se solta, coze o barro

No exato momento da fusão!...

 

É já... ainda não... e mais... agora!...

É vem... amor... é dia dos sentidos,

É noite, ardor, é dentro e fora,

É grito que se quebra em mil gemidos!...

 

Haragano, O Etéreo in Achas para um Vagabundo

(Gil Saraiva)

Poemas de um Haragano: Achas de um Vagabundo – Toca-me

 

 

        XIV

 

"TOCA-ME..."

 

Quando aquela mão

Se estende decidida e sensual,

Num caminho seguro,

Até tocar suave

Um membro adormecido,

Despertamos nós...

 

Desperta o príncipe

Com coaxares de sapo,

Porque a magia

Se fez vida

E gozo último...

 

Quantos de nós, homens,

Antropófagos do sentir,

Não atingimos o céu

Antes do tempo

E tudo por um toque apenas?

Ahhhhhh...

Isto é vida!

 

Nada se compara

Ao arrepio da derme

Perante um deslizar

De dedos ao acaso.

 

Nada é mais intenso

Do que sentirmos a mão,

A nossa mão,

Navegar serena,

Pela derme de outro alguém,

Procurando o calor ameno

De um Trópico de Câncer

Ou Capricórnio...

Pra mergulhar ardente

Num vulcão de amor

E nos fazer arder

Sem febre alguma

Que não aquela

A que chamamos de paixão...

 

Partir do que é geral

Para o mais específico,

Intimo, privado e particular...

Sentir a preocupação das formas,

Das cores, do brilho,

Do estado hipnótico de um toque,

Em impressões tácteis

De impensáveis sensações

De loucura frenética e absoluta...

 

Depois...

Procurar uma ordenação táctil

Dos elementos do percurso

E projetá-los em cenas

De luxuria conseguida e integral...

Por fim...

Gritar em êxtase:

Toca-me de novo meu amor!!!

 

A Mulher,

Mais do que ser humano,

É arte viva,

Sente

Como nenhum outro espécime

À face do planeta...

E faz sentir...

Chegamos ao infinito

Num só toque...

E de lá voltamos para podermos,

Também nós,

Tocar e atingir assim

O despertar de uma aurora

Que nasce pura de êxtase

E plena de prazer!...

 

A Mulher

Faz uivar bem lá no fundo

Aquele ser esquecido,

De ser gente,

De ler vida,

De ter voz...

E provoca do intimo

A alma ansiosa de sentir,

Perdida de sentido,

De momento,

Já faz muito e muito tempo,

Para gritar, por fim,

Em pleno êxtase:

Toca-me de novo meu amor!!!

 

Haragano, O Etéreo in Achas para um Vagabundo

(Gil Saraiva)

Poemas de um Haragano: Achas de um Vagabundo – Sexto Sentido

 

 

             XIII

 

"SEXTO SENTIDO"

 

Se eu fosse um mouro,

Em seu castelo erguido

Na Serra que da Lua

Tem o nome e o sentir,

Gritando, lá do alto,

Sortilégios esotéricos

Ao povo Luso que a Serra invade,

Com sede de terra e de poder,

Para esse espaço a sangue,

Ferro e fogo conquistar...

 

Se eu fosse um nigromante,

Feiticeiro da Serra da Lua,

Qual mago que um tambor

Rufando enche de glória,

Senhor de Áfricas

Sem fim ou sem princípio,

Soberano dos vivos

E dos mortos evocados,

Dono da negra magia do Passado,

Podendo, com meus dons,

Fazer parar as leis da guerra,

Que os continentes

De todo enfeitiçaram...

 

Se eu fosse o vento

Que mais forte sopra,

No altivo castelo da mourama,

Na noite tempestiva de invernos

Perdidos entre lareiras

Que as memórias não consomem,

Por mais alto

Que arda a chama,

Por mais calor

Que a lenha produza...

