Os Meus Quadros: Horizonte Crepuscular
Horizonte Crepuscular
Coleção: Gil Saraiva
Acrilico sobre tela
100 cm X 80 Cm
2008
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Horizonte Crepuscular
Coleção: Gil Saraiva
Acrilico sobre tela
100 cm X 80 Cm
2008
"SEM..."
.
.
Para ser um mito
De alguém
Eu teria de existir
Antes de ser,
De ter vivido
Antes de existir,
De ser sonhado
Antes de conhecido ser...
.
Porém,
Por tudo isso...
Não passo de simples rumor
Nas gargantas
De quem nunca me imaginou...
.
Sou um Vagabundo Dos Limbos,
Sou Haragano, O Etéreo,
Condenado a não sentir
O cheiro da rosa...
.
Sem que uma pétala
Deslize entre meus dedos,
Qual torrente de um rio
Com margem certa...
.
Sem que um espinho
Me prove que o sangue
Ainda corre em minhas veias...
.
Sem que a beleza de uma flor
Me cegue de amor,
Qual rosa do rio
Que murmura segredos de infinito
Em meus ouvidos...
.
Sou um Vagabundo Dos Limbos,
Haragano, O Etéreo,
Prisioneiro do aroma suave
De uma simples flor,
Mas longe de ganhar raízes
Nas profundezas intimas
Desse botão aberto ainda
Sem destino...
.
Nos caminhos da flor,
Qual seiva
Que alimenta a planta,
Eu continuo
Sem rumo
Meu caminho para a extinção...
.
.
Haragano, O Etéreo in Nos Caminhos da Flor
"RASTO"
.
.
Olhar o céu
E ver nas estrelas
O florir da Primavera...
.
Sentir em cada uma
O perfume de uma flor!...
.
Tocar o infinito
Como quem toca uma quimera
Na essência vaporina
De um odor!...
.
Colher a mais perfeita,
Porém...
Da vista oculta,
Que não do meu sentir...
Que não do coração...
.
Sorrir só por sorrir!...
.
Em pétalas de amor
A desfolhar...
Entre meus dedos
Dar-lhe a forma
E um olhar...
.
Sentir a agitação do pólen
Me viciar o corpo,
Ir mais além...
Que ao infinito
Nunca foi ninguém!...
.
Regar,
Essa mais linda flor,
De vida,
De lágrimas de sémen
E saudade...
E ver nascer
Em folhas de prazer
Um novo amor,
Roubando assim à estrela
A liberdade!...
.
Ébrio de sonhos
Busco a flor oculta
Olhando o céu estrelado
E vasto...
.
Perdido de ilusão
Busco de novo...
Para encontrar apenas
O seu rasto...
.
Quem quiser ver
Florir a Primavera,
Nas estrelas
Do Universo imenso,
Tem que uma oculta flor
Ver brilhar
Sem que um qualquer outro
Possa vê-la!...
.
Pra poder ser minha
A oculta estrela
Tem de pensar o mesmo
Do que eu penso,
Tem de por mim sentir
Um amor tão vasto...
Que eu possa,
Por amor,
Seguir-lhe o rasto!...
.
.
Haragano, O Etéreo in Nos Caminhos da Flor
"POR MAIS..."
.
.
Por mais
Que o encanto
Pareça estar quebrado...
.
Por mais
Que o sonho
Tenha dado lugar ao Sol
Depois de um raiar irritante
E nublado da aurora...
.
Por mais
Que o cotidiano
Me tente chamar à razão,
Qual despertador enervante,
Repetitivo,
Monótono
E incansável...
.
Por mais
Que a flor
Se encontre oculta...
.
Por mais
Que tudo...
.
Nada vai parar
Quem sonha
Com o que sabe querer,
Por mais
Que o sonho
Demore a chegar...
por mais que o sonho
Demore
A sonhar...
.
.
Haragano, O Etéreo in Nos Caminhos da Flor
"O VASO"
.
.
Aceita meu vaso,
Sê a minha flor,
Para que te possa regar
A cada dia
De sorrisos
E de mimos
No mais intimo
Da nossa alienação...
.
Aceita meu vaso,
De barro feio...
Bruto na forma,
Naife no desenho,
Para que nele
Possas ser
A minha flor...
.
Aceita meu vaso,
No decoro do silêncio
Da nossa cumplicidade...
Deixa que nele te implante
Meiga flor silvestre...
.
E que te regue...
E que te cuide...
E que se murchares,
Por falta de carinho,
Se quebre o vaso;
E seque eu,
Na essência desta alma
Que lhe deu o barro...
.
.
Haragano, O Etéreo in Nos Caminhos da Flor
"O FIO..."
.
.
Que o meu grito aos astros
Se oiça nos confins do firmamento...
.
E que o seu eco se espalhe
Pelo infinito mundo das mensagens...
.
Que eu seja entendido
Ao menos uma vez...
.
Minhas palavras
São lágrimas de limbos
Que para se entenderem
Têm de ser sentidas
Por quem, como eu,
Chora o deserto para que nele
Uma flor possa nascer...
.
Se eu choro lágrimas de vagabundo
É porque estou condenado
A procurar um fim prá solidão...
.
Porque a solidão
Tem saída neste labirinto...
