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Desabafos de um Vagabundo

Serve este local para tornar visível o pensamento do último dos vagabundos que conheço: EU! Aqui ficarão registados pensamentos, crónicas, poemas, piadas, quadros, enfim, tudo o que a imaginação me permite

Serve este local para tornar visível o pensamento do último dos vagabundos que conheço: EU! Aqui ficarão registados pensamentos, crónicas, poemas, piadas, quadros, enfim, tudo o que a imaginação me permite

Beijo de Bruma

057 - bruma.jpeg

57. Beijo de Bruma… imagine um fim de tarde onde o crepúsculo se anuncia pelo mais romântico pôr-do-Sol de que alguma vez houve memória. Imagine também que tudo se passa à beira-mar, num dia quente e húmido, onde o azul da água contrasta com o branco macio do areal e o laranja de um astro em retirada. Imagine a falésia por detrás envolta no entardecer a ser coberta por uma nuvem de algodão que se apressa na brisa por chegar ao mar. Imagine-se menina de cabelos ao vento recebendo o beijo que nem amnésia poderá fazer esquecer, é esse o beijo que se descreve aqui… Um beijo de bruma.

Beijo de Até Amanhã

037 - até_amanhã.jpg

38. Beijo de Até Amanhã, vindo da forja dos que são quotidianos, habituais e quase que automáticos. Dos que começam por ser um simples sinal de despedida, mas que rapidamente ganham formas novas e se transformam numa demonstração de afeto, carinho, amizade, porque se escolhe a quem se dão e não se entregam indiscriminadamente, pela rua fora, a quem por nós passa no crepúsculo de um dia que se esgota. Nada disso, este é um beijo dos que implicam saudade mesmo antes da despedida, de uma despedida qualquer, uma daquelas que nem é sequer um adeus, pois que nele reside, apenas e só, um "até amanhã"…

Beijo à Antiga

022 - à antiga.jpg

23.Beijo à Antiga, como um daqueles que se davam noutros tempos, cheios de pompa e circunstância, precedidos da devida vénia, do fletir do joelho, do olhar que se desviava de cima para baixo para depois ascender gradualmente de baixo para cima, enquanto os lábios do interlocutor afloravam ao de leve, e quase timidamente, a mão delicada da Dama, a quem se oferecia o respeitoso, embaraçado e envergonhado cumprimento, num ato de pura devoção, de profunda fé, de lascivo mas oculto desejo que implora revelação mas que tudo faz para se manter nas sombras de um crepúsculo onde reside matreiramente de forma sábia.

Poemas de um Haragano: Achas de um Vagabundo – Quem

 

     XII

 

"QUEM..."

 

Quem

Tem na esperança

O sussurrar cálido das marés?

 

Quem

Encontra no próprio reflexo a alegria

De vivo se sentir com confiança?

 

Quem

Procura sempre o impossível

Sem temer ou mesmo desistir...?

 

Quem

Sente o nascer do Sol

No crepúsculo insustentável da madrugada?

 

Quem

Reconhece ser seu o Vagabundo

Perdido nos Limbos pela busca?

 

Quem

Vê o Haragano na bruma

E lhe reconhece os traços do Éter?

 

Um só alguém!...

E esse quem

Não tem o que temer,

Por que tremer,

Pois brilha mais alto,

Mais forte e mais além...!

 

E luta, como luta mais ninguém,

Mesmo na mais temível escuridão,

Acabando por encontrar, por conquistar,

E por sorrir, enfim, ao ver no espelho

A imagem refletora de um futuro

Que em cada segundo se torna presente...!

Que em cada “impresente” renasce em saudade!...

 

Assim...

Todos saberão conhecer o tal de quem,

Que no sussurrar ameno das marés,

Completará um próximo devir,

Com a forma simples de um sorrir...

 

Mas será realmente que esse quem,

Com a “imatemática” clareza dos sentidos,

Sente, o amor, sem incerteza?

Mesmo sem temer ou desistir?

Talvez...

 

Quantos ou quantas acharão sinais

E por engano se julgarão escolhidos?

Só quem acreditar que jamais

A ilógica absurda, de um tão grande amor,

Poderia servir de engodo vil

Ganhará a glória terminal!

 

E esse alguém terá...

No sussurrar cálido das marés,

Na alegria de vivo se sentir,

Na procura impossível sem temer,

No crepúsculo insustentável da madrugada,

No brilho mais alto, mais forte, mais além,

Na busca perdida pelos Limbos,

E na mais temível escuridão,

A taça da vitória conquistada,

A certeza de saber que o quem

É ele ou ela e mais ninguém!

 

Para mim,

Apenas importa esse meu quem!

E espero meu amor, querida, meu bem,

Que a taça seja eu e ela tua,

Tal como o infinito é mais além,

Tal como da Terra satélite é a Lua...

 

E só assim,

Por fim,

Na forma de um sorriso, feito belo,

O meu quem se refletirá da cara nua,

Por provir simples, franco, singelo,

Desse amado rosto, dessa face tua!

 

Haragano, O Etéreo in Achas para um Vagabundo

(Gil Saraiva)

Crepúsculo 09/02

O Crepúsculo...

"O CREPÚSCULO..."

Não sei porque encontro beleza
Num vespertino entardecer...?

Vejo pior,
Tudo parece envolto numa bruma
Feita de cinzas sem forma,
De contornos mal definidos,
De brilho escasso...

Perco a noção da distância,
Esforço o olhar,
E fico perdido
Na indefinição das tuas formas...
Não capto o cinismo
De quem bem não me quer...

O pôr do Sol
Muda-me a cor às coisas
Sem aviso prévio...
Num fogo que não queima
Mas que arde
De emoções que me confundem
Porque gosto delas...
Estranho... não?

Desgasta-se num ápice a luz
Do Astro Rei,
O brilho cristalino
Dá lugar a uma escuridão
Salpicada de breves lampejos estrelares
Que pouco ou nada
Ajudam na poupança de energia,
Nos lares de milhões,
A quem a noite afaga...

Saímos da rua,
Correndo para casa,
Em busca da fluorescência
Da lâmpada da cozinha...

Mas todos gostamos do entardecer,
Do crepúsculo,
Do ciclo infindo
Que se repete a cada dia...

Aqui, olhando a pedra,
Que clama liberdade,
Na praia da Adraga,
Erguida das águas para o céu,
Fugindo ao mar,
No brilho esbelo do Sol
Que já vai indo,
Tentei pensar porquê...?!

Talvez porque a penumbra
Nos torna mais atentos,
De sentidos em alerta,
De um apuro extremo,
Em condições optimizadas
Para abrirmos o coração
Mais facilmente
E sermos românticos...

Ou, talvez,
Porque o crepúsculo
Ao chegar
Também anuncia a madrugada
Que virá por certo
Num novo amanhecer...

O crepúsculo também anuncia a madrugada,
E como Jano,
Não tem uma só face:
Ao chegarem as trevas temos sempre
Aquela certeza interiorizada
De que a alvorada se fará não tarda...

Dialécticas da alma,
Na dicotomia que nos faz sentir
E ir em frente,
Entre o negro do rochedo
E o branco do Sol que desce,
Amando e chorando,
Rindo e desprezando...
Mas eternamente envoltos num crepúsculo
Que simboliza a esperança
De uma nova luz que há-de chegar
Depois da noite ultrapassada...

Adoro esse crepúsculo
Que me traz as noites em que amo
Ou temo,
Que me dá os dias em que o riso
É esperança...

Caramba,
Não é há toa que
O crepúsculo também anuncia a madrugada...

Haragano, O Etéreo in Memórias Da Terra

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