76. Beijo de Classe , um daqueles que tem mil maneiras de se entregar, mas que exige sempre a mesma conduta. Primeiro: nobreza na apresentação, obrigando a que o vestir emane bem-estar, confiança e charme. Segundo: requinte na entrega, usando as mais pequenas subtilezas como se de um jogo de emoções e fascínio se tratasse. Terceiro: sedução no porte e nos movimentos exalando aromas suaves de uma colónia requintada ou de um "aftershave " de marca bem masculina. Quarto: suavidade no depositar dos lábios, como se a seda e o cetim tivessem sido inventados para estar juntos e inflamarem corpos nessa união. Por fim, dedicação em cada olhar, gesto ou atitude porque a classe torna única a mulher assim beijada.
X
"NÉCTAR"
O Néctar dos Deuses,
Um tal de hidromel,
Pode ser divino,
Digno de tão elevados seres,
Mas não tem o sabor do nosso amor...
Não sabe a vida e a eternidade,
Não tem a plenitude num mero segundo,
Não nos faz sentir que existimos
Porque precisamos de viver
Para poder tocar o infinito
No espaço estrito
De um simples olhar...
O Néctar dos Deuses
Pode ser divino,
Pode ser perfeito,
Pode ser puro,
Pode ser cristalino,
Pode ser indescritível,
Mas não é absoluto
Como nós...
Somos um ser total
Em construção,
Estamos para além
Dos sentidos
E dos sentimentos,
Somos o futuro,
A esperança e a alegria
Das nossas próprias almas...
O Néctar dos Deuses
Pode ser divino,
Mas não tem a graça
Do teu sorriso,
O perfume do teu ser,
A alma desse corpo
Onde me perco de mim,
Para despertar num tal de nós...
Se és a flor oculta
Deste meu existir,
Até aqui perdido,
Eu mais nada quero ser
Do que a terra
Onde cada uma das tuas raízes
E todas elas
Se alimentam até à eternidade...
Até à eternidade
Numa sede sem fim
E que por convenção
Chamamos de amor!...
Eu te amo!
O Néctar dos Deuses
Afinal não é importante...
Haragano, O Etéreo in Nos Caminhos da Flor
(Gil Saraiva)
NOS CAMINHOS DA FLOR
I
"A PALAVRA"
O bar ao fundo...
O motivo era a espera,
Uma espera com fim anunciado:
Ela não devia demorar!
Na sala cheia ninguém dava por mim,
Naquele canto destinado
A ilustres desconhecidos,
Como eu, aliás...
A multidão falava de quotidiano,
Falava de tudo,
Mesmo sem muito conseguir acrescentar...
Na minha mente
Uma só palavra parecia bailar
Entre a ponta da língua
E a garganta seca da cerveja
Já extinta no copo da imperial,
Havia algum tempo...
O bar ao fundo...
Uma só palavra...
E ela que tardava...
Pela milionésima primeira vez
Consultei o relógio,
Era verdade:
Os segundos continuavam a passar
No ritmo incontrolável
Do Tempo...
Levantei o olhar...
Ela sorriu para mim
Uma vez mais,
Como mil e uma vezes o fizera
Anteriormente...
E a palavra ganhou forma de novo,
E o Tempo parou,
E o bar pareceu vazio,
E a garganta húmida
Ganhou voz e lançou a palavra,
Pela milionésima segunda vez,
Pela ponta da língua:
Amo-te!
Haragano, O Etéreo in Nos Caminhos Da Flor
(Gil Saraiva)
XI
"LILÁS"
Cor mais linda, pintura de açucenas,
Ali, na noite escura, és recordar
Na boca sensual que quer amar...
Uma voz rouca... só... sorrindo apenas...
Imagens simples, férteis e pequenas,
Mas tudo traduzido em um olhar...
Frenética loucura de um gostar
Jamais um mar será de águas amenas...
Um rio de cor, reflexos de sentir,
Um só lençol de seiva, uma choupana,
Que pode um coração fazer explodir
Ao som de um samba sob a luz cigana...
Cor mais linda, que uns lábios faz mordaz,
És por amor, ternura, a cor lilás...
