X
"NASCE"
Temos esta noite...
Pensa bem...
Que importa o amanhã
Se hoje existimos...?
Se podes escrever
As palavras
Que me invadem o ser
E me viciam...
Que importa o amanhã...?
Vício de ti...
É virtual?
Interneticamente inatingível?
Que importa o amanhã
Se a noite é nossa...?
Se é o futuro
Que te dá alento,
Porque não pode o presente
Ser esperança?
Ahhhhh!!!
Nasce comigo em cada tecla!...
Nos diálogos frenéticos
Das janelas privadas,
Fechadas a todos
Que não a nós...
Nasce comigo em cada letra
Teclada com a força
Do bater arrítmico
De nossos corações perdidos,
Para a eternidade,
De tanta paixão...
Ahhhhh!!!
Nasce comigo antes de amanhã,
Porque o agora existe!...
E é nosso amor,
É todo nosso!!!
Que importa o amanhã...?
Diz-me!
Que importa...?
Haragano, O Etéreo in Achas para um Vagabundo
(Gil Saraiva)
IX
"NÃO POR MIM..."
Às vezes acho-me um ser híbrido...
Não importa se o sou
Mas o que penso...
É como se metade do que me constitui
Fosse sentir
E só a outra parte de mim
Fosse homem nato...
Sou, tal como o dia tem na noite
Uma outra face,
Um ser ambidestro
No que toca à mística
Representada pelo coração...
Um quase ser criança
Entre pudores que,
Nesta idade que tenho,
Já extintos deveriam estar.
Mas corre-me nas veias o devir...
A sensação última de atingir
A plenitude das coisas
Simples e pequenas
Que permanecem fiéis à memória
De quem realmente as viveu
Com existência.
Mas para que falo eu isto?
Que importância tem?
Ahhhhhhh...
Importa refletir,
Sentado nas escadas alvas e frias
Do mármore que edifica e marca
Cada registo do que sou,
Tentando sempre
Ir mais longe no pensar...
O que me move?
Ou, talvez, o que me comove?
Ou, ainda, o que me demove...?
É delicioso poder concluir que,
Em cada caso,
A chave é sempre a mesma:
Sentimentos!
Vindos de dentro,
Da arca radioativa de amor
À qual chamamos alma...
Sentimentos,
Desempacotados pelo espírito
Que nos torna humanos,
Postos a render
Para que possamos desfrutar,
A cada pegada impressa
No caminho da vida,
A realização do que deveríamos ser
Para que o existir tenha um propósito:
Sermos Felizes...
A demanda pela verdade
É um falso caminho se no final da linha
Não encontrarmos o amor!
É pela sensualidade dos corpos
Que a alma,
Feita espírito inventivo,
Nos mostra a excelência de uma espécie
Com milénios de existir:
O Ser Humano.
Um ser que não se reproduz apenas,
Mas que se funde em harmonia
Sempre que a longa busca pela alma gémea
Se conclui com êxito.
Ser sensual é ser-se humano
E ter com isso a esperança
De perpetuar a espécie
Por forma a poder gritar bem alto,
Aos quatro ventos:
É amor!...
Às vezes acho-me um ser híbrido...
Não pelo que sou
Mas pelo que os meus olhos captam
Do mundo a que chamamos evoluído...
Onde sensualidade
Se confunde com pornografia,
Tal como o bem se confunde com o mal...
Às vezes
Acho-me um ser híbrido,
Mas não por mim...
Não por mim...
Haragano, O Etéreo in Achas para um Vagabundo
(Gil Saraiva)
"ARDE"
Arde por teus cabelos o meu ser,
No fogo que deles vem me perco eu...
Arde comigo o sonho sem Morfeu
Nos braços me ter feito adormecer...
Arde, tão lentamente, o meu viver,
Parece durar mais que um jubileu...
Arde deste desejo de ser teu,
De esperança, de loucura, de te ter...
Arde na noite já a terminar,
Luz, que a distância não separa, é...!
Coração, vida, riso, alma, maré,
Ardem juntos num simples relembrar...
Arde no fogo tudo... é divinal...
Arde por ti a aurora boreal!...
Haragano, O Etéreo in Livro de Um Amor
(Gil Saraiva)