XIII
"ONDE ESTÁS?"
Onde estás?...
Tu iluminas meus sonhos
Noite após noite
Como se eterna fosse
A tua luz...
Onde estás?...
Tu que me fazes sentir gente
Por entre gente
Que jamais o foi...
Onde estás?
Tu que saíste
Do cotidiano das imagens
Pra te instalares
Pra sempre
Em minha mente...
Onde estás?
Tu que és a seiva
Que me corre nas veias,
O gosto que me vem à boca,
O odor que me invade
O cérebro escravizado...
A flor oculta
Que floresce em meus sentidos...
Onde estás?
Diz-me pra que eu possa
De novo ser alguém!!!
Haragano, O Etéreo in Nos Caminhos da Flor
(Gil Saraiva)
IX
"NÃO LEIAS..."
Não leias...
Não leias estes versos
Meu amor,
Eles, que são pra ti,
Não deves ler
Pois não podes, jamais,
Pensar saber
Que meros versos são...
Uns sem valor...
Não leias estes versos...
Por favor...
Neles, faminto vivo
Por viver,
Neles, razão tu és
Deste meu ser,
Neles, eu nada sou
Sem teu calor...
.
Não leias estes versos
Que te escrevo,
Não pode o teu amor
Calhar-me à sorte,
Não tenho as quarto folhas
Num só trevo
Se na roda da vida
Tenho a morte...
Não leias estes versos
Sonho terno
Se eu em teu existir
Não for eterno...
Não leias estes versos
Que falam de um de nós
Que apenas minha mente
E minha voz
Inventaram de forma inconsistente...
Não leias estes versos...
Estou doente!...
Como podes tu ler
Esta passagem
Se mais real que tu
É uma miragem!...
Haragano, O Etéreo in Nos Caminhos Da Flor
(Gil Saraiva)
VIII
"IMAGINE-SE..."
Imagine-se um mar de prata
Bordado ao ouro macio de um pôr-do-sol,
Deixemos agora
A nossa mente
Colocar algumas aves nidificando
Na costa fina de arbustos salgados,
Reserva natural
De um qualquer sonhado paraíso...
Em silêncio,
Os bateres de asas,
Se confundem com o restolhar do vento
Que sorri prá Primavera
Agora tão tangível...
O sentimento é por certo de harmonia!...
Pra quem não sente em verso
O deleite que os sentidos propiciam,
Recomendo que respirem fundo,
Deixem entrar languidamente
O cheiro a maresia...
Issooo...
Procurem agora sentir
A aragem vos acariciar,
De leve,
Passando-se suave
Pelo brilho dos olhos
E obrigando ao esvoaçar de alguns cabelos...
Com o olhar
Sigam as aves
Que gritam cânticos de amor
E de acasalamento...
Se entreabrirem os lábios
As papilas vão, por certo,
Detetar o gosto a mar,
O gozo das sensações plenas
E do encontro puro e idílico com Gaia,
A deusa que voluptuosa
Representa a Terra original...
Sentem?
Agora pensem,
Com um sorriso,
Num amor ausente...
Procurem influenciar a mente,
Mas sem esforço...
Issoooooo...
Estão vendo a sereia?...
É no exato instante,
De sensual e romântica lasciva,
Em que de joelhos nos dobramos
Para colher uma flor
De beira de caminho,
Que estamos integrados!
Cheios de amor,
De vida e de natura,
Enfim... de plenitude!!!
Imagine-se
Um mar de prata
Bordado ao ouro macio
De um pôr-do-sol
E conclua-se
Que afinal amar é simples...
Senão o mar seria água
E nada mais,
As aves: pássaros
E a reserva: pântano...
Imagine-se...
Haragano, O Etéreo in Nos Caminhos Da Flor
(Gil Saraiva)
VI
"FELICIDADE"
Dar asas à imaginação exige
Que nos afastemos da realidade...
Não podemos imaginar
Presos no colete-de-forças
Das normas e das leis,
Dos parâmetros sociais
Em que estamos envolvidos...
Imaginar
Implica liberdade de espírito,
De conceitos, de regras e de tabus...
Tal como a imaginação
Apela a uma forte libertação
Também o amor demanda
Os mesmos procedimentos...
