Registos da Memória - VIII - Braga Branca - O Caminho
(Braga Branca – O Caminho - VIII - Foto de autor, direitos reservados)
Registos da Memória
VIII
Braga Branca – O Caminho
O caminho parecia diferente. Das centenas de vezes que eu, naquele bairro de Braga, tinha atravessado aquele troço, nunca, até àquele dia de 9 de janeiro de 2009, o trajeto se evidenciara tão incrivelmente bonito. Retângulos e quadrados de pedra ou de betão, de tom acastanhado, desenhavam vias que se destacavam na neve, parecendo apontar para locais perdidos no infinito branco que cobria quase por completo todo o chão.
Porque teria a neve poupado aquelas artérias da sua gélida presença? Seria possível que as pedras tivessem, durante a noite, resguardado um pouco do calor do Sol que brilhara na véspera, derretendo os flocos matreiros que se tivessem atrevido a tentar cobri-las? Fosse pelo que fosse em todo o jardim o cenário repetia-se. Todas aquelas pedras, que construíam verdadeiras artérias por entre o verde da relva, agora branco da neve, estavam à vista.
Era como se o caminho se tivesse finalmente querido afirmar. Mostrar orgulhosamente a sua existência e finalidade. Com o olhar percorri a área. Uma teia de retângulos e quadrados atravessava com vaidade todo o pequeno parque. Vi trajetos de cuja existência nunca me apercebera. Porém, naquele dia, eram tão evidentes como as poucas notas que eu sabia existirem na minha conta bancária, destacando-se com brio e valentia.
As pequenas vias de uma só pedra, em fila, lembravam membros saídos de um tronco principal. Decidi contar a passos todos os percursos. Quando, por fim, cheguei ao fim, fiquei surpreendido ao descobrir que percorrera mais de três quilómetros. As coisas que eu descobria só porque a neve decidira cair naquele dia. Como na vida, cada trajeto levara-me para um ponto diferente, rumo a um destino diversificado. Como na vida a escolha era minha…
Gil Saraiva