Beijo Envolvente
114. Beijo Envolvente, desenvolvido numa cena de genuína sedução, numa atmosfera carregada de fantasia e rococós própria dos momentos de ultrarromantismo, em que tudo se parece conjugar como que saído de um molde cativante, imprimindo um cunho caraterístico ao local, às circunstâncias e ao tempo. Numa palavra, o cenário revela-se perfeito. Nos olhares sente-se a atração dos corpos, dos rostos e dos gostos. Inesperadamente ela sabe aquilo que a atrai nele e, como que por um inexplicável ímpeto, ele descobre tudo o que ela tem de encantador. Só então o beijo acontece. Lânguido no começar, emotivo depois do primeiro toque, vivido em plena devoção no decurso da ação, envolvente na transcendência do transporte das mentes para as sensações tépidas dos lábios, que se humedecem mutuamente, enquanto ambos se sentem conduzidos para mundos julgados impossíveis. Beijo envolvente que nascendo de um quase nada, sem um como ou um porquê, sem racionalismos ou filosofias, apenas ao serviço das cativações próprias do sentir, desagua em cenas feitas de beijar, por entre sombras vacilantes de velas, que parcas luzes emanam, entre olores lúbricos e palatos feitos quinta-essência, numa foz impetuosa lotada dos mais finos nutrientes de um amar.