XV
“PORTALÓ”
Erguido na floresta tropical,
Em plena mata atlântica nascido,
De chalé em chalé, foi construído
Charmoso hotel, bem perto do portal
Feito de história em arco magistral…
No Morro de S. Paulo ao Sol batido,
Encosta acima, p’lo verde escondido,
Parece poesia ao natural…
Tem nome de escritor cada chalé,
“Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”,
No nosso é já Pessoa que renasce
Em mensagem de amor, de paz, de fé…
O Atlântico enlaça a alma em nó,
Floresce nosso amor no Portaló!
Haragano, o Etéreo in Portaló
(Gil Saraiva)
XIII
"LUAR DE SONHOS"
Chegou hoje branca a noite de luar
Com farrapos de sonhos no horizonte
Envolvendo a serra, monte a monte,
Humedecendo as almas de invulgar
Ambiente de oculto secular...
Chegou hoje branca a noite em alva fonte,
Entre luz e mistério sendo a ponte,
Que a Lua não nos diz como alcançar...
Chegou hoje branca a noite... quase trágica,
Translúcida de seres e sentimentos...
Chegou hoje branca a noite e por momentos
Raiou, em sensual passo de mágica,
Poisando branca em teus olhos tristonhos
E os transformando num luar de sonhos...
Haragano, o Etéreo in Portaló
(Gil Saraiva)
XI
"FLOR DA PELE"
Sentir, à flor da pele, o verbo amar,
Amar, de corpo e alma, com furor...
Sentir, vibrar, viver e pressupor
Que o ser humano tem num só olhar:
A força e a vontade de lutar,
A garra e o poder de sobrepor
A tudo e todos a palavra amor,
Por mais que essa palavra vá custar!...
Sentir, à flor da pele, toda uma vida,
No prazer divinal de um só orgasmo...
Viver de gosto, em pleno entusiasmo,
Amar sem fronteiras, foragida...
Assim sempre tu és... e, apaixonada
Amas-me à flor da pele... da pele suada!...
Haragano, o Etéreo in Portaló
(Gil Saraiva)
VI
"NAVEGAR"
Na frescura da derme acetinada
Se reflectem odores de sangue quente...
Reveste-lhe esse corpo a alma ardente,
Que no brilho do olhar se vê espelhada...
Génese de uma vida, de uma estrada,
Que apenas é trilhada por quem sente
O ser selvagem, por detrás da mente,
Que no sorriso parece tudo e nada...
É morno o toque, doce o paladar,
Fervente o cerne, corpo já sem mágoa,
Que parece nesta hora ir navegar
Em taças de luar, em rios d' água,
Onde apenas navega uma certeza:
A chama que o amor mantém acesa!...
Haragano, o Etéreo in Portaló
(Gil Saraiva)
V
“BRAÇOS ABERTOS”
Quando os braços abriste para mim
E me deste teu meigo e doce colo,
Não sei eu se segui o protocolo,
Mas sei que me senti mui’ bem assim
Entre teus braços… Abraço sem fim
Junto ao teu peito meigo em que me enrolo,
Por esse teu carinho um novo Apolo
Me fizeste sentir… Num folhetim
Daqueles de cordel, com muito mel,
Apaixonado e vivo uma vez mais.
Quando os braços abriste fui jamais,
Fui nunca, garanhão, eu fui corcel
Cavalgando por ti, fui haragano,
No abrir dos teus braços… oceano!
Haragano, o Etéreo in Portaló
(Gil Saraiva)
IV
“VERMELHA MALA”
O brilho dos teus olhos deste a mim,
O rubro dessa boca me ofertaste,
No calor de teus seios me amparaste,
Em teus braços… de mata fui jardim…
Um bom abrigo foste tu, enfim…
Com tuas ternas mãos me massajaste,
Com as pontas dos dedos me coçaste,
No fundo do teu ser fui Mandarim…
Agora te dou algo onde guardei
O tão forte bater do meu sentir,
O meu amar, o meu por ti sorrir,
O meu ser, porque a ti amor me dei…
Guarda-a bem amor, porque ela embala
Meu coração, esta vermelha mala…
Haragano, o Etéreo in Portaló
(Gil Saraiva)
III
“APOGEU”
Sua teu corpo amor e sua o meu
Até a vista nos ficar nublada,
Da fusão do contacto à pele suada
Sexo de fogo a noite desprendeu…
Seguindo unidos… Já amanheceu…
No Portaló um céu de trovoada
Parecia cantar, em alvorada,
A noite que entre nós aconteceu…
Veio a luz da manhã, se fez esplendor,
Brilhou como cristal a água azul,
Atracou um barco mais pra Sul
E buzinou pra nós o nosso amor…
Suou teu corpo amor, suou o meu,
De gota em gota… até ao apogeu!...
Haragano, o Etéreo in Portaló
(Gil Saraiva)
II
“A BATALHA”
Macumbas, fadas, anjos e bruxedos,
Sereias, mais encantos e vudu
Ou Iemanjá, milagre e tabu,
Trazem as trovoadas aos penedos…
Chuvas, calor e Sol entre rochedos,
Gotas de sal e sangue em rio Cairu…
Amor, suor e vida em corpo nu,
No Morro de S. Paulo são segredos…
Por toda a ilha o céu vence o inferno
E esta batalha não acaba mais,
Pois Tinharé protege seus mortais
Com seu manto de verde quase eterno…
Desde a primeira à quinta praia a vida
Usa o amor e a fé como saída…
Haragano, o Etéreo in Portaló
(Gil Saraiva)
PARTE III
RETRATOS
"OS SONETOS DO SONHO" ou
"O SORTILÉGIO DO AMOR"
I
“QUADRO DA BAHIA”
No calor amarelo da Bahia,
Passo eu Lua-de-mel inesquecível,
Perdido nessa carne apetecível
Num rodízio de amor e de alegria…
Damos na praia as mãos e vibra o dia,
A água à rocha dá beijo impossível,
Conversa a aragem em tons de invisível,
Respondem as palmeiras por magia…
Já tem três milhões de almas Salvador
E nós somos só duas de passagem,
Mais dois pontos num quadro da paisagem…
Respiramos o povo e somos cor,
No mercado modelo ou pelourinho
Somos da cor do mel, cachaça e vinho…
Haragano, o Etéreo in Portaló
(Gil Saraiva)
XII
“DESPEDIDA”
No Hotel Portaló o ser se reparte
Qual afago, festa ou cafuné,
De chalé em chalé
Cultura é baluarte
Que à natureza se mistura
Com engenho…
Quem chega,
Chega a um mundo à parte;
Quem parte
Não esquece o desempenho
De quem
O acolheu naquele hotel,
De quem
Lhe deu guarida,
Deu quartel,
Deu nova vida…
Portaló não é porta,
É como um véu,
Passar por ele só importa
Para quem quer ficar perto do céu…
Quem parte
Leva natura e arte
Quem chega
Tem saudades quando parte…
Haragano, o Etéreo in Portaló
(Gil Saraiva)