Serve este local para tornar visível o pensamento do último dos vagabundos que conheço: EU!
Aqui ficarão registados pensamentos, crónicas, poemas, piadas, quadros, enfim, tudo o que a imaginação me permite
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94. Beijo Desperdiçado por tanta gente, mas encontrado por alguém. Dividido por dois de forma simples. Perfeito na arquitetura, natural na construção, eloquente na entrega, desejado pelo querer, elementar na criação, mas apenas sonhado por aqueles que por algum motivo o perderam. Um beijar ainda às portas do inverno, quase que adormecido pelas estações do frio. Porém, finalmente desperto pelos executantes e num ápice tranquilamente pronto para provocar arritmias. Exige simbiose e afeto, carinho e ternura. Desenvolve emoções nesse ato praticado com a vontade explicita de conquistar almas, vidas, seres… sim, seres que se beijam por um desejo puro de sentir, de experimentar felicidade, de não perder pitada.
75. Beijo à Chuva, o espelho cristalino dos beijos românticos e de conquista. Traduz claramente que o amor vence os elementos, na luta pela sua realização, pela sua única e inabalável força. Um poder quase divino, fazendo os corpos esquecer o meio porque, no seio daquela união selada pelas bocas, existe um querer imaterial mais forte que gravidade ou magnetismo, que clima ou atmosfera, que habitat ou natureza. Beijo soberbo porque aquele género de afeto não tem barreiras, não desiste perante os obstáculos, não se perde na tempestade, nem se acalma na bonança. Ele é o bem supremo quando encontrado no seu estado mais puro e, sem explicações, está muito para além da inteligência, do saber e do conhecimento. Beijo à chuva, maior que as almas, as crenças, os credos, os sentidos e os elementos, maior que o universo, porque nada é maior do que a conquista do amor que este beijar representa a cada acontecer.
71. Beijo Certeiro, dado sem tabus ou sem receios, destemidamente, com frontalidade, alegria, vida e paixão. Um daqueles que se dá com confiança, com a noção exata do que se quer e do que se espera, porque julgamos saber que a face a que se destina será por certo uma graciosa anfitriã. Para o darmos a alguém, e enquanto ato voluntário, temos de ter a certeza de que, do outro lado, existem pelo menos sinais de empatia e afeição. Este pode tornar-se num beijo surpreendente de conquista atingindo uma dimensão única de verdade. Tudo num caminho evolutivo que se avalia como sem regresso. Só assim se provoca a fusão de almas, o inflamar dos corpos, a plenitude dos seres, a busca do apocalipse dos sentidos, a divina glória do êxtase na vulcânica explosão de mil orgasmos...
65. Beijo Cardíaco que anseia por chegar ao destino com calor e ritmo acelerado. Sem alterações na textura, no sabor ou na intenção, porque leva com ele a alegria solidária de pequenos momentos partilhados num quotidiano etéreo. Um existir não menos verdadeiro ou sentido por a amizade provir e se ter desenvolvido, sem prévios laços de conhecimento físico. Ele nasce porque contém na essência a raiz de um rigor que se experimenta, a cada sorrir, nas palavras que se trocam, nos olhares que se inventam em entrelinhas sublimes de emoção. Torna-se cardíaco pela expectativa elaborada, numa qualquer rede social, entre dois seres que se desejam sem se verem, que se inventam num limbo abstrato que a dada altura vira realidade e existir. Beijo cardíaco, sente-se em crescendo, quase correndo à velocidade do pensamento na procura insana de um brilho intenso que, no encontro final, se o toque e o sentir acasalarem, parte das almas e desagua nos corações.
35. Beijo Artístico, onde a forma e o enquadramento ganham vida envolvidos em vários detalhes tais como a humidade dos lábios, o calor da pele da recetora, o luxo gasto no tempo para o preparar, os odores suaves sentidos na afinidade dos Phs, o ambiente pormenorizadamente criado envolvendo a escolha do local, a luz do dia, as fragrâncias selecionadas de maneira a inebriar o meio, o vestuário usado disfarçando detalhes menos convidativos, a exclusividade da escolha, a arte de transmitir o sorriso bem-disposto de uma amizade com futuro, de um conhecimento que se inicia, de uma partilha que se deseja, de um sonho que se quer sentir real, vivido e alcançado. Toda esta preparação requer vontade, desejo, sinceridade e empatia, não apenas de quem oferece o beijo como, principalmente, de quem o acolhe. No final está tudo no que ambos os olhares disserem nesse instante em que as almas não sabem mentir…