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Desabafos de um Vagabundo

Serve este local para tornar visível o pensamento do último dos vagabundos que conheço: EU! Aqui ficarão registados pensamentos, crónicas, poemas, piadas, quadros, enfim, tudo o que a imaginação me permite

Serve este local para tornar visível o pensamento do último dos vagabundos que conheço: EU! Aqui ficarão registados pensamentos, crónicas, poemas, piadas, quadros, enfim, tudo o que a imaginação me permite

Poemas de um Haragano: Nos Caminhos da Flor – A Palavra

 

 

NOS CAMINHOS DA FLOR

 

           I

 

"A PALAVRA"

 

O bar ao fundo...

O motivo era a espera,

Uma espera com fim anunciado:

Ela não devia demorar!

 

Na sala cheia ninguém dava por mim,

Naquele canto destinado

A ilustres desconhecidos,

Como eu, aliás...

A multidão falava de quotidiano,

Falava de tudo,

Mesmo sem muito conseguir acrescentar...

 

Na minha mente

Uma só palavra parecia bailar

Entre a ponta da língua

E a garganta seca da cerveja

Já extinta no copo da imperial,

Havia algum tempo...

 

O bar ao fundo...

Uma só palavra...

E ela que tardava...

 

Pela milionésima primeira vez

Consultei o relógio,

Era verdade:

Os segundos continuavam a passar

No ritmo incontrolável

Do Tempo...

 

Levantei o olhar...

Ela sorriu para mim

Uma vez mais,

Como mil e uma vezes o fizera

Anteriormente...

 

E a palavra ganhou forma de novo,

E o Tempo parou,

E o bar pareceu vazio,

E a garganta húmida

Ganhou voz e lançou a palavra,

Pela milionésima segunda vez,

Pela ponta da língua:

 

Amo-te!

 

Haragano, O Etéreo in Nos Caminhos Da Flor

(Gil Saraiva)

Poemas de um Haragano: Achas de um Vagabundo – Adormecer…

 

ACHAS DE UM VAGABUNDO

 

 

            I

 

"ADORMECER..."

 

 

Quero ver o brilho de teus olhos

Refletir o gozo do teu ventre...

Quero...

Porque tu,

Fronteira marginal de meu prazer,

Fonte viciada onde me banho,

És rochedo que se ergue

Junto à praia,

És terramoto,

Epicentro de mim e tudo o mais...

 

Quero ser a maré

Que sobe à tua volta

E que volta a descer

Suavemente

Ou com a fúria das vagas,

Que na Adraga,

Moldam a seu belo prazer

A dura rocha....

 

Quero poder provar o sal

Das tuas ondas;

Escondendo-me à força e,

À vontade,

Explodir dentro de ti

Nascente natural do meu querer,

Fonte viciada onde me venho

Pra regressar, um dia,

Não sei quando...!

 

E quero poder olhar para o mundo

Sem o ver;

Sentir a multidão

Sem a sentir;

Falar com a vida

Sem falar;

Pois sei que apenas quero ter

A tua companhia e saber ir

Para onde contigo

Possa estar...

 

Quero ainda

Que os nossos pensamentos

Se envolvam

Conforme os movimentos!...

 

Eu quero tudo amor

E tudo é pouco,

Porque o tudo é nada

Sem te ter...

 

Mas o que é tudo?

(Por um momento o espaço

Fica mudo

Para em seguida,

A minha voz, dizer...):

 

- É o rever teu rosto de mar

A cada amanhecer

E já, indo alta a noite,

Voltar a vê-lo adormecer...

 

Haragano, O Etéreo in Achas para um Vagabundo

(Gil Saraiva)

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