14. Beijo de Alvorada em noite fria, quente e relaxante como o aninhar de uma cria no pelo da mãe loba junto ao calor do leite e à maciez das tetas, entregue durante o despertar, entre a preguiça e o conforto de um leito morno e remexido, no aconchego macio das proximidades cúmplices; tão lento, longo e quase lascivo como deveriam ser os despertares na companhia de quem se quer bem, uma espécie de assimmmmmmmmmm que se prolonga no tempo e que apetece que não mude mais, pois que é tão bom mas que termina com o sorrir prazenteiro do Sol numa janela marota e atrevida.
XV
"RASTO"
Olhar o céu
E ver nas estrelas
O florir da Primavera...
Sentir em cada uma
O perfume de uma flor!...
Tocar o infinito
Como quem toca uma quimera
Na essência vaporina
De um odor!...
Colher a mais perfeita,
Porém...
Da vista oculta,
Que não do meu sentir...
Que não do coração...
Sorrir só por sorrir!...
Em pétalas de amor
A desfolhar...
Entre meus dedos
Dar-lhe a forma
E um olhar...
Sentir a agitação do pólen
Me viciar o corpo,
Ir mais além...
Que ao infinito
Nunca foi ninguém!...
Regar,
Essa mais linda flor,
De vida,
De lágrimas de sémen
E saudade...
E ver nascer
Em folhas de prazer
Um novo amor,
Roubando assim à estrela
A liberdade!...
Ébrio de sonhos
Busco a flor oculta
Olhando o céu estrelado
E vasto...
Perdido de ilusão
Busco de novo...
Para encontrar apenas
O seu rasto...
Quem quiser ver
Florir a Primavera,
Nas estrelas
Do Universo imenso,
Tem que uma oculta flor
Ver brilhar
Sem que um qualquer outro
Possa vê-la!...
Pra poder ser minha
A oculta estrela
Tem de pensar o mesmo
Do que eu penso,
Tem de por mim sentir
Um amor tão vasto...
Que eu possa,
Por amor,
Seguir-lhe o rasto!...
Haragano, O Etéreo in Nos Caminhos da Flor
(Gil Saraiva)
IV
"ELA..."
Ela
Não podia estar ali...
Talvez...
Nos confins do pensamento,
Longe de tudo...
Não de todos!...
Um rosto jovem no sorrir...
Um rosto,
Com raios de Sol
Caindo nos ombros,
Em cabelos de um ouro
Que brilha no escuro...
O azul do mar
Repousando nas pálpebras,
De uns olhos castanhos
Que brilham também...
Um doce poente
Poisado nos lábios,
De uma boca que arde
E cheira a pecado...
Um luar de prata
Em seu meigo rosto,
De uma Lua Cheia
Que ilumina a serra...
Os traços de Vénus
Moldados num corpo,
Que Gaia quis tão fértil
Como sensual...
O entardecer
Descendo no ventre,
Qual crepúsculo
Anunciando a plenitude...
O sabor a sal
Colando-lhe as coxas,
Húmidas de ansiedade,
De ante prazer...
O toque da seda
Envolvendo os seios,
Tentando esconder
A derme perfeita...
O amor perdido
Em seu terno olhar,
Que busca sedento
Outro olhar igual...
E um ar de oásis
Cobrindo-lhe a pele,
Qual neblina ténue
Desejando Sol...
Ela...
Não podia estar ali...
Talvez...
Perto de alguém,
Imaginário ninguém,
A quem esperava,
Um dia,
Vir a encontrar!...
Ela
Não podia estar ali...!
Não!...
Não existe tal paisagem,
Pois as quimeras
Nunca são reais!
Mas...
Se por força
De acasos impensáveis,
A paisagem
Não for mera miragem...
Se o ocaso
Realmente for poente
Que chega ante meus olhos
Suspensos na exceção,
Então... então...
Então tudo eu dou
Pela paisagem!...
O que sou,
O que fui
E o que serei,
O que tenho
E o que possa vir a ter...
Tudo!...
Porque tudo é pouco
Se puder na paisagem
Meu ser eu colocar...
Num canto,
Ali...
Mas enquadrado...
Ela
Não podia estar ali...
Haragano, O Etéreo in Achas para um Vagabundo
(Gil Saraiva)
IV
"É APENAS AMOR"
É apenas amor, mas se isso é tudo
Como posso viver tão longe agora?
Como sorrir à dor que me devora
Se o espelho cada vez é mais sisudo?
Como posso viver se esta demora
Me afasta de teu ventre de veludo?
É apenas amor o grito mudo
Que dentro do meu peito, em fogo, chora!...
É apenas amor, por ti, amor...
Meu olhar turvo, a voz meio abafada,
A mão dormente, o corpo sem calor,
O vazio da mente enevoada...
Tem apenas amor meu Universo
E já nem forças tenho pra outro verso!...
Haragano, O Etéreo in Terra de Vénus
(Gil Saraiva)
I
"A CONDESSA"
A Condessa sorriu...ligeiramente...
Um sorriso sem cópias ou igual...
O seu brilhante olhar tem do cristal
O mesmo ardor e garra permanente,
Aquele fulgor que nos desperta a mente,
Numa ânsia de sonhos e real...
A Condessa sorriu... tão natural,
Mas ao sorrir assim, candidamente,
Explodir fez, de vez, as emoções,
Mil melodias, odes, versos, hinos,
Lindas canções de amor e mais refrões,
Coros vindos do céu dobrando sinos...
Condessa que sorris... tão sorridente...
Sorri pra mim... assim... sorri somente...
Haragano, O Etéreo in Terra de Vénus
(Gil Saraiva)
IV
“VERMELHA MALA”
O brilho dos teus olhos deste a mim,
O rubro dessa boca me ofertaste,
No calor de teus seios me amparaste,
Em teus braços… de mata fui jardim…
Um bom abrigo foste tu, enfim…
Com tuas ternas mãos me massajaste,
Com as pontas dos dedos me coçaste,
No fundo do teu ser fui Mandarim…
Agora te dou algo onde guardei
O tão forte bater do meu sentir,
O meu amar, o meu por ti sorrir,
O meu ser, porque a ti amor me dei…
Guarda-a bem amor, porque ela embala
Meu coração, esta vermelha mala…
Haragano, o Etéreo in Portaló
(Gil Saraiva)
"NAVEGAR"
Na frescura da derme acetinada
Se reflectem odores de sangue quente...
Reveste-lhe esse corpo a alma ardente,
Que no brilho do olhar se vê espelhada...
Génese de uma vida, de uma estrada,
Que apenas é trilhada por quem sente
O ser selvagem, por detrás da mente,
Que no sorrir parece tudo e nada...
É morno o toque, doce o paladar,
Fervente o cerne, corpo já sem mágoa,
Que parece nesta hora ir navegar
Em taças de luar, em rios de água,
Onde apenas navega uma certeza:
A chama que o amor mantém acesa!...
Haragano, O Etéreo in Livro de Um Amor
(Gil Saraiva)
Com um Alentejano não se brinca
Um rapaz Alentejano