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Desabafos de um Vagabundo

Serve este local para tornar visível o pensamento do último dos vagabundos que conheço: EU! Aqui ficarão registados pensamentos, crónicas, poemas, piadas, quadros, enfim, tudo o que a imaginação me permite

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Poemas de um Haragano: Achas de um Vagabundo – Um Poema

 

 

        XVI

 

"UM POEMA"

 

Um poema

Nada tem de silencioso,

Mágico ou natural,

É sim um grito mudo

Do amago de quem escreve

Para a essência de quem lê...

 

Se for ouvido é música divina,

É arte,

É voz...

 

Mas se na valeta

Do esquecimento

Ele cair

Então

O poeta morreu uma vez mais,

Mas não sem antes sofrer muito

Para além do suportável

Pelo comum dos mortais...

 

Quantos de nós,

Muito além desse sentido,

A que chamamos de audição,

Escutamos realmente o grito mudo?

 

Quantos de nós ouvimos

No marasmo do nosso cotidiano

Um só poema?

 

"-Depende..."

Dirão os mais sensíveis...

"-Eu acho que sim!"

Afirmarão os convencidos

Pelas lições que a vida

Lhes foi dando...

"-Eu escuto..."

Dirás tu

Com medo da tua própria voz...

 

Um poema

Nada tem de silencioso,

Mágico ou natural,

É sim um grito mudo

Do amago de quem escreve

Para a essência de quem lê...

 

Haragano, O Etéreo in Achas para um Vagabundo

(Gil Saraiva)

Poemas de um Haragano: Achas de um Vagabundo – Música

 

 

      VIII

 

"MÚSICA"

 

A música tem o espaço invadido

De ternas melodias...

 

No bar,

A tela sem som,

Transmite ilusões

De novelas sem fim...

 

A cena,

Com contornes de virtualidade,

Faz-me ver-te ali...

Do outro lado do bar,

Na penumbra das luzes

Em perpétua difusão...

 

Ali...

Nessas formas

Desse corpo que sonho;

Nas margens desse teu cabelo,

Onde os meus dedos anseiam

Perder-se um dia mais...

 

Procuro,

Com ânsia adolescente,

O teu olhar,

Profundo...

Oculto...

Magnífico...

E sinto-o no sorriso

Desses lábios

Que Mona Lisa invejaria ter...

 

Porque não falas?

A espera

É como um incêndio de floresta...

Consome tudo em seu redor...

Devora o íntimo do ser e...

Mesmo assim...

É divino o prazer

Da ansiedade...

 

A música

Tem o espaço invadido

Do teu ser...

E a tela,

Sem som,

O sorriso mudo dos teus olhos!

 

A cena faz-me imaginar

Contornes de impossível...

E na penumbra das luzes

O sonho aparenta

Um perpétuo devir...

 

Haragano, O Etéreo in Achas para um Vagabundo

(Gil Saraiva)

Poemas de um Haragano: Achas de um Vagabundo – Adormecer…

 

ACHAS DE UM VAGABUNDO

 

 

            I

 

"ADORMECER..."

 

 

Quero ver o brilho de teus olhos

Refletir o gozo do teu ventre...

Quero...

Porque tu,

Fronteira marginal de meu prazer,

Fonte viciada onde me banho,

És rochedo que se ergue

Junto à praia,

És terramoto,

Epicentro de mim e tudo o mais...

 

Quero ser a maré

Que sobe à tua volta

E que volta a descer

Suavemente

Ou com a fúria das vagas,

Que na Adraga,

Moldam a seu belo prazer

A dura rocha....

 

Quero poder provar o sal

Das tuas ondas;

Escondendo-me à força e,

À vontade,

Explodir dentro de ti

Nascente natural do meu querer,

Fonte viciada onde me venho

Pra regressar, um dia,

Não sei quando...!

 

E quero poder olhar para o mundo

Sem o ver;

Sentir a multidão

Sem a sentir;

Falar com a vida

Sem falar;

Pois sei que apenas quero ter

A tua companhia e saber ir

Para onde contigo

Possa estar...

 

Quero ainda

Que os nossos pensamentos

Se envolvam

Conforme os movimentos!...

 

Eu quero tudo amor

E tudo é pouco,

Porque o tudo é nada

Sem te ter...

 

Mas o que é tudo?

(Por um momento o espaço

Fica mudo

Para em seguida,

A minha voz, dizer...):

 

- É o rever teu rosto de mar

A cada amanhecer

E já, indo alta a noite,

Voltar a vê-lo adormecer...

 

Haragano, O Etéreo in Achas para um Vagabundo

(Gil Saraiva)

Poemas de um Haragano: Terra de Vénus – É Apenas Amor

                IV

 

"É APENAS AMOR"

 

É apenas amor, mas se isso é tudo

Como posso viver tão longe agora?

Como sorrir à dor que me devora

Se o espelho cada vez é mais sisudo?

 

Como posso viver se esta demora

Me afasta de teu ventre de veludo?

É apenas amor o grito mudo

Que dentro do meu peito, em fogo, chora!...

 

É apenas amor, por ti, amor...

Meu olhar turvo, a voz meio abafada,

A mão dormente, o corpo sem calor,

 

O vazio da mente enevoada...

Tem apenas amor meu Universo

E já nem forças tenho pra outro verso!...

 

Haragano, O Etéreo in Terra de Vénus

(Gil Saraiva)

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