Imperador de tufões,

De vendavais,

Rei do sopro

Que não se esgota nunca,

Por muito que me venha zumbir

Dentro da alma,

Sussurrando-me aos ouvidos

Desesperos de infinito,

Que parecem competir

Com a velha eternidade...

 

Se eu fosse a dança,

Que dança e não balança,

Em sete véus mágicos de moura,

Em movimentos de ondulante ritmo,

Marcado em cada passo,

Em que a forma acompanha o som,

Como se a perfeição

Estética da vida

Pudesse traduzir a festa

Da evidente humanidade

Ou a música da alegria da vitória,

Um grito mudo de gozo e de prazer,

Que ao Homem faz viver

E reviver no espaço e tempo,

Qual passo de baile

A celebrar eventos mil

Mais do que outros já havidos...

 

Se eu fosse a bela Primavera,

Terna de ambientes,

Florida nos caminhos,

Altiva no serrado,

Nesse Castelo dos Mouros

Amada a cada volta,

A cada curva,

Destemida e sem receio

De um dia perder a liberdade...

Enfim, uma estação solidária,

Realizada de viva esperança,

Cega de perfumes e odores

Em cada berro de vida

Que me cerca e me transborda...

 

Se eu fosse, por fim,

A Fortaleza Árabe,

Em Sintra altiva e imponente,

Ou simples mato,

Uma terra de medos,

Mistérios e surpresas,

Fonte de vida,

Abrigo de animais,

Floresta tropical,

Savana, bosque,

Ou ainda até,

E porque não,

Selva africana

Ou charneca em flor...

 

Se eu fosse tudo isto

E muito mais,

Diria,

Como direi agora,

A mesma coisa simples

E pequena:

"- Guarda só pra ti

Os meus segredos,

Meu amor,

E vive para que eu possa viver,

Pleno de ti,

Que sem ti nada é poder!...

 

Espera-me nesta vida

E na outra se a houver,

Com os teus braços abertos

Por carinhos,

Enfeitada de sedas e perfumes,

Cetins, veludos

E linhos de encantar

Ou nua apenas,

Qual odalisca que sem esforço

Conquista o temível sultão...

Mas mais que tudo

Ama o vagabundo dos limbos,

Ama Haragano, O Etéreo,

Este eu, cujo discurso

Se perde nas palavras,

Mas que este coração a ti doou,

Porque tu és

O meu sexto sentido!"

 

Haragano, O Etéreo in Achas para um Vagabundo

(Gil Saraiva)

Poemas de um Haragano: Achas de um Vagabundo – Quem

 

     XII

 

"QUEM..."

 

Quem

Tem na esperança

O sussurrar cálido das marés?

 

Quem

Encontra no próprio reflexo a alegria

De vivo se sentir com confiança?

 

Quem

Procura sempre o impossível

Sem temer ou mesmo desistir...?

 

Quem

Sente o nascer do Sol

No crepúsculo insustentável da madrugada?

 

Quem

Reconhece ser seu o Vagabundo

Perdido nos Limbos pela busca?

 

Quem

Vê o Haragano na bruma

E lhe reconhece os traços do Éter?

 

Um só alguém!...

E esse quem

Não tem o que temer,

Por que tremer,

Pois brilha mais alto,

Mais forte e mais além...!

 

E luta, como luta mais ninguém,

Mesmo na mais temível escuridão,

Acabando por encontrar, por conquistar,

E por sorrir, enfim, ao ver no espelho

A imagem refletora de um futuro

Que em cada segundo se torna presente...!

Que em cada “impresente” renasce em saudade!...

 

Assim...

Todos saberão conhecer o tal de quem,

Que no sussurrar ameno das marés,

Completará um próximo devir,

Com a forma simples de um sorrir...

 

Mas será realmente que esse quem,

Com a “imatemática” clareza dos sentidos,

Sente, o amor, sem incerteza?

Mesmo sem temer ou desistir?

Talvez...

 

Quantos ou quantas acharão sinais

E por engano se julgarão escolhidos?

