Serve este local para tornar visível o pensamento do último dos vagabundos que conheço: EU!
Aqui ficarão registados pensamentos, crónicas, poemas, piadas, quadros, enfim, tudo o que a imaginação me permite
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105. Beijo Egípcio, dado de perfil, sob a tutela do rei dos deuses do Egito fundido com o deus do Sol, Ámon-Rá. Um beijar de olhos quase fechados, num rasgar que apenas nos deixa ver contornes, apelando aos outros sentidos, onde o olfato ganha força, o tato, dimensão e o paladar significado. Beijo entregue a 38 graus à sombra, num calor que vem de dentro, mas que nos refresca e bem dispõe, qual oásis, no meio da densa areia do nosso imenso, infindável e piramidal quotidiano. Um ato que se arquiva no sarcófago sagrado da memória, para sempre mumificado com fragrâncias de oxalá, suspiros de souvenir e contactos recriados em cada recordar. Beijo de abrigo onde ganhamos a energia necessária para prosseguir antes de continuarmos essa viagem única a que chamamos vida.
92. Beijo Delicado, qual flor de estufa que não pode ser tratada de qualquer maneira. A fragilidade aqui obriga a extremos e ariscados cuidados de assistência quase que permanente. Tudo isto porque existe o periclito de poder ser rejeitado de forma abrupta, e com alguma aspereza, pela menina, senhora ou dama a quem o beijo se destinava pelos desígnios da nossa escolha e vontade. Para chegar a bom porto este ato terá de levar com ele o charme do concessor, arrebatando no romantismo do enlaço a força, o dinamismo e a energia positiva do ambiente para tentar levar de vencida a resistência feminina que poderia levar a uma possível rejeição. Depois, por fim, dissipadas as dúvidas, aplica-se paixão e beija-se com alma.
83. Beijo de Corte, poderia ser este um beijo de vénia, de charme ou à Luís XV, mas embora ele possa ter toda essa força incluída, aqui importa mais o sentido do próprio do fazer a corte, do engalanar-se de rodeios e insinuações para se valorizar. Tudo à volta tem de ser criado de modo a dar-lhe grandeza e interesse, beleza e carisma, desejo e subtileza. Afinal interessa que a dama escolhida se sinta atraída pelo ambiente, pelo cavalheiro e pelo próprio beijo de um modo tão irresistível que a corte se torne eficaz levando a donzela a sentir-se rainha, o cavalheiro a imaginar-se nobre e o beijo a tornar-se épico.
75. Beijo à Chuva, o espelho cristalino dos beijos românticos e de conquista. Traduz claramente que o amor vence os elementos, na luta pela sua realização, pela sua única e inabalável força. Um poder quase divino, fazendo os corpos esquecer o meio porque, no seio daquela união selada pelas bocas, existe um querer imaterial mais forte que gravidade ou magnetismo, que clima ou atmosfera, que habitat ou natureza. Beijo soberbo porque aquele género de afeto não tem barreiras, não desiste perante os obstáculos, não se perde na tempestade, nem se acalma na bonança. Ele é o bem supremo quando encontrado no seu estado mais puro e, sem explicações, está muito para além da inteligência, do saber e do conhecimento. Beijo à chuva, maior que as almas, as crenças, os credos, os sentidos e os elementos, maior que o universo, porque nada é maior do que a conquista do amor que este beijar representa a cada acontecer.
12. Beijo de Alma, porque há beijos que nem precisam de ser dados para se sentirem bem na essência do nosso interior mais profundo, porque é algo que nos vem do âmago com a intensidade que adur a palavra amor consegue traduzir, com a força que apenas o verbo querer é capaz de transportar, com a certeza que unicamente a verdade sabe transmitir, com a ganância que só pode ser gerada pelo desejo genuíno, rico de sentir, efervescente no molde mas relaxado na execução. Beijo de alma porque poucos o sentem, mas menos ainda os recebem...