XVI
"SEM..."
Para ser um mito
De alguém
Eu teria de existir
Antes de ser,
De ter vivido
Antes de existir,
De ser sonhado
Antes de conhecido ser...
Porém,
Por tudo isso...
Não passo de simples rumor
Nas gargantas
De quem nunca me imaginou...
Sou um Vagabundo Dos Limbos,
Sou Haragano, O Etéreo,
Condenado a não sentir
O cheiro da rosa...
Sem que uma pétala
Deslize entre meus dedos,
Qual torrente de um rio
Com margem certa...
Sem que um espinho
Me prove que o sangue
Ainda corre em minhas veias...
Sem que a beleza de uma flor
Me cegue de amor,
Qual rosa do rio
Que murmura segredos de infinito
Em meus ouvidos...
Sou um Vagabundo Dos Limbos,
Haragano, O Etéreo,
Prisioneiro do aroma suave
De uma simples flor,
Mas longe de ganhar raízes
Nas profundezas íntimas
Desse botão aberto ainda
Sem destino...
Nos caminhos da flor,
Qual seiva
Que alimenta a planta,
Eu continuo
Sem rumo
Meu caminho para a extinção...
Haragano, O Etéreo in Nos Caminhos da Flor
(Gil Saraiva)
XIV
"POR MAIS..."
Por mais
Que o encanto
Pareça estar quebrado...
Por mais
Que o sonho
Tenha dado lugar ao Sol
Depois de um raiar irritante
E nublado da aurora...
Por mais
Que o cotidiano
Me tente chamar à razão,
Qual despertador enervante,
Repetitivo,
Monótono
E incansável...
Por mais
Que a flor
Se encontre oculta...
Por mais
Que tudo...
Nada vai parar
Quem sonha
Com o que sabe querer,
Por mais
Que o sonho
Demore a chegar...
Por mais que o sonho
Demore
A sonhar...
Haragano, O Etéreo in Nos Caminhos da Flor
(Gil Saraiva)
XII
"O VASO"
Aceita meu vaso,
Sê a minha flor,
Para que te possa regar
A cada dia
De sorrisos
E de mimos
No mais intimo
Da nossa alienação...
Aceita meu vaso,
De barro feio...
Bruto na forma,
Naïf no desenho,
Para que nele
Possas ser
A minha flor...
Aceita meu vaso,
No decoro do silêncio
Da nossa cumplicidade...
Deixa que nele te implante
Meiga flor silvestre...
E que te regue...
E que te cuide...
E que se murchares,
Por falta de carinho,
Se quebre o vaso;
E seque eu,
Na essência desta alma
Que lhe deu o barro...
Haragano, O Etéreo in Nos Caminhos da Flor
(Gil Saraiva)
XI
"O FIO..."
Que o meu grito aos astros
Se oiça nos confins do firmamento...
E que o seu eco se espalhe
Pelo infinito mundo das mensagens...
Que eu seja entendido
Ao menos uma vez...
Minhas palavras
São lágrimas de limbos
Que para se entenderem
Têm de ser sentidas
Por quem, como eu,
Chora o deserto para que nele
Uma flor possa nascer...
Se eu choro lágrimas de vagabundo
É porque estou condenado
A procurar um fim prá solidão...
Porque a solidão
Tem saída neste labirinto...
Mas quantos encontram
O caminho certo?
Quantos conhecem
O homem solitário,
Este ser que existe nas memórias
De quem com ele,
Um dia,
Foi feliz...
Vem amor, vem,
Juntos descobriremos o fio
Que nos conduz
À luz dos sentimentos,
Ao fim da sentença eterna
De vaguearmos perdidos pelos limbos...
Vem amor, vem,
Que o fio da vida
Pode a qualquer hora terminar...
Haragano, O Etéreo in Nos Caminhos da Flor
(Gil Saraiva)
IV
"ETERNA ROCHA"
A flor do jardim olhou para mim...
Eu, um Vagabundo Dos Limbos,
Da net; Senhor da Bruma, da noite;
Haragano, O Etéreo...
Lenda urbana de quem nunca
Ninguém ouviu falar...
Passava perto, a caminho da vida,
E a flor do jardim olhou para mim...
As pétalas penteadas pela brisa,
O tronco hirto e firme pela certeza,
As folhas como braços abertos
Em minha direção...
"- É contigo que eu quero partilhar
A minha essência...
Aqui, numa cama de pétalas,
Sob um céu de luar...
Vem! Terás contigo o perfume da noite,
O sorriso das estrelas,
A plácida tranquilidade da Serra
Perante a eterna vigília da Lua...
Vem! Ocupa o meu jardim, sê meu Senhor,
O Senhor da Serra da Lua,
Dono do meu amar, do meu amor..."
Olhei a flor do jardim...
Ainda suspirava na ansia da resposta...
Olhei a flor, ali, ao sol exposta,
Branca e pura como a pura neve,
Silvestre e livre como a liberdade,
Doce e bela como a natureza...
Sorri... Oh como eu sorri...
Sorri de orgulho daquele olhar florido
Em mim poisado,
De vaidade infinita por me sentir
O desejo profundo de uma flor
E respondi:
"- Flor, eu sou um Vagabundo Dos Limbos,
Da net; Senhor da Bruma, da noite;
Haragano, O Etéreo,
Lenda urbana de quem nunca
Ninguém ouviu falar,
Buscava perdido o caminho da vida,
Em confusão, e... afinal...
