13. Beijo no Altar , um beijo de consumação de um casamento, normalmente religioso na origem, machista na determinação verbalizada pelo sacerdote, tradicional na forma, antigo na prática e, quantas vezes totalmente desprovido de sentimentos de um ou dos dois interlocutores. Porém, quanto convicto e assumido pelas partes, é um beijo de consolidação absoluta, de amor, de cumplicidade, de partilha social de sentimentos e de anúncio de uma fórmula de um futuro que se espera longo, participado e íntimo até uma possível eternidade por acontecer.
IV
"ETERNA ROCHA"
A flor do jardim olhou para mim...
Eu, um Vagabundo Dos Limbos,
Da net; Senhor da Bruma, da noite;
Haragano, O Etéreo...
Lenda urbana de quem nunca
Ninguém ouviu falar...
Passava perto, a caminho da vida,
E a flor do jardim olhou para mim...
As pétalas penteadas pela brisa,
O tronco hirto e firme pela certeza,
As folhas como braços abertos
Em minha direção...
"- É contigo que eu quero partilhar
A minha essência...
Aqui, numa cama de pétalas,
Sob um céu de luar...
Vem! Terás contigo o perfume da noite,
O sorriso das estrelas,
A plácida tranquilidade da Serra
Perante a eterna vigília da Lua...
Vem! Ocupa o meu jardim, sê meu Senhor,
O Senhor da Serra da Lua,
Dono do meu amar, do meu amor..."
Olhei a flor do jardim...
Ainda suspirava na ansia da resposta...
Olhei a flor, ali, ao sol exposta,
Branca e pura como a pura neve,
Silvestre e livre como a liberdade,
Doce e bela como a natureza...
Sorri... Oh como eu sorri...
Sorri de orgulho daquele olhar florido
Em mim poisado,
De vaidade infinita por me sentir
O desejo profundo de uma flor
E respondi:
"- Flor, eu sou um Vagabundo Dos Limbos,
Da net; Senhor da Bruma, da noite;
Haragano, O Etéreo,
Lenda urbana de quem nunca
Ninguém ouviu falar,
Buscava perdido o caminho da vida,
Em confusão, e... afinal...
Tudo é tão mais simples...
Serei teu e serás minha
Se o orvalho da madrugada
Eu poder ser em tua sede,
Alimentando-te a raiz e o existir...
Serei, enfim, o solo onde te firmas,
Servo da terra onde és jardim...
Não te quero eu perder,
Dá-me o teu etéreo existir
Na eternidade,
Transmuta-me na Serra da Lua...
Que a minha voz seja agora
A do vento que sopra de Ocidente,
A saliva o mar
Que desagua no meu corpo
E meus passos as pegadas do futuro
Que um qualquer dinossauro
Marcou na eterna rocha..."
Haragano, O Etéreo in Nos Caminhos da Flor
(Gil Saraiva)
XII
"QUEM..."
Quem
Tem na esperança
O sussurrar cálido das marés?
Quem
Encontra no próprio reflexo a alegria
De vivo se sentir com confiança?
Quem
Procura sempre o impossível
Sem temer ou mesmo desistir...?
Quem
Sente o nascer do Sol
No crepúsculo insustentável da madrugada?
Quem
Reconhece ser seu o Vagabundo
Perdido nos Limbos pela busca?
Quem
Vê o Haragano na bruma
E lhe reconhece os traços do Éter?
Um só alguém!...
E esse quem
Não tem o que temer,
Por que tremer,
Pois brilha mais alto,
Mais forte e mais além...!
E luta, como luta mais ninguém,
Mesmo na mais temível escuridão,
Acabando por encontrar, por conquistar,
E por sorrir, enfim, ao ver no espelho
A imagem refletora de um futuro
Que em cada segundo se torna presente...!
Que em cada “impresente” renasce em saudade!...
Assim...
Todos saberão conhecer o tal de quem,
Que no sussurrar ameno das marés,
Completará um próximo devir,
Com a forma simples de um sorrir...
Mas será realmente que esse quem,
Com a “imatemática” clareza dos sentidos,
Sente, o amor, sem incerteza?
Mesmo sem temer ou desistir?
Talvez...
Quantos ou quantas acharão sinais
E por engano se julgarão escolhidos?
Só quem acreditar que jamais
A ilógica absurda, de um tão grande amor,
Poderia servir de engodo vil
Ganhará a glória terminal!
E esse alguém terá...
