Serve este local para tornar visível o pensamento do último dos vagabundos que conheço: EU!
Aqui ficarão registados pensamentos, crónicas, poemas, piadas, quadros, enfim, tudo o que a imaginação me permite
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113. Beijo Envergonhado dado de forma embaraçada, suavemente, no rosto de quem se quer bem, não sem antes se ter passado por um processo de extrema complexidade… Primeiro no desenvolvimento da ideia (porque a vontade, esse desejo interior de beijar, seria por certo forte desde o primeiro momento). Depois a aproximação gradual, lenta (e quase que em pânico constante de se poder cometer um erro), à pessoa escolhida. Por fim o segundo em que o beijo é desferido (sim, porque por receio a duração será obviamente curta, quase curta demais para ser sentido por quem o recebe), naquela face suave que o acolhe, sem que nunca a recetora sequer possa imaginar como tal feito foi épico e glorioso. Um beijo entregue timidamente, envergonhado, de um modo ténue, como quem colhe uma flor silvestre, num passeio pelo campo na beira de um caminho, e a entrega, de braço estendido cobrindo o rosto, à dama que lhe roubou o coração.
92. Beijo Delicado, qual flor de estufa que não pode ser tratada de qualquer maneira. A fragilidade aqui obriga a extremos e ariscados cuidados de assistência quase que permanente. Tudo isto porque existe o periclito de poder ser rejeitado de forma abrupta, e com alguma aspereza, pela menina, senhora ou dama a quem o beijo se destinava pelos desígnios da nossa escolha e vontade. Para chegar a bom porto este ato terá de levar com ele o charme do concessor, arrebatando no romantismo do enlaço a força, o dinamismo e a energia positiva do ambiente para tentar levar de vencida a resistência feminina que poderia levar a uma possível rejeição. Depois, por fim, dissipadas as dúvidas, aplica-se paixão e beija-se com alma.
83. Beijo de Corte, poderia ser este um beijo de vénia, de charme ou à Luís XV, mas embora ele possa ter toda essa força incluída, aqui importa mais o sentido do próprio do fazer a corte, do engalanar-se de rodeios e insinuações para se valorizar. Tudo à volta tem de ser criado de modo a dar-lhe grandeza e interesse, beleza e carisma, desejo e subtileza. Afinal interessa que a dama escolhida se sinta atraída pelo ambiente, pelo cavalheiro e pelo próprio beijo de um modo tão irresistível que a corte se torne eficaz levando a donzela a sentir-se rainha, o cavalheiro a imaginar-se nobre e o beijo a tornar-se épico.
73. Beijo de Charme, tradicionalmente depositado, bem à moda antiga, nas costas da mão direita da dama a quem se destina. Obedece ainda ao movimento do fletir das costas do cavalheiro, em gesto de vénia e se bem executado, os olhos deste nunca perdem o olhar da donzela. Assim ele vai medindo interessadamente o impacto da dádiva entregue. Porém existe uma outra forma, mais moderna, de o realizar. Aqui o cavalheiro, vestido a preceito, segura na mão da menina e, em vez de a beijar, encosta-a ao seu peito obrigando à proximidade dos corpos, permitindo a mistura dos odores de cada um. Depois deposita levemente um beijo demorado, porque um segundo nisto quase parece uma eternidade, em cada face da sua companheira, ou, às vezes, ao de leve nos lábios, trocando no final um olhar de fechar de pálpebras com os olhos em brilho cintilante. Beijo de charme, dado com elegância, realizado com pudor, inventando uma malandrice latente, mas contida na espera óbvia de uma rendição.
63. Beijo Caramelizado de veludo na seda de uma derme menina, tornada dama pelo cultivo doce de um encadeamento guloso. Beijo transformado em ato de intensa cumplicidade na superfície da pele macia, perfumada, onde os sentidos se perdem voluntariamente deitando fora mapas, GPS, bússola, sextante ou outro qualquer aparelho de localização mais sofisticado. Tudo por um momento a dois que se quer singular na forma e plural nas réplicas. Uma sequência produzida na senda ávida da criação de eventos únicos que se reproduzem espontaneamente graças ao prazer que originam. Beijo caramelizado porque nada é tão doce como o beijo certo.
23.Beijo à Antiga, como um daqueles que se davam noutros tempos, cheios de pompa e circunstância, precedidos da devida vénia, do fletir do joelho, do olhar que se desviava de cima para baixo para depois ascender gradualmente de baixo para cima, enquanto os lábios do interlocutor afloravam ao de leve, e quase timidamente, a mão delicada da Dama, a quem se oferecia o respeitoso, embaraçado e envergonhado cumprimento, num ato de pura devoção, de profunda fé, de lascivo mas oculto desejo que implora revelação mas que tudo faz para se manter nas sombras de um crepúsculo onde reside matreiramente de forma sábia.