Beijo Nómada
263. Beijo Nómada. Imagine um beijo autónomo que se passeia sem rumo pelo planeta. Ele sabe bem de onde partiu e que foi gerado por alguém, mas, qual filho rebelde, faz tempo já que se lançou por aí na demanda de aventura. Contudo, consciente de si mesmo, leva na bagagem a frescura da esperança, a vontade séria de um mimo, o olhar firme da dedicação, a honestidade gelada de um inverno que apenas se preocupa com a sua própria integridade, o calor íntimo de quem se importa, de quem sente, de quem quer sentir. Um dia, provavelmente, em horas de crepúsculo, deteta a presença do alguém que importa, algures nas sombras de um horizonte próximo, corre, seguindo os contornos já focados, levado pelo seu odor feminino, crente e sentido, e o frente a frente ocorre sem mais demora. O beijo claudica, se entrega, se rende, porque encontrou onde repousar, infiltrado para sempre na derme que há muito procurava. Beijo nómada, aquele que anseia por se tornar sedentário quando a hora chegar e valer realmente a pena.