Para amar é preciso ser livre
E estar disposto a tudo...
A diferença entre amar e imaginar
Traduz-se no objetivo
De cada um dos termos,
Na força implícita
Que em cada caso teremos que usar...
Se a finalidade da imaginação
Se retracta no acto criativo
De gerar um contexto
Nunca antes tornado cognitivo,
Em que o esforço pedido à mente
É apenas de abstração,
Já amar obriga à utilização
De todos os recursos do ser
E tem, por fim,
A conquista inequívoca
Do que se ama...
Uma certeza podemos ainda acrescentar:
Quem ama utiliza, vezes sem conta,
A imaginação como recurso, meio,
Perspetiva e criação
Dos seus cenários de futuro,
Tornados presente em cada hora...
Já quem imagina apenas se limita
A criar a metáfora de cenários
Ou futuros possíveis
Sem a preocupação de com eles atingir
Qualquer nível de alegria.
É aqui que reside
A diferença fundamental:
Imaginar solicita um ato criativo
Por si só suficiente,
Enquanto amar possibilita
Que se encontre a chave última da razão
Pela qual todos existimos:
A felicidade!...
Por tudo isto
Eu confesso neste testemunho
Que sou livre e feliz:
Não só eu imagino que amo...
Como amo porque me tornei
Inegavelmente detentor
Da Felicidade!...
Haragano, O Etéreo in Achas para um Vagabundo
(Gil Saraiva)
IV
"É APENAS AMOR"
É apenas amor, mas se isso é tudo
Como posso viver tão longe agora?
Como sorrir à dor que me devora
Se o espelho cada vez é mais sisudo?
Como posso viver se esta demora
Me afasta de teu ventre de veludo?
É apenas amor o grito mudo
Que dentro do meu peito, em fogo, chora!...
É apenas amor, por ti, amor...
Meu olhar turvo, a voz meio abafada,
A mão dormente, o corpo sem calor,
O vazio da mente enevoada...
Tem apenas amor meu Universo
E já nem forças tenho pra outro verso!...
Haragano, O Etéreo in Terra de Vénus
(Gil Saraiva)
I
"A CONDESSA"
A Condessa sorriu...ligeiramente...
Um sorriso sem cópias ou igual...
O seu brilhante olhar tem do cristal
O mesmo ardor e garra permanente,
Aquele fulgor que nos desperta a mente,
Numa ânsia de sonhos e real...
A Condessa sorriu... tão natural,
Mas ao sorrir assim, candidamente,
Explodir fez, de vez, as emoções,
Mil melodias, odes, versos, hinos,
Lindas canções de amor e mais refrões,
Coros vindos do céu dobrando sinos...
Condessa que sorris... tão sorridente...
Sorri pra mim... assim... sorri somente...
Haragano, O Etéreo in Terra de Vénus
(Gil Saraiva)
VI
"NAVEGAR"
Na frescura da derme acetinada
Se reflectem odores de sangue quente...
Reveste-lhe esse corpo a alma ardente,
Que no brilho do olhar se vê espelhada...
Génese de uma vida, de uma estrada,
Que apenas é trilhada por quem sente
O ser selvagem, por detrás da mente,
Que no sorriso parece tudo e nada...
É morno o toque, doce o paladar,
Fervente o cerne, corpo já sem mágoa,
Que parece nesta hora ir navegar
Em taças de luar, em rios d' água,
Onde apenas navega uma certeza:
A chama que o amor mantém acesa!...
Haragano, o Etéreo in Portaló
(Gil Saraiva)
XII
“DESPEDIDA”
No Hotel Portaló o ser se reparte
Qual afago, festa ou cafuné,
De chalé em chalé
Cultura é baluarte
Que à natureza se mistura
Com engenho…
Quem chega,
Chega a um mundo à parte;
Quem parte
Não esquece o desempenho
De quem
O acolheu naquele hotel,
De quem
Lhe deu guarida,
Deu quartel,
Deu nova vida…
Portaló não é porta,
É como um véu,
Passar por ele só importa
Para quem quer ficar perto do céu…
Quem parte
Leva natura e arte
Quem chega
Tem saudades quando parte…
Haragano, o Etéreo in Portaló
(Gil Saraiva)