No sussurrar cálido das marés,
Na alegria de vivo se sentir,
Na procura impossível sem temer,
No crepúsculo insustentável da madrugada,
No brilho mais alto, mais forte, mais além,
Na busca perdida pelos Limbos,
E na mais temível escuridão,
A taça da vitória conquistada,
A certeza de saber que o quem
É ele ou ela e mais ninguém!
Para mim,
Apenas importa esse meu quem!
E espero meu amor, querida, meu bem,
Que a taça seja eu e ela tua,
Tal como o infinito é mais além,
Tal como da Terra satélite é a Lua...
E só assim,
Por fim,
Na forma de um sorriso, feito belo,
O meu quem se refletirá da cara nua,
Por provir simples, franco, singelo,
Desse amado rosto, dessa face tua!
Haragano, O Etéreo in Achas para um Vagabundo
(Gil Saraiva)
X
"NASCE"
Temos esta noite...
Pensa bem...
Que importa o amanhã
Se hoje existimos...?
Se podes escrever
As palavras
Que me invadem o ser
E me viciam...
Que importa o amanhã...?
Vício de ti...
É virtual?
Interneticamente inatingível?
Que importa o amanhã
Se a noite é nossa...?
Se é o futuro
Que te dá alento,
Porque não pode o presente
Ser esperança?
Ahhhhh!!!
Nasce comigo em cada tecla!...
Nos diálogos frenéticos
Das janelas privadas,
Fechadas a todos
Que não a nós...
Nasce comigo em cada letra
Teclada com a força
Do bater arrítmico
De nossos corações perdidos,
Para a eternidade,
De tanta paixão...
Ahhhhh!!!
Nasce comigo antes de amanhã,
Porque o agora existe!...
E é nosso amor,
É todo nosso!!!
Que importa o amanhã...?
Diz-me!
Que importa...?
Haragano, O Etéreo in Achas para um Vagabundo
(Gil Saraiva)
VI
"FELICIDADE"
Dar asas à imaginação exige
Que nos afastemos da realidade...
Não podemos imaginar
Presos no colete-de-forças
Das normas e das leis,
Dos parâmetros sociais
Em que estamos envolvidos...
Imaginar
Implica liberdade de espírito,
De conceitos, de regras e de tabus...
Tal como a imaginação
Apela a uma forte libertação
Também o amor demanda
Os mesmos procedimentos...
Para amar é preciso ser livre
E estar disposto a tudo...
A diferença entre amar e imaginar
Traduz-se no objetivo
De cada um dos termos,
Na força implícita
Que em cada caso teremos que usar...
Se a finalidade da imaginação
Se retracta no acto criativo
De gerar um contexto
Nunca antes tornado cognitivo,
Em que o esforço pedido à mente
É apenas de abstração,
Já amar obriga à utilização
De todos os recursos do ser
E tem, por fim,
A conquista inequívoca
Do que se ama...
Uma certeza podemos ainda acrescentar:
Quem ama utiliza, vezes sem conta,
A imaginação como recurso, meio,
Perspetiva e criação
Dos seus cenários de futuro,
Tornados presente em cada hora...
Já quem imagina apenas se limita
A criar a metáfora de cenários
Ou futuros possíveis
Sem a preocupação de com eles atingir
Qualquer nível de alegria.
É aqui que reside
A diferença fundamental:
Imaginar solicita um ato criativo
Por si só suficiente,
Enquanto amar possibilita
Que se encontre a chave última da razão
Pela qual todos existimos:
A felicidade!...
Por tudo isto
Eu confesso neste testemunho
Que sou livre e feliz:
Não só eu imagino que amo...
Como amo porque me tornei
Inegavelmente detentor
Da Felicidade!...
Haragano, O Etéreo in Achas para um Vagabundo
(Gil Saraiva)
III
"AMAR"
Amar, amar e só amar alguém;
Amar, por toda a vida, eternamente;
Amar, quem só nos ama, loucamente,
Amar, como Florbela... usar também
Por mote um de seus versos, que diz bem:
"Eu quero amar, amar, perdidamente,"
No futuro, passado, no presente,
Amar como eu nunca amei ninguém...
Amar quem nesse amor se adora e ama,
Em chamas de alegria e de calor,
Amar, por quem meu corpo arde, chama;
Chama que arde e dura por amor...
Amar, amar, amar, essa ternura,
Essa mulher que sonho ser loucura...
Haragano, O Etéreo in Terra De Vénus
(Gil Saraiva)