"PERDIDO..." Contigo quero ter o sexo porno, Lascivo, sado, louco, inconcebível... Contigo quero ter indescritível Noite de amor, ao rubro, como um forno... Contigo quero ser metal no torno, Pronto pra ver moldado de impossível Meu aço, às tuas mãos, inconcebível... Contigo quero ter o beijo morno, Dado pelos amantes imortais, Em noites, plos poetas, não sonhadas... Contigo quero ver as madrugadas Plenas de nós e amor, entre teus ais... Contigo quero amar... louco, varrido.... E dentro do teu ser dar-me perdido!... Haragano, O Etéreo in Livro de Um Amor
(Gil Saraiva)
"GOTAS DE ORVALHO"
A Primavera está para ficar, Meu coração, por fim, se torna leve, Derrete nele a branca e pura neve Em lágrimas de amor, um rio pró mar... Agora com o Inverno a hibernar Deixa meu existir a hora breve... Novas palavras minha pena escreve, Puras gotas de orvalho a alimentar A flor de cardo que em minha alma existe... Agora a Primavera conspirou... Até ser dia a noite me beijou E o dia me sorriu... porque sorriste... Gota a gota subiu em arco um véu, Nosso arco-íris de amor subiu no céu... Haragano, O Etéreo in Livro de Um Amor
(Gil Saraiva)
"SENTIR"
Por fim senti o cheiro da oculta flor Escondida, de mim, por desvendar... Provei não só o gosto ao ir provar, Amei muito pra além do seu sabor...
Senti em cada pétala o amor No toque, em cada som, em cada olhar... Senti o impossível verbo amar Em odores de pele, rios de calor... Provei, senti, amei, enlouquecido... Plo desejo trepei, subi mais alto... E gozei himalaias num só salto, Everestes trepei na flor perdido... Senti... por fim, em mim, a forma adulta Me transformar também em flor oculta... Haragano, O Etéreo in Livro de um Amor
(Gil Saraiva)
“FIM DE TARDE”
O fim da tarde chega de mansinho
Ao seu lado trazendo o entardecer,
Mas o melhor de ver a luz descer
É saber meu amor lindo a caminho.
Vem do trabalho, de regresso ao ninho,
Atravessa Lisboa pra me ver
E ao chegar, o beijo que eu vou ter,
Faz-me esquecer as horas que sozinho
No Jardim da Parada eu esperei.
Campo de Ourique ganha nova vida,
As sombras do jardim viram guarida,
Num refúgio de amantes viro rei.
Do banco do jardim eu já governo
Mas só pelo teu beijo viro eterno!
Haragano, O Etéreo in Livro de Um Amor
(Gil Saraiva)
“JARDIM DA PARADA”
No Jardim da Parada pulsa vida,
Qual retrato moderno em bairro antigo,
Onde não paira nunca qualquer perigo
Do viver na Lisboa concorrida…
Campo de Ourique lá lhe dá guarida,
Agradece o Jardim, se torna abrigo
Das gentes que partilham só consigo
Um espaço quase feito por medida…
Teófilo de Braga é o jardim
Onde brincam crianças todo o dia,
Onde uma suecada em alegria
Junto ao coreto quase não tem fim…
Cá namoram casais que a tarde tarda…
E a Maria da Fonte a todos guarda…
Haragano, O Etéreo in Livro de Um Amor
(Gil Saraiva)
“O CONTRATO”
Encontrei, por acaso, na gaveta,
O teu contrato de arrendamento.
Três décadas aqui, um advento…
Mereces celebrar pela faceta!
Vamos dar festa e tocar trombeta,
Içar bandeiras e pô-las ao vento,
Juntar amigos no apartamento
Para brindar a toques de sineta…
Vamos amor, vamos alegremente,
Fazer do dia um caso de euforias
E apenas recordar as alegrias
Vividas cá por ti, com tanta gente,
Pois quero ver também ser celebrados
Nossos anos de vida… enamorados!
Haragano, O Etéreo in Livro de Um Amor
(Gil Saraiva)
“A PRENDA”
O brilho dos teus olhos deste a mim,
O rubro dessa boca me ofertaste,
No calor de teus seios me amparaste,
Em teus braços… de mato fui jardim…
Um bom abrigo foste tu, enfim…
Com tuas ternas mãos me massajaste,
Com as pontas dos dedos me coçaste,
No fundo do teu ser fui Mandarim…
Agora te dou algo onde guardei
O tão forte bater do meu sentir,
O meu amar, o meu por ti sorrir,
O meu ser, porque a ti amor me dei…
Guarda-a bem amor, porque ela embala
Meu coração, esta vermelha mala…
Haragano, O Etéreo in Livro de Um Amor
(Gil Saraiva)
“A ABELHA”
Como um zangão perdido andava eu,
Sem rumo, sem destino, sem um lar,
De flor em flor sem néctar apanhar,
Sem Sol, sem luz, sem meta ou apogeu…
Era uma vida vã, num escuro breu,
De flor em flor sem asas pra voar,
Um inútil zangão que só, sem par,
Pouco tinha pra dar, pouco de seu…
Por fim chegou um dia a Primavera,
Por toda a parte flores despontavam,
Em voo livre abelhas já voavam,
Mas eram para mim como quimera…
Só no Verão, vestindo a cor vermelha,
Chegaste tu, meu mel, tu… minha abelha…
Haragano, O Etéreo in Livro de Um Amor
(Gil Saraiva)