NOS CAMINHOS DA FLOR
I
"A PALAVRA"
O bar ao fundo...
O motivo era a espera,
Uma espera com fim anunciado:
Ela não devia demorar!
Na sala cheia ninguém dava por mim,
Naquele canto destinado
A ilustres desconhecidos,
Como eu, aliás...
A multidão falava de quotidiano,
Falava de tudo,
Mesmo sem muito conseguir acrescentar...
Na minha mente
Uma só palavra parecia bailar
Entre a ponta da língua
E a garganta seca da cerveja
Já extinta no copo da imperial,
Havia algum tempo...
O bar ao fundo...
Uma só palavra...
E ela que tardava...
Pela milionésima primeira vez
Consultei o relógio,
Era verdade:
Os segundos continuavam a passar
No ritmo incontrolável
Do Tempo...
Levantei o olhar...
Ela sorriu para mim
Uma vez mais,
Como mil e uma vezes o fizera
Anteriormente...
E a palavra ganhou forma de novo,
E o Tempo parou,
E o bar pareceu vazio,
E a garganta húmida
Ganhou voz e lançou a palavra,
Pela milionésima segunda vez,
Pela ponta da língua:
Amo-te!
Haragano, O Etéreo in Nos Caminhos Da Flor
(Gil Saraiva)
IV
"ELA..."
Ela
Não podia estar ali...
Talvez...
Nos confins do pensamento,
Longe de tudo...
Não de todos!...
Um rosto jovem no sorrir...
Um rosto,
Com raios de Sol
Caindo nos ombros,
Em cabelos de um ouro
Que brilha no escuro...
O azul do mar
Repousando nas pálpebras,
De uns olhos castanhos
Que brilham também...
Um doce poente
Poisado nos lábios,
De uma boca que arde
E cheira a pecado...
Um luar de prata
Em seu meigo rosto,
De uma Lua Cheia
Que ilumina a serra...
Os traços de Vénus
Moldados num corpo,
Que Gaia quis tão fértil
Como sensual...
O entardecer
Descendo no ventre,
Qual crepúsculo
Anunciando a plenitude...
O sabor a sal
Colando-lhe as coxas,
Húmidas de ansiedade,
De ante prazer...
O toque da seda
Envolvendo os seios,
Tentando esconder
A derme perfeita...
O amor perdido
Em seu terno olhar,
Que busca sedento
Outro olhar igual...
E um ar de oásis
Cobrindo-lhe a pele,
Qual neblina ténue
Desejando Sol...
Ela...
Não podia estar ali...
Talvez...
Perto de alguém,
Imaginário ninguém,
A quem esperava,
Um dia,
Vir a encontrar!...
Ela
Não podia estar ali...!
Não!...
Não existe tal paisagem,
Pois as quimeras
Nunca são reais!
Mas...
Se por força
De acasos impensáveis,
A paisagem
Não for mera miragem...
Se o ocaso
Realmente for poente
Que chega ante meus olhos
Suspensos na exceção,
Então... então...
Então tudo eu dou
Pela paisagem!...
O que sou,
O que fui
E o que serei,
O que tenho
E o que possa vir a ter...
Tudo!...
Porque tudo é pouco
Se puder na paisagem
Meu ser eu colocar...
Num canto,
Ali...
Mas enquadrado...
Ela
Não podia estar ali...
Haragano, O Etéreo in Achas para um Vagabundo
(Gil Saraiva)
"ELA..." Ela Não podia estar ali... Talvez... Nos confins do pensamento, Longe de tudo... Não de todos!... Um rosto jovem no sorrir... Um rosto, Com raios de Sol Caindo nos ombros, Em cabelos de um ouro Que brilha no escuro... O azul do mar Repousando nas pálpebras, De uns olhos castanhos Que brilham também... Um doce poente Poisado nos lábios, De uma boca que arde E cheira a pecado... Um luar de prata Em seu meigo rosto, De uma Lua Cheia Que ilumina a serra... Os traços de Vénus Moldados num corpo, Que Gaia quis tão fértil Como sensual... O entardecer Descendo no ventre, Qual crepúsculo Anunciando a plenitude... O sabor a sal Colando-lhe as coxas, Húmidas de ansiedade, De ante-prazer... O toque da seda Envolvendo os seios, Tentando esconder A derme perfeita... O amor perdido Em seu terno olhar, Que busca sedento Outro olhar igual... E um ar de oásis Cobrindo-lhe a pele, Qual neblina ténue Desejando Sol... Ela... Não podia estar ali... Talvez... Perto de alguém, Imaginário ninguém, A quem esperava, Um dia, Vir a encontrar!... Ela Não podia estar ali...! Não!... Não existe tal paisagem, Pois as quimeras Nunca são reais! Mas... Se por força De acasos impensáveis, A paisagem Não for mera miragem... Se o ocaso Realmente for poente Que chega ante meus olhos Suspensos na excepção, Então... então... Então tudo eu dou Pela paisagem!... O que sou, O que fui E o que serei, O que tenho E o que possa vir a ter... Tudo!... Porque tudo é pouco Se puder na paisagem Meu ser eu colocar... Num canto, Ali... Mas enquadrado... Ela Não podia estar ali... Haragano, O Etéreo in Achas para um Vagabundo