Haragano, O Etéreo in Terra de Vénus
(Gil Saraiva)
IX
"FLOR DA PELE"
Sentir à flor da pele o verbo amar,
Amar de corpo e alma, com furor...
Sentir, vibrar, viver e pressupor
Que o ser humano tem num só olhar:
A força e a vontade de lutar,
A garra e o poder de sobrepor
A tudo e todos a palavra amor,
Por mais que essa palavra vá custar!...
Sentir, à flor da pele toda uma vida
No prazer divinal de um só orgasmo...
Viver de gosto em pleno entusiasmo,
Amar sem fronteiras, foragida...
Assim sempre tu és e apaixonada
Amas-me à flor da pele... da pele suada!...
Haragano, O Etéreo in Terra de Vénus
(Gil Saraiva)
VIII
"DOCE PECADO"
Com a aurora chega o Sol Nascente,
Sobe no céu, com rumo já traçado,
Vem dando vida ao mundo iluminado
P’ra se esconder depois lá pra Poente...
E parece cumprir, de forma crente,
Uma homenagem viva, devotado
A quem tem no olhar brilho encantado
E vive e mora mais a Ocidente...
Parece o Sol seguir-te ó estrela bela,
Tu que a Oeste moras, qual princesa,
De origem e de raça a beleza
Por quem o Astro Rei amor revela...
Pudesse eu ser o Sol apaixonado
P’ra cometer em ti doce pecado!...
Haragano, O Etéreo in Terra de Vénus
(Gil Saraiva)
VI
"BORBOLETA"
Na imensa planície de meu ser
A madrugada traz, de novo, as flores...
Desabrocha suave em meu viver
A alma, o coração, risos e cores...
Desabrocha o sentir, o amar e o ver,
De mim sedentos todos, quais credores,
Cobrando o toque, o gosto, o poder ter
Meu cheiro, meu olhar e meus amores...
Na imensa planície a madrugada
Desabrocha por fim meu existir
E a borboleta vem, enfeitiçada,
Em mim beber o néctar do sentir...
Na imensa planície oculta flor
À borboleta dá suave amor...
Haragano, O Etéreo in Terra de Vénus
(Gil Saraiva)
IV
"É APENAS AMOR"
É apenas amor, mas se isso é tudo
Como posso viver tão longe agora?
Como sorrir à dor que me devora
Se o espelho cada vez é mais sisudo?
Como posso viver se esta demora
Me afasta de teu ventre de veludo?
É apenas amor o grito mudo
Que dentro do meu peito, em fogo, chora!...
É apenas amor, por ti, amor...
Meu olhar turvo, a voz meio abafada,
A mão dormente, o corpo sem calor,
O vazio da mente enevoada...
Tem apenas amor meu Universo
E já nem forças tenho pra outro verso!...
Haragano, O Etéreo in Terra de Vénus
(Gil Saraiva)
II
"ACORDA"
Para um amor sentir, estando ele ausente,
E olhar eu para quem não posso ver,
Para uns lábios beijar, sem deles saber,
E para estar contigo no presente,
Com muito amor, apaixonadamente,
Sem a tua presença eu poder ter:
Eu fecho os olhos... sinto-me mover...
E quando volto a olhar, na minha frente,
Reconheço essa imagem sempre bela,
As formas desse corpo em que me deito,
O sorriso da boca mais singela,
Os olhos desse belo tom, perfeito...
E... sinto-te alegre e me falando:
- Acorda, Amor, acorda, estás sonhando!...
Haragano, O Etéreo in Terra de Vénus
(Gil Saraiva)
I
"A CONDESSA"
A Condessa sorriu...ligeiramente...
Um sorriso sem cópias ou igual...
O seu brilhante olhar tem do cristal
O mesmo ardor e garra permanente,
Aquele fulgor que nos desperta a mente,
Numa ânsia de sonhos e real...
A Condessa sorriu... tão natural,
Mas ao sorrir assim, candidamente,
Explodir fez, de vez, as emoções,
Mil melodias, odes, versos, hinos,
Lindas canções de amor e mais refrões,
Coros vindos do céu dobrando sinos...
Condessa que sorris... tão sorridente...
Sorri pra mim... assim... sorri somente...
Haragano, O Etéreo in Terra de Vénus
(Gil Saraiva)