Mas quantos encontram
O caminho certo?
.
Quantos conhecem
O homem solitário,
Este ser que existe nas memórias
De quem com ele,
Um dia,
Foi feliz...
.
Vem amor, vem,
Juntos descobriremos o fio
Que nos conduz
À luz dos sentimentos,
Ao fim da sentença eterna
De vaguearmos perdidos pelos limbos...
.
Vem amor, vem,
Que o fio da vida
Pode a qualquer hora desfiar...
.
.
Haragano, O Etéreo in Nos Caminhos da Flor
"NÉCTAR"
.
.
O Néctar dos Deuses,
Um tal de hidromel,
Pode ser divino,
Digno de tão elevados seres,
Mas não tem o sabor do nosso amor...
Não sabe a vida e a eternidade,
Não tem a plenitude num mero segundo,
Não nos faz sentir que existimos
Porque precisamos de viver
Para poder tocar o infinito
No espaço estrito
De um simples olhar...
.
O Néctar dos Deuses
Pode ser divino,
Pode ser perfeito,
Pode ser puro,
Pode ser cristalino,
Pode ser indescritível,
Mas não é absoluto
Como nós...
.
Somos um ser total
Em construção,
Estamos para além
Dos sentidos
E dos sentimentos,
Somos o futuro,
A esperança e a alegria
Das nossas próprias almas...
.
O Néctar dos Deuses
Pode ser divino,
Mas não tem a graça
Do teu sorriso,
O perfume do teu ser,
A alma desse corpo
Onde me perco de mim,
Para despertar num tal de nós...
.
Se és a flor oculta
Deste meu existir,
Até aqui perdido,
Eu mais nada quero ser
Do que a terra
Onde cada uma das tuas raízes
E todas elas
Se alimentam até à eternidade...
.
Até à eternidade
Numa sede sem fim
E que por convenção
Chamamos de amor!...
.
Eu te amo!
.
O Néctar dos Deuses
Afinal não é importante...
.
.
Haragano, O Etéreo in Nos Caminhos da Flor
"NÃO LEIAS..."
.
.
Não leias...
Não leias estes versos
Meu amor,
Eles, que são pra ti,
Não deves ler
Pois não podes, jamais,
Pensar saber
Que meros versos são...
Uns sem valor...
.
Não leias estes versos...
Por favor...
.
Neles faminto vivo
Por viver,
Neles razão tu és
Deste meu ser,
Neles eu nada sou
Sem teu calor...
.
Não leias estes versos
Que te escrevo,
Não pode o teu amor
Calhar-me à sorte,
Não tenho as quarto folhas
Num só trevo,
Só, na roda da vida
Encontro morte...
.
Não leias estes versos
Sonho terno
Se eu em teu existir
Não for eterno...
.
Não leias estes versos
Que falam de um nós
Que apenas minha mente
E minha voz
Inventaram de forma inconsistente...
.
Não leias estes versos...
Estou doente,
Ó deusa pela qual eu me fiz crente.
Como podes tu ler esta passagem
Se para ti sou mero ponto
Na árida paisagem,
Se mais real do que eu
É uma ténue miragem
Sonhada por quem nunca adormeceu...
.
.
Haragano, O Etéreo in Nos Caminhos Da Flor
"IMAGINE-SE..."
.
.
Imagine-se um mar de prata
Bordado ao ouro macio de um pôr-do-sol,
Deixemos agora
A nossa mente
Colocar algumas aves nidificando
Na costa fina de arbustos salgados,
Reserva natural
De um qualquer sonhado paraíso...
.
Em silêncio,
Os bateres de asas,
Se confundem com o restolhar do vento
Que sorri prá Primavera
Agora tão tangível...
.
O sentimento é por certo de harmonia!...
.
Pra quem não sente em verso
O deleite que os sentidos propiciam,
Recomendo que respirem fundo,
Deixem entrar languidamente
O cheiro a maresia...
.
Issooo...
Procurem agora sentir
A aragem vos acariciar,
De leve,
Passando-se suave
Pelo brilho dos olhos
E obrigando ao esvoaçar de alguns cabelos...
.
Com o olhar
Sigam as aves
Que gritam cânticos de amor
E de acasalamento...
.
Se entreabrirem os lábios
As papilas vão, por certo,
Detectar o gosto a mar,
O gozo das sensações plenas
E do encontro puro e idílico com Gaia,
A deusa que voluptuosa
Representa a Terra original...
.
Sentem?
Agora pensem,
Com um sorriso,
Num amor ausente...
.
Procurem influenciar a mente,
Mas sem esforço...
Issoooooo...
Estão vendo a sereia?...
.
É no exacto instante,
De sensual e romântica lasciva,
Em que de joelhos nos dobramos
Para colher uma flor
De beira de caminho,
Que estamos integrados!
Cheios de amor,
De vida e de natura,
Enfim... de plenitude!!!
.
Imagine-se
Um mar de prata
Bordado ao ouro macio
De um pôr-do-sol
E conclua-se
Que afinal amar é simples...
.
Senão o mar seria água
E nada mais,
As aves: pássaros
E a reserva: pântano...
.
Imagine-se...
.
.
Haragano, O Etéreo in Nos Caminhos Da Flor
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