Serve este local para tornar visível o pensamento do último dos vagabundos que conheço: EU!
Aqui ficarão registados pensamentos, crónicas, poemas, piadas, quadros, enfim, tudo o que a imaginação me permite
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365. Beijo Simples, aquele a que os brasileiros chamam de beijo selinho, porque os lábios se encostam ao de leve, mas a boca permanece fechada. Quantas vezes sinónimo de gratidão, afeição e compreensão, mas, por ser multifacetado nos seus intentos, os significados alargam-se muito para além dos já enunciados, a simplicidade deste beijo trás consigo resmas de devoção, fardos de amizade, paletes de simpatia, contentores de paixão, vagões de alegria, porões de dedicação, silos de amor. Encontra-se em qualquer parte, sempre e onde se registem manifestações inequívocas de comportamento humano solidário, sentido, companheiro ou cúmplice. Beijo simples, sem pretensões a outros patamares, mas rei na disseminação oscular da humanidade.
118. Beijo Especialista, refinado, emotivo, afável, amigo, sincero, agradável, simpático, suave, simples, sorridente, alegre, vivo, empenhado, descontraído, cortês, doce, querido, especial, companheiro, desperto, morno, delicioso, carinhoso, participado, bem-disposto, comunicativo, substancial e aliciante. Ou seja, um beijo desejado, quente, húmido, emocionante, sentimental, vibrante, sedutor, sensual, arrebatador, sexual e inesquecível. Porém, hoje ou no futuro, seja onde for, independentemente do clima, do meio, das circunstâncias, da hora, do local e das inúmeras facetas que ele possua ou possa conter no cerne do seu existir, um beijo especialista para o ser é, e será para a eternidade, pessoal, intransmissível e único.
108. Beijo Encarnado, como o sangue que nos corre nas veias alimentando o corpo, o ser, o existir. Corado e sensual como o pôr-do-sol que em dias estivais, na linha do horizonte, nos foge ao olhar mergulhando nas águas do oceano ou se encantinhando atrás da serra soltando línguas de fogo pelo ar. Libertador como o voo da águia que simboliza a glória última, derradeira paixão que vem do alto. Vibrante e forte como as vozes da revolução que pela esquerda vermelha grita liberdade. Mas simples como o sorriso que sai dessa boca após um beijo cúmplice, devotado e intensamente rubro.
84. Beijo Criativo, produzido fora de qualquer sonho, por mais divinal que este possa ser. Originado na realidade sincera de querer entregar, com a maior das simplicidades e vontades, algo de agradável a alguém, que se determinou previamente, e a quem se quer, mais do que tudo, prestar um agrado, uma afeição, algo simples, mas profundamente sentido e intencional. Sempre será, contudo, original e até artístico não perdendo a naturalidade, na senda do inesperado, mas apetecido, por forma a não provocar qualquer reação de desagrado, mas sim, possivelmente, ser recompensado com um outro beijo ou com um sorriso retributivo de simpatia, ou, quem sabe, um beijo de mais além...
79. Beijo Complicado, um daqueles que estranha o nunca. Que se concebe sem buscar um só porquê. Que se indaga ignorando o como. Que se lega sem um simples como, mas que se transmite mesmo sem se saber onde. Que se planeia sem ter tempo ou qualquer quando. Que se forja sem pensar em se… Que se consagra sem precisar de um e… ou de um e se… que se sente sem um odor sequer. Que se reparte sem se chegar lá. Que se devora sem se ter um fim. Que nos avassala sem sentirmos um, porém. Que se corporaliza porque o queremos dar sabendo a quem, a quem, a quem… beijo complicado, sabemos a quem o queremos facultar e isso chega.
47. Beijo Básico, o mais simples e descomplicado de todos os beijos. Inventado por mil e uma razões, entregue sem preconceitos, disseminado entre os humanos e praticado em todos os continentes. Ele serve de cumprimento, de despedida breve, de anúncio de chegada a algum lugar, de bom-dia, boa-tarde ou boa-noite, e ainda de carinho entre pais e filhos. É o mais vulgar e habitual cumprimento de um olá. Dá-se entre amigos e mesmo entre desconhecidos que se apresentam selando o novo conhecimento através dele. Não tem horas nem mesmo regras para ser gerado o que o torna o mais democrático e social beijo conhecido.
36. Beijo Assado, quiçá com castanhas, regado com jeropiga, acompanhado por uma lareira crepitante, numa sala de granito antigo com grandes traves de carvalho e faia a rasgar as paredes, ao som de uma canção clássica de Paulo Gonzo, entre amigos, numa noite aberta e luminosa de Lua Cheia, onde o frio nos faz sentir o doce conforto do calor do fogo e das amizades envolventes, rindo entre conversas de uma banalidade sem meias palavras e onde conviver parece ser realmente o mote mais importante. Um beijo assim dá-se a quem se quer bem, sem subterfúgios, sem malícias, sem truques e por absoluta vontade de partilhar o momento de forma simples, sincera e singular.