Beijo de Empada
107. Beijo de Empada, criado com mil mimos tépidos, que aos poucos, enquanto duram e se demoram, chegam, sem darem conta, ao enrubescer dos cinco sentidos e de todas as emoções, como se fosse possível a sua transformação numa "manduca" deliciosa feita em camadas. Primeiro os sentimentos, ascendendo que nem lava, vindos do interior da alma, constituindo o nível base de suporte de toda a fundação deste beijar, como que refogando numa combinação temperada as moléculas que despertarão hormonas e feromonas. Na camada seguinte os sentidos, numa ebulição indescritível na busca faminta do êxtase, como que servindo de acompanhamento, que nos permite apreciar o degustar, quais emanações da derme que por debaixo esconde, sem sucesso, a ânsia da carne apetitosa. Quase no cimo acomodam-se os instintos, fervendo na natureza primitiva da sua remota origem, trazendo à nossa memória os intuitos primitivos de procriação animal, onde o gozo se partilha sem que o raciocínio se preocupe com quaisquer consequências. Finalmente a cobertura desta empada feita beijo, qual massa tenra de carinhos, gestos e ternura, representando a roupagem moderna impressa pela civilização evolutiva de milénios educativos e refinados na busca da perfeição das coisas para que tudo neste beijo se gere sem saber como mas que se devore sabendo bem porquê.