Serve este local para tornar visível o pensamento do último dos vagabundos que conheço: EU!
Aqui ficarão registados pensamentos, crónicas, poemas, piadas, quadros, enfim, tudo o que a imaginação me permite
Serve este local para tornar visível o pensamento do último dos vagabundos que conheço: EU!
Aqui ficarão registados pensamentos, crónicas, poemas, piadas, quadros, enfim, tudo o que a imaginação me permite
Acompanhando os seus primeiros resorts turísticos, junto à cidade de Santa Maria, na Ilha do Sal, em Cabo Verde, o velho calçadão é local de passeio, de luz, de Sol, de praia, de oceano que se estende até ao infinito, de palmeiras que resistem ao tempo em que a água potável se torna recurso escasso e valioso. Aqui e ali, artistas locais vendem óleos deste céu e deste mar, por entre as vestes garridas das gentes e do casario baixo, também ele pintado de cores vivas como a gente que as habita.
O velho calçadão pode não ter a imponência moderna do novo, mas não lhe fica atrás na beleza do circuito. Inspira facilmente poetas e escritores, no seu desenrolar calmo até à urbe, indicando aos turistas onde passear, comer, beber ou escutar a morna que sempre toca em algum lugar. De um dos lados os candeeiros de rua fazem fila, prontos a iluminar nas noites os veraneantes que desejem sentir a brisa tépida da beira-mar. São como que os guardiões do velho caminho gasto pelos passos de quem por ali se cruza apressado, meditativo ou em passeio. Há locais assim, no mundo inteiro, locais onde de dia e noite passeia a paz.
(Cabo Verde, Ilha do Sal, Beira Mar em Odjo d'Água - VI - Foto de autor, direitos reservados)
Registros da Memória
V
Beira Mar em Odjo d’Água
De dia, vista de um dos patamares do Resort Hoteleiro de Odjo d’Água, a praia esconde a mística que se vislumbra em noites de Lua Nova. Aliás, o pequeno cabo em arco, relembra mais um recanto do paraíso do que qualquer coisa que nos reporte aos mistérios ancestrais destas ilhas africanas de Cabo Verde, das quais Santa Maria é apenas mais um delicioso exemplo. Até os telhados ornados em tons lilases das buganvílias nos parecem transportar para um recanto do paraíso, dedicado à adoração dos deuses do Sol e do Oceano.
Na verdade, o pequeno Resort Hoteleiro de Odjo d’Água, nascido das ruínas ancestrais do velho Farol de Vera Cruz, pelas mãos de um empresário autóctone, de seu nome Patone Lobo, tem por missão transpirar, para quem o visita ou nele se aloja, o esplendor da cultura africana e cabo-verdiana, com temáticas alusivas em cada quarto, no bar, no restaurante, nas esplanadas e até mesmo junto à praia. Feito em socalcos sobre o promontório, a fonte que dá origem ao nome de Olho de Água, tem uma singela dama de branco na frente de um enorme pote de barro, de onde brota infinita uma cristalina água sempre corrente.
369. Beijo de Sol, cheio de luz, cor, vida e alegria. Um beijo que se dá pelo despertar da aurora, sob a vigília matutina do cantar dos galos, em mais um acordar da natureza para um novo dia, mas que se repete até o crepúsculo começar a invadir a linha do horizonte ocupando, por fim, o céu na plenitude, enquanto o astro rei se põe em matizes de arte, na sensualidade das cores, recortado pelas sombras do beijo, que, já sem Sol, se despede até ao nascer de um novo dia. Porque se quem beija no crepúsculo anseia pelo que a madrugada lhe poderá trazer, quem entrega um beijo de Sol espera, atento, o chegar erótico da noite.
77. Beijo de Clave de Sol, dado sem Dó, sem fuga para a Ré, por Mi inventado, sem mais Fá… sem mais fá… sem mais fados, em dia de Sol que não vem de Lá e entregue a Si. Distribuído entre sorrisos musicais que cantam canções que falam de flores, de primavera, de mãos dadas e entrelaçadas como raízes de árvore em terra firme, sob a vigilância atenta das andorinhas, guardiãs de ninhos e paladinas do acasalamento festivo por entre o verde que se torna rubro de uma natureza que se renova intensamente nesta época melódica. Clave de Sol, na sensualidade das suas curvas, se convida a um beijo prenhe de esperanças…