Registos da Memória - Brasil - Nordeste - VI - Ponta do Madeiro - O Sagui
(Brasil - Nordeste – VI – Ponta do Madeiro – O Sagui - Foto de autor, direitos reservados)
Registos da Memória
VI
Brasil – Nordeste
Ponta do Madeiro – O Sagui
Os jardins do Hotel Ponta do Madeiro são fabulosos pela diversidade de plantas e flores. Estando ao ar livre, junto à piscina, deitado numa espreguiçadeira, faz confusão à mente como é possível conseguir sentir no ar o aroma adocicado das flores a envolverem-nos com inúmeras fragrâncias tropicais, desconhecidas da memória de um europeu como eu. A relva bem aparada, as plantas murando a falésia e acompanhando a sua descida até à praia. Os arbustos como que desordenados, mas harmoniosamente ligando as árvores a todo o jardim.
A primeira vez que dei pelos saguis estava precisamente numa rede, deitado, na varanda do quarto, a olhar para o mar e a comer um pacote de amendoins, que poisara em cima de uma pequena mesa vermelha, que mais parecia um banco, ao lado da rede. No colo tinha a máquina fotográfica, pois estivera entretido a fotografar quatro aves de rapina, que me pareciam ser mais próprias do Andes, pois eram semelhantes ao condor. Contudo, estava certo disso, deviam ser águias em busca de almoço grátis. Jogara, a dada altura, a mão ao pacote de amendoins e este já lá não estava. Vi-o no chão, logo no momento seguinte. No canto da mesinha vermelha um sagui deliciava-se a abrir um amendoim e a comê-lo como se eu, ali bem perto, fosse mais um ornamento decorativo do que uma pessoa.
No chão, junto ao pacote, outros três saguis tinham subtraído, cada um deles, mais um amendoim e encontravam-se na fase de os abrirem. O que estava no canto do banco ia mais adiantado. Já devorara um amendoim e ia a meio do segundo. Com algum vagar peguei na máquina fotográfica e iniciei uma sessão de fotografias aos convidados penetras da minha varanda. O sagui do banco devia ser o macho alfa. Com um penteado à Einstein parecia indiferente ao facto de estar a devorar o que não lhe pertencia. Pensei que a teoria da relatividade se aplicava ao animal. Para ele era relativo que os amendoins fossem meus.
E=mc², ou seja, a sua energia diária era igual ao que comia multiplicada pela velocidade ao quadrado com que se aproveitava dos alimentos do incauto turista, no caso eu. Sorri para o meu Einstein. Para ele, o pacote dos amendoins fora uma oferta, senão porque estaria ali, assim, à disposição? Dei-lhe razão. Fora uma oferta. Terminado o pacote e devorado o seu conteúdo até ao último amendoim quer o alfa, quer os seus vassalos, abandonaram a varanda e desapareceram por entre a folhagem das árvores e dos arbustos. Sorri, tivera que ir ao brasil para conhecer Einstein. Estava deslumbrado com o acontecimento…
Gil Saraiva