Só quem acreditar que jamais

A ilógica absurda, de um tão grande amor,

Poderia servir de engodo vil

Ganhará a glória terminal!

 

E esse alguém terá...

No sussurrar cálido das marés,

Na alegria de vivo se sentir,

Na procura impossível sem temer,

No crepúsculo insustentável da madrugada,

No brilho mais alto, mais forte, mais além,

Na busca perdida pelos Limbos,

E na mais temível escuridão,

A taça da vitória conquistada,

A certeza de saber que o quem

É ele ou ela e mais ninguém!

 

Para mim,

Apenas importa esse meu quem!

E espero meu amor, querida, meu bem,

Que a taça seja eu e ela tua,

Tal como o infinito é mais além,

Tal como da Terra satélite é a Lua...

 

E só assim,

Por fim,

Na forma de um sorriso, feito belo,

O meu quem se refletirá da cara nua,

Por provir simples, franco, singelo,

Desse amado rosto, dessa face tua!

 

Haragano, O Etéreo in Achas para um Vagabundo

(Gil Saraiva)

Poemas de um Haragano: Achas de um Vagabundo – Possa Ser Eu

 

            XI

 

"POSSA SER EU!"

 

Meu amor...

No espaço diminuto do meu cérebro

Não consigo enclausurar o amor que sinto...

É vasto demais, é denso, é forte,

E nem zipado cabe entre neurónios...

 

Poderia eu arquivá-lo nessa rede,

Aquela a que chamamos de Internet,

Em servidores sem fim...

Gigabytes e gigabytes de sentir...

Mas é pequena a Net, é curta, é vã...

 

Ah, mas então...

Só dessa forma se tornaria a rede

Um sentimento só, somente e apenas...

Mas tanto ficaria por expressar,

Pois está por inventar o chip ou a memória

Que possa processar o verbo amar

Com a dimensão e a dignidade

Que este deve possuir...

 

Porém...

Um processo existe, um meio, uma forma,

De saberes, ó meu amor, o quanto te amo...

Há um condensador do meu sentir

Que podes ler sem erro, bug

Ou vírus que o afete...:

 

O brilho dos meus olhos quando a retina

Capta a tua imagem e a retém

Lá prós lados desse órgão interno

A que teimamos dar por nome:

Coração!...

 

O fenómeno pode não ser sensível

À ânsia da descoberta do sentir

Através de quaisquer materiais...

Ah... Mas se amares...

Vais poder ler o brilho oculto

Aos olhos de um outro qualquer alguém

E, meu amor, que esse alguém

Possa ser eu!

 

Haragano, O Etéreo in Achas para um Vagabundo

(Gil Saraiva)

Poemas de um Haragano: Achas de um Vagabundo – Nasce

 

      X

 

"NASCE"

 

Temos esta noite...

Pensa bem...

Que importa o amanhã

Se hoje existimos...?

 

Se podes escrever

As palavras

Que me invadem o ser

E me viciam...

Que importa o amanhã...?

 

Vício de ti...

É virtual?

Interneticamente inatingível?

Que importa o amanhã

Se a noite é nossa...?

 

Se é o futuro

Que te dá alento,

Porque não pode o presente

Ser esperança?

 

Ahhhhh!!!

Nasce comigo em cada tecla!...

Nos diálogos frenéticos

Das janelas privadas,

Fechadas a todos

Que não a nós...

 

Nasce comigo em cada letra

Teclada com a força

Do bater arrítmico

De nossos corações perdidos,

Para a eternidade,

De tanta paixão...

 

Ahhhhh!!!

Nasce comigo antes de amanhã,

Porque o agora existe!...

E é nosso amor,

É todo nosso!!!

Que importa o amanhã...?

Diz-me!

Que importa...?

 

Haragano, O Etéreo in Achas para um Vagabundo

(Gil Saraiva)

Poemas de um Haragano: Achas de um Vagabundo – Não Por Mim…

 

             IX

 

"NÃO POR MIM..."

