Serve este local para tornar visível o pensamento do último dos vagabundos que conheço: EU!
Aqui ficarão registados pensamentos, crónicas, poemas, piadas, quadros, enfim, tudo o que a imaginação me permite
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112. Beijo Entrelaçado, entre nós, dividido por dois, porque ninguém beija sozinho a não ser no reino distante da sua própria imaginação, onde tudo pode acontecer, mas sem a força viva e sentida da realidade. Um ato somado por ambos num só enlaço que se deseja unânime no empenho, inequívoco nas intenções, aprimorado no encadeamento da pele, das bocas, dos olhares e dos sentimentos. Beijo entrelaçado, qual cruzada, na luta pelo bem maior ao qual o verbo amar não é alheio, numa partilha de algo entre dois seres que se entregam mutuamente, trocando entre eles o comando das comutações, confundindo lábios, línguas e sons, gostos e aromas. Uma trança erótica de semblantes lascivos que se enleiam em concupiscências cúmplices que advêm, de um singular adrego de frenesim conjunto, do sorrir das almas para jubilo dos corações.
258. Beijo de Namorados, obrigatoriamente um beijo envolvente, arrebatador nas intensões límpidas de renunciar a qualquer resistência, disposto ao abandono passivo da entrega, emocional e apaixonado no desejo ímpar da comunhão do ato. Um beijo sensual e quase lascivo pela volúpia imaginada de lábios que se tocam, cruzam, fundem, proporcionando a comunicação direta das línguas, o acesso a uma conversa sem palavras nem recurso a dicionário. Beijo de namorados, universalmente conhecido, conduzindo, a dada altura, à erosão dos sentimentos numa metamorfose em que estes se transformam em sentidos que se deixam conduzir pelo instinto fecundo da união, num querer tão forte que lhe chamam amor, mas que pode não passar de paixão.
43. Beijo de Babel, tão intenso e grande como a Torre que lhe dá o nome. Um beijo que parece chegar ao céu, mas se aqui Deus quisesse frustrar o beijo insano confundindo-nos as línguas só o iria tornar mais intenso, mais vivo, mais perfeito, fazendo deste beijo a verdadeira caminhada até ao paraíso nunca antes encontrado em vida pelos simples mortais. No país verde e amarelo há quem lhe chame de beijo Ventilador ou Helicóptero como que a explicar os giros da língua dentro da boca do outro, como se fosse uma hélice, num baile próprio de ventoinha e até o apelidam de beijo aspirador de pó porque de tão intenso chega a ser profundo e sufocante. Esta junção entre dois seres toca as fronteiras do impossível, funde almas e corpos e faz-nos entender o que o amor tem de divinal. Agora o apogeu está bem ali, parece gritar, silvar como uma sirene industrial do século passado… Porém, o alarme à cabeceira da cama insiste e acabamos por finalmente acordar, deixando assim o beijo confuso e perdido em sonhos trocados numa Babilónia onde a torre nos atrapalha as línguas. Para o sentirem ambos vão ter que um dia, enfim, sonhar e acordar bem lado a lado…