XIV
"POR MAIS..."
Por mais
Que o encanto
Pareça estar quebrado...
Por mais
Que o sonho
Tenha dado lugar ao Sol
Depois de um raiar irritante
E nublado da aurora...
Por mais
Que o cotidiano
Me tente chamar à razão,
Qual despertador enervante,
Repetitivo,
Monótono
E incansável...
Por mais
Que a flor
Se encontre oculta...
Por mais
Que tudo...
Nada vai parar
Quem sonha
Com o que sabe querer,
Por mais
Que o sonho
Demore a chegar...
Por mais que o sonho
Demore
A sonhar...
Haragano, O Etéreo in Nos Caminhos da Flor
(Gil Saraiva)
XIII
"ONDE ESTÁS?"
Onde estás?...
Tu iluminas meus sonhos
Noite após noite
Como se eterna fosse
A tua luz...
Onde estás?...
Tu que me fazes sentir gente
Por entre gente
Que jamais o foi...
Onde estás?
Tu que saíste
Do cotidiano das imagens
Pra te instalares
Pra sempre
Em minha mente...
Onde estás?
Tu que és a seiva
Que me corre nas veias,
O gosto que me vem à boca,
O odor que me invade
O cérebro escravizado...
A flor oculta
Que floresce em meus sentidos...
Onde estás?
Diz-me pra que eu possa
De novo ser alguém!!!
Haragano, O Etéreo in Nos Caminhos da Flor
(Gil Saraiva)
XVI
"UM POEMA"
Um poema
Nada tem de silencioso,
Mágico ou natural,
É sim um grito mudo
Do amago de quem escreve
Para a essência de quem lê...
Se for ouvido é música divina,
É arte,
É voz...
Mas se na valeta
Do esquecimento
Ele cair
Então
O poeta morreu uma vez mais,
Mas não sem antes sofrer muito
Para além do suportável
Pelo comum dos mortais...
Quantos de nós,
Muito além desse sentido,
A que chamamos de audição,
Escutamos realmente o grito mudo?
Quantos de nós ouvimos
No marasmo do nosso cotidiano
Um só poema?
"-Depende..."
Dirão os mais sensíveis...
"-Eu acho que sim!"
Afirmarão os convencidos
Pelas lições que a vida
Lhes foi dando...
"-Eu escuto..."
Dirás tu
Com medo da tua própria voz...
Um poema
Nada tem de silencioso,
Mágico ou natural,
É sim um grito mudo
Do amago de quem escreve
Para a essência de quem lê...
Haragano, O Etéreo in Achas para um Vagabundo
(Gil Saraiva)
"COTIDIANO" Tu és o Cotidiano Invariavelmente igual! Só tu estás em toda a parte, Todo o dia... Todo o ano... Num pôr-do-sol tropical, Vulgarizado pla Arte Ou em qualquer altitude, Latitude ou longitude; Na Virtude, lá no fundo Dos oceanos salgados... Ou nos Tempos já passados Ou nos risos escondidos; Nos gritos loucos da Morte, Nas chagas dos mal nascidos Ou nas cartadas da Sorte... Tu és o Cotidiano Invariavelmente igual! E se algum dia tentarem Quebrar, de alguma forma, O ritmo... em ti... normal Terão feito, terão sido O que tu és: Invariavelmente igual, Invariavelmente iguais: Cotidianos... nada mais! Haragano, O Etéreo in O Próximo Homem