Serve este local para tornar visível o pensamento do último dos vagabundos que conheço: EU!
Aqui ficarão registados pensamentos, crónicas, poemas, piadas, quadros, enfim, tudo o que a imaginação me permite
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57. Beijo de Bruma… imagine um fim de tarde onde o crepúsculo se anuncia pelo mais romântico pôr-do-Sol de que alguma vez houve memória. Imagine também que tudo se passa à beira-mar, num dia quente e húmido, onde o azul da água contrasta com o branco macio do areal e o laranja de um astro em retirada. Imagine a falésia por detrás envolta no entardecer a ser coberta por uma nuvem de algodão que se apressa na brisa por chegar ao mar. Imagine-se menina de cabelos ao vento recebendo o beijo que nem amnésia poderá fazer esquecer, é esse o beijo que se descreve aqui… Um beijo de bruma.
38. Beijo de Até Amanhã, vindo da forja dos que são quotidianos, habituais e quase que automáticos. Dos que começam por ser um simples sinal de despedida, mas que rapidamente ganham formas novas e se transformam numa demonstração de afeto, carinho, amizade, porque se escolhe a quem se dão e não se entregam indiscriminadamente, pela rua fora, a quem por nós passa no crepúsculo de um dia que se esgota. Nada disso, este é um beijo dos que implicam saudade mesmo antes da despedida, de uma despedida qualquer, uma daquelas que nem é sequer um adeus, pois que nele reside, apenas e só, um "até amanhã"…
23.Beijo à Antiga, como um daqueles que se davam noutros tempos, cheios de pompa e circunstância, precedidos da devida vénia, do fletir do joelho, do olhar que se desviava de cima para baixo para depois ascender gradualmente de baixo para cima, enquanto os lábios do interlocutor afloravam ao de leve, e quase timidamente, a mão delicada da Dama, a quem se oferecia o respeitoso, embaraçado e envergonhado cumprimento, num ato de pura devoção, de profunda fé, de lascivo mas oculto desejo que implora revelação mas que tudo faz para se manter nas sombras de um crepúsculo onde reside matreiramente de forma sábia.
Não sei porque encontro beleza Num vespertino entardecer...?
Vejo pior, Tudo parece envolto numa bruma Feita de cinzas sem forma, De contornos mal definidos, De brilho escasso...
Perco a noção da distância, Esforço o olhar, E fico perdido Na indefinição das tuas formas... Não capto o cinismo De quem bem não me quer...
O pôr do Sol Muda-me a cor às coisas Sem aviso prévio... Num fogo que não queima Mas que arde De emoções que me confundem Porque gosto delas... Estranho... não?
Desgasta-se num ápice a luz Do Astro Rei, O brilho cristalino Dá lugar a uma escuridão Salpicada de breves lampejos estrelares Que pouco ou nada Ajudam na poupança de energia, Nos lares de milhões, A quem a noite afaga...
Saímos da rua, Correndo para casa, Em busca da fluorescência Da lâmpada da cozinha...
Mas todos gostamos do entardecer, Do crepúsculo, Do ciclo infindo Que se repete a cada dia...
Aqui, olhando a pedra, Que clama liberdade, Na praia da Adraga, Erguida das águas para o céu, Fugindo ao mar, No brilho esbelo do Sol Que já vai indo, Tentei pensar porquê...?!
Talvez porque a penumbra Nos torna mais atentos, De sentidos em alerta, De um apuro extremo, Em condições optimizadas Para abrirmos o coração Mais facilmente E sermos românticos...
Ou, talvez, Porque o crepúsculo Ao chegar Também anuncia a madrugada Que virá por certo Num novo amanhecer...
O crepúsculo também anuncia a madrugada, E como Jano, Não tem uma só face: Ao chegarem as trevas temos sempre Aquela certeza interiorizada De que a alvorada se fará não tarda...
Dialécticas da alma, Na dicotomia que nos faz sentir E ir em frente, Entre o negro do rochedo E o branco do Sol que desce, Amando e chorando, Rindo e desprezando... Mas eternamente envoltos num crepúsculo Que simboliza a esperança De uma nova luz que há-de chegar Depois da noite ultrapassada...
Adoro esse crepúsculo Que me traz as noites em que amo Ou temo, Que me dá os dias em que o riso É esperança...
Caramba, Não é há toa que O crepúsculo também anuncia a madrugada...