 

Às vezes acho-me um ser híbrido...

Não importa se o sou

Mas o que penso...

É como se metade do que me constitui

Fosse sentir

E só a outra parte de mim

Fosse homem nato...

 

Sou, tal como o dia tem na noite

Uma outra face,

Um ser ambidestro

No que toca à mística

Representada pelo coração...

 

Um quase ser criança

Entre pudores que,

Nesta idade que tenho,

Já extintos deveriam estar.

 

Mas corre-me nas veias o devir...

A sensação última de atingir

A plenitude das coisas

Simples e pequenas

Que permanecem fiéis à memória

De quem realmente as viveu

Com existência.

 

Mas para que falo eu isto?

Que importância tem?

Ahhhhhhh...

 

Importa refletir,

Sentado nas escadas alvas e frias

Do mármore que edifica e marca

Cada registo do que sou,

Tentando sempre

Ir mais longe no pensar...

 

O que me move?

Ou, talvez, o que me comove?

Ou, ainda, o que me demove...?

 

É delicioso poder concluir que,

Em cada caso,

A chave é sempre a mesma:

Sentimentos!

Vindos de dentro,

Da arca radioativa de amor

À qual chamamos alma...

 

Sentimentos,

Desempacotados pelo espírito

Que nos torna humanos,

Postos a render

Para que possamos desfrutar,

A cada pegada impressa

No caminho da vida,

A realização do que deveríamos ser

Para que o existir tenha um propósito:

Sermos Felizes...

 

A demanda pela verdade

É um falso caminho se no final da linha

Não encontrarmos o amor!

 

É pela sensualidade dos corpos

Que a alma,

Feita espírito inventivo,

Nos mostra a excelência de uma espécie

Com milénios de existir:

O Ser Humano.

 

Um ser que não se reproduz apenas,

Mas que se funde em harmonia

Sempre que a longa busca pela alma gémea

Se conclui com êxito.

 

Ser sensual é ser-se humano

E ter com isso a esperança

De perpetuar a espécie

Por forma a poder gritar bem alto,

Aos quatro ventos:

É amor!...

 

Às vezes acho-me um ser híbrido...

Não pelo que sou

Mas pelo que os meus olhos captam

Do mundo a que chamamos evoluído...

Onde sensualidade

Se confunde com pornografia,

Tal como o bem se confunde com o mal...

 

Às vezes

Acho-me um ser híbrido,

Mas não por mim...

Não por mim... 

 

Haragano, O Etéreo in Achas para um Vagabundo

(Gil Saraiva)

Poemas de um Haragano: Achas de um Vagabundo – Música

 

 

      VIII

 

"MÚSICA"

 

A música tem o espaço invadido

De ternas melodias...

 

No bar,

A tela sem som,

Transmite ilusões

De novelas sem fim...

 

A cena,

Com contornes de virtualidade,

Faz-me ver-te ali...

Do outro lado do bar,

Na penumbra das luzes

Em perpétua difusão...

 

Ali...

Nessas formas

Desse corpo que sonho;

Nas margens desse teu cabelo,

Onde os meus dedos anseiam

Perder-se um dia mais...

 

Procuro,

Com ânsia adolescente,

O teu olhar,

Profundo...

Oculto...

Magnífico...

E sinto-o no sorriso

Desses lábios

Que Mona Lisa invejaria ter...

 

Porque não falas?

A espera

É como um incêndio de floresta...

Consome tudo em seu redor...

Devora o íntimo do ser e...

Mesmo assim...

É divino o prazer

Da ansiedade...

 

A música

Tem o espaço invadido

Do teu ser...

E a tela,

Sem som,

O sorriso mudo dos teus olhos!

 

A cena faz-me imaginar

Contornes de impossível...

E na penumbra das luzes

O sonho aparenta

Um perpétuo devir...

 

Haragano, O Etéreo in Achas para um Vagabundo

(Gil Saraiva)

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