Tudo é tão mais simples...
Serei teu e serás minha
Se o orvalho da madrugada
Eu poder ser em tua sede,
Alimentando-te a raiz e o existir...
Serei, enfim, o solo onde te firmas,
Servo da terra onde és jardim...
Não te quero eu perder,
Dá-me o teu etéreo existir
Na eternidade,
Transmuta-me na Serra da Lua...
Que a minha voz seja agora
A do vento que sopra de Ocidente,
A saliva o mar
Que desagua no meu corpo
E meus passos as pegadas do futuro
Que um qualquer dinossauro
Marcou na eterna rocha..."
Haragano, O Etéreo in Nos Caminhos da Flor
(Gil Saraiva)
III
"BIUNIVOCAMENTE..."
Tu és o aroma
Que meus passos
Adoram percorrer,
O sorriso que ilumina
O fundo da minha alma,
A vida pela qual
Eu acabo por descobrir
Que tudo valeu a pena...
Mais do que a flor
És a essência,
A coerência,
A relação adequada
Entre o sentir
Que te transmito
Pelo conhecimento do que és
E o amor que me difundes
No cerne desse mundo
Que te constitui...
A essência...
A verdade...
A pureza dos princípios,
A lógica ordenada
De nossos olhares,
A ordem afrodisíaca
De uma linguagem mista,
Linguisticamente pura,
Absolutamente articulada,
Interativa...
Onde o discurso de incoerente
Desagua em ideias
Plenas de subjetividade,
De nuances incompreensíveis,
Em que tudo se resume
Àquilo que o coração
Chama de Amor...
Tu és o aroma,
O texto sagrado
De uma religião paranormal
Porque transcendente da razão...
Tu és o acontecimento,
A situação e mais ainda,
A equívoca equação
Que não se anula
Mas se traduz no íntimo
Deste teu interlocutor...
A falta de univocidade
Pode transformar nossas palavras
Num lugar indefinido
Que nenhum de nós
Consegue controlar...
Mas controlar para quê?
Importa sim sentir...
Sim... sentir...
O aroma
Que meus passos adoram percorrer,
O discurso de ideias
Plenas de subjetividade,
O texto sagrado
De uma religião paranormal,
A equívoca equação
Que não se anula,
O lugar indefinido,
Sem norma, sem razão,
Sem leis, sem regras,
Em que biunivocamente
Nos amamos!...
Haragano, O Etéreo in Nos Caminhos Da Flor
(Gil Saraiva)
XII
“ROSA DO RIO”
Um dia, numa noite, sem esperar,
Ai, a mais bela flor, eu encontrei...
Como uma rosa, digna só de um rei,
Era como veludo ao desfolhar
Sem, no entanto, preciso ser tocar...
Gotas de orvalho nela vislumbrei,
Com um brilho que descrever não sei
E que então me fizeram deslumbrar...
Mas rosa a flor não era propriamente,
Descia à beira rio sem ter raiz,
Doava a tudo luz de tão feliz
Procurando aventura na corrente...
Era uma flor livre, era um sentimento,
Flor radical, pintura de um momento...
Haragano, o Etéreo in Portaló
(Gil Saraiva)
VII
"ALÉM DA MORTE..."
Eu amo-te, Ah!... Como eu te amo vida,
Luz, alma gémea, em mim redescoberta,
Tu és o rosto azul, na sala aberta,
Ao Sol que da janela, de fugida,
Te torna mundo, terra agradecida,
Por seres nascente, fonte, na deserta
Planície de mim, por ti desperta,
Qual Primavera solta, ao ar florida!...
Eu te amo, meu amor, flor encantada,
Perfume que o meu ser à força quer,
Deusa que Deus, um dia, fez mulher,
Para tornar minha alma apaixonada!
Tu és a minha estrela, a minha sorte,
E neste verso, minha... além da Morte!
Haragano, o Etéreo in Portaló
(Gil Saraiva)
"FLOR COLHIDA..."
Ter no sentir o brilho do poente,
Ter o olhar profundo, inconformado,
Que mais parece ser o resultado
Do espelho que da alma é transparente...
Ter no sorriso a luz de um branco quente,
Num cativar exclusivo, arrebatado,
Que tem de simpatia e de pecado
Tanto como de vida e de inocente...
E ser sereia e mar na Internet
Ou flor crescendo em bruto na colina...
Ter tudo, enfim, e ser adrenalina
De quem num só olhar se compromete...
Ser simples como a flor que, ao ser colhida,
Descobre quem por ela dá a vida...
Haragano, O Etéreo in Livro de Um Amor
(Gil Saraiva)
“ROSA DO RIO”
Um dia, numa noite, sem esperar,
Ai, a mais bela flor, eu encontrei...
Como uma rosa, digna só de um rei,
Era como veludo ao desfolhar
Sem, no entanto, preciso ser tocar...
Gotas de orvalho nela vislumbrei,
Com um brilho que descrever não sei,
E que então me fizeram deslumbrar...
Mas rosa a flor não era propriamente,
Descia à beira rio sem ter raiz,
Doava a tudo luz de tão feliz
Procurando aventura na corrente...
Era uma flor livre, era um sentimento,
Flor radical, pintura de um momento...
Haragano, O Etéreo in Livro de Um Amor
(Gil Saraiva)