57. Beijo de Bruma … imagine um fim de tarde onde o crepúsculo se anuncia pelo mais romântico pôr-do-Sol de que alguma vez houve memória. Imagine também que tudo se passa à beira-mar, num dia quente e húmido, onde o azul da água contrasta com o branco macio do areal e o laranja de um astro em retirada. Imagine a falésia por detrás envolta no entardecer a ser coberta por uma nuvem de algodão que se apressa na brisa por chegar ao mar. Imagine-se menina de cabelos ao vento recebendo o beijo que nem amnésia poderá fazer esquecer, é esse o beijo que se descreve aqui… Um beijo de bruma.
IV
"ELA..."
Ela
Não podia estar ali...
Talvez...
Nos confins do pensamento,
Longe de tudo...
Não de todos!...
Um rosto jovem no sorrir...
Um rosto,
Com raios de Sol
Caindo nos ombros,
Em cabelos de um ouro
Que brilha no escuro...
O azul do mar
Repousando nas pálpebras,
De uns olhos castanhos
Que brilham também...
Um doce poente
Poisado nos lábios,
De uma boca que arde
E cheira a pecado...
Um luar de prata
Em seu meigo rosto,
De uma Lua Cheia
Que ilumina a serra...
Os traços de Vénus
Moldados num corpo,
Que Gaia quis tão fértil
Como sensual...
O entardecer
Descendo no ventre,
Qual crepúsculo
Anunciando a plenitude...
O sabor a sal
Colando-lhe as coxas,
Húmidas de ansiedade,
De ante prazer...
O toque da seda
Envolvendo os seios,
Tentando esconder
A derme perfeita...
O amor perdido
Em seu terno olhar,
Que busca sedento
Outro olhar igual...
E um ar de oásis
Cobrindo-lhe a pele,
Qual neblina ténue
Desejando Sol...
Ela...
Não podia estar ali...
Talvez...
Perto de alguém,
Imaginário ninguém,
A quem esperava,
Um dia,
Vir a encontrar!...
Ela
Não podia estar ali...!
Não!...
Não existe tal paisagem,
Pois as quimeras
Nunca são reais!
Mas...
Se por força
De acasos impensáveis,
A paisagem
Não for mera miragem...
Se o ocaso
Realmente for poente
Que chega ante meus olhos
Suspensos na exceção,
Então... então...
Então tudo eu dou
Pela paisagem!...
O que sou,
O que fui
E o que serei,
O que tenho
E o que possa vir a ter...
Tudo!...
Porque tudo é pouco
Se puder na paisagem
Meu ser eu colocar...
Num canto,
Ali...
Mas enquadrado...
Ela
Não podia estar ali...
Haragano, O Etéreo in Achas para um Vagabundo
(Gil Saraiva)
VII
"ALÉM DA MORTE..."
Eu amo-te, Ah!... Como eu te amo vida,
Luz, alma gémea, em mim redescoberta,
Tu és o rosto azul, na sala aberta,
Ao Sol que da janela, de fugida,
Te torna mundo, terra agradecida,
Por seres nascente, fonte, na deserta
Planície de mim, por ti desperta,
Qual Primavera solta, ao ar florida!...
Eu te amo, meu amor, flor encantada,
Perfume que o meu ser à força quer,
Deusa que Deus, um dia, fez mulher,
Para tornar minha alma apaixonada!
Tu és a minha estrela, a minha sorte,
E neste verso, minha... além da Morte!
Haragano, o Etéreo in Portaló
(Gil Saraiva)
III
“VERDE E OURO”
Quem não queria poder ver mais além?
Se olhar a Bahia na chegada, lá do ar,
Nos faz sorrir, tremer, e mais, sonhar,
Ao descer encontramos outro bem
Ao continuar ainda mais mirando,
Ao vermos, por fim também, focando
As torrentes cristalinas de água
Agora desabando
Em chuva tépida, lágrimas sem mágoa,
Que nos mostram as ilhas na paisagem,
Frente à Bahia, quase uma miragem,
Como gotas puras, meigas, generosas,
Quais gemas saindo preciosas
Do Atlântico que lhes presta vassalagem…
As mornas chuvas tropicais vão lavando
Nas ilhas o verde e o ouro naturais
E em instantes, minutos, vão limpando
Os tons de jade puro e de cristais,
Por caminhos tornados aquedutos,
Onde as águas escorrem cristalinas,
Onde chapinham rapazes e meninas…
A natureza parece estar sorrindo,
Banhada de alegria ao Sol fugindo
Qual corcel, que por ravina,
Ao vento correndo dá à crina…
Haragano, o Etéreo in Portaló
(Gil Saraiva)
II
“BAHIA”
Primeiro a Via Láctea,
Galáxia nossa no Universo imenso…
Uma vez localizada
Procurar a agulha no intenso
Palheiro celestial
E, quando encontrada,
Desvendar por fim o Sistema Solar,
Berço do nosso bem, do nosso mal,
Coisa nossa, casa, terra, lar…
Depois… depois o Sol, os Planetas… olha a Terra…
Oceanos, continentes… paz e guerra…
E, já focando os trópicos, bem mais perto,
Avistar o azul e o verde da Bahia,
Imagem inversa do deserto,
De mata atlântica, em total harmonia,
Brilhando plena à luz do Astro Rei,
Jóia maior que descrever nem sei…
Eis a Bahia finalmente…
Imagem sagrada que se guarda qual tesouro,
Que brilha mais do que ouro,
Num verde e azul por si só tão reluzente…
E quase gemo e grito:
Isso… Bonito!
Haragano, o Etéreo in Portaló
(Gil Saraiva)
"AZUL" Somos um ponto azul no céu imerso... Fonte de esperança, água, humanidade, E o infinito temos por vaidade... Parte de um todo unido... mas disperso... Somos um ponto azul no universo... Somos azul no céu, na claridade, Azul dos oceanos à verdade De uma simples palavra escrita em verso... Somos um todo azul e somos nada, Uns segundos no dia universal, Mas por sermos azul somos sinal Que existe vida nesta escura estrada... Somos a vida azul no cosmos negro, Somos o ponto, a chave... do segredo!... Haragano, O Etéreo in Cristal de Areia