XV
“PORTALÓ”
Erguido na floresta tropical,
Em plena mata atlântica nascido,
De chalé em chalé, foi construído
Charmoso hotel, bem perto do portal
Feito de história em arco magistral…
No Morro de S. Paulo ao Sol batido,
Encosta acima, p’lo verde escondido,
Parece poesia ao natural…
Tem nome de escritor cada chalé,
“Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”,
No nosso é já Pessoa que renasce
Em mensagem de amor, de paz, de fé…
O Atlântico enlaça a alma em nó,
Floresce nosso amor no Portaló!
Haragano, o Etéreo in Portaló
(Gil Saraiva)
XIV
“NA SOMBRA”
Aqui o verde é terra e é um espanto,
Do rio do Inferno à fortaleza,
Da ilha da saudade, em natureza,
Até ao galeão, p’lo verde manto…
Aqui o azul é mar, lágrima e canto,
É porto, é farol, sempre em beleza,
Oceano cristal, vida, pureza,
É navegar na praia do encanto…
Aqui respiro magia e sortilégio,
No Morro de S. Paulo, em Tinharé,
Séculos de histórias, máculas e fé
Chegadas de um passado em tempo régio…
Na sombra de um chalé, em Portaló,
Aqui, eu escrevo… aqui jamais ‘stou só!...
Haragano, o Etéreo in Portaló
(Gil Saraiva)
XII
“ROSA DO RIO”
Um dia, numa noite, sem esperar,
Ai, a mais bela flor, eu encontrei...
Como uma rosa, digna só de um rei,
Era como veludo ao desfolhar
Sem, no entanto, preciso ser tocar...
Gotas de orvalho nela vislumbrei,
Com um brilho que descrever não sei
E que então me fizeram deslumbrar...
Mas rosa a flor não era propriamente,
Descia à beira rio sem ter raiz,
Doava a tudo luz de tão feliz
Procurando aventura na corrente...
Era uma flor livre, era um sentimento,
Flor radical, pintura de um momento...
Haragano, o Etéreo in Portaló
(Gil Saraiva)
X
"SELVAGEM"
Passas rebelde, sem olhar ninguém,
Sorris de vida, procuras amor,
Tens a garra e a força do Condor
E duras as palavras para quem
Tenta deter-te a ti, sem vir por bem...
Tens no brilho do olhar um fogo, ardor,
Felino de vontades e fulgor,
Ansioso de ser feliz também...
Amas de coração, sem ser problema,
E não pareces ser essa ternura,
Que ocultas lá no fundo, em forma pura,
Soberana de vida, um diadema!...
Rainha és, num trono de coragem,
Mulher entre as mulheres... mais:... Selvagem!
Haragano, o Etéreo in Portaló
(Gil Saraiva)
X
"D. QUIXOTE"
Um sorriso do olhar... simples, mais nada...
Fazer parar o tempo nessa hora,
Saber morrer de amores, p’la vida fora,
Apenas p’lo teu ar de apaixonada...
E, então, te ver brilhar, de alma encantada,
Nesse crepuscular que a serra adora...
Sentir-te, à luz da vela acesa, agora,
A cintilar de vida, porque amada
Te sentes hoje, pra sempre, meu amor,
Vida, que me cativa e prende enfim...
Ah! Como é bom ser teu e ter em mim
Tudo o que sou, pra dar-me em mais furor...
E se me és Dulcineia, verso, mote:
Faz, por amor, de mim teu D. Quixote!...
Haragano, o Etéreo in Portaló
(Gil Saraiva)
VIII
"PERDIDO..."
Contigo quero ter o sexo porno,
Lascivo, sado, louco, inconcebível...
Contigo quero ter indescritível
Noite de amor, ao rubro, como um forno...
Contigo quero ser metal no torno,
Pronto pra ver moldado de impossível
Meu aço, às tuas mãos, inconcebível...
Contigo quero ter o beijo morno,
Dado pelos amantes imortais,
Em noites, p’los poetas, não sonhadas...
Contigo quero ver as madrugadas
Plenas de nós e amor, entre teus ais...
Contigo quero amar... louco, varrido...
E dentro do teu ser dar-me perdido!...
Haragano, o Etéreo in Portaló
(Gil Saraiva)
VII
"ALÉM DA MORTE..."
Eu amo-te, Ah!... Como eu te amo vida,
Luz, alma gémea, em mim redescoberta,
Tu és o rosto azul, na sala aberta,
Ao Sol que da janela, de fugida,
Te torna mundo, terra agradecida,
Por seres nascente, fonte, na deserta
Planície de mim, por ti desperta,
Qual Primavera solta, ao ar florida!...
Eu te amo, meu amor, flor encantada,
Perfume que o meu ser à força quer,
Deusa que Deus, um dia, fez mulher,
Para tornar minha alma apaixonada!
Tu és a minha estrela, a minha sorte,
E neste verso, minha... além da Morte!
Haragano, o Etéreo in Portaló
(Gil Saraiva)
XI
“CHALÉ FERNANDO PESSOA”
Aqui, no Portaló, em Tinharé,
Longe de Paris, Rio ou Lisboa,
A vida, qual sorriso de um bebé,
Segue calma, simples e tão boa…
“Tudo vale a pena”… A forma é pura,
A prosa à poesia dá frescura
Com aromas de ser e de natura,
Neste espaço feito luz e cor…
Cada chalé tem nome de poeta ou de um escritor,
Cada chalé tem um coração, tem um sentir,
Tem paz, tranquilidade e tem amor,
Tem essência, alma e existir…
A pena é verde aqui, como a mata atlântica
E a palavra é barco, galeão, canoa,
É terra que floresce de romântica…
Em Fernando Pessoa
Me instalei meia quinzena,
E me senti um Rei, sem ter a coroa,
De um quinto império sem arena…
Fiquei por Portaló enamorado,
E pelos versos de Pessoa eu inspirado
Entendi, então, de forma plena,
O que vale ter a alma não pequena…
Haragano, o Etéreo in Portaló
(Gil Saraiva)