Registos da Memória - IV - Braga Branca - Pegadas
(Braga Branca – Pegadas - IV - Foto de autor, direitos reservados)
Registos da Memória
IV
Braga Branca – Pegadas
Olhei para trás, a meio do meu passeio pela alva neve, e dei-me conta das pegadas nítidas, vivas, bem marcadas no solo. Parecia que uma entidade invisível me seguia os passos com uma precisão de relojoeiro de uma marca dispendiosa de contadores do tempo. Voltei a olhar para as marcas no chão, decorei bem os detalhes do desenho e finalmente, respirando fundo, levantei um pé dobrado para trás e confrontei as marcas com o designe da minha sola…
As marcas no caminho e o formato da sola eram efetivamente coincidentes. Não havia, portanto, nenhum ser estranho a seguir-me e aquelas eram as minhas próprias pegadas e nada mais do que isso. Ri-me, fiquei com a certeza de que andava a ler demasiados mistérios do oculto. Olhei a paisagem tentando seguir meus passos, a uns metros, na última curva que fizera, um rasto de pegadas secundava as minhas, pior, até onde a vista alcançava o segundo trilho de marcas no chão seguindo paralelo ao meu. Parava apenas na última reta e não seguia para lado algum.
Avancei uma vez mais seguindo o meu trajeto. A minha mente desviou-se para o objetivo da minha próxima foto e continuei o meu trabalho. Meia hora depois, já de chave na mão à porta de casa lembrei-me das pegadas e olhei para trás. O segundo rasto seguira-me até ali. Desta vez não se ficara a uns metros de distância. Senti um arrepio subir-me pela espinha, atabalhoadamente abri a porta do prédio, entrei e fechei rapidamente a mesma atrás de mim. Solitariamente umas marcas de pegadas afastavam-se do meu ponto de visão. Não havia mais ninguém nas redondezas…
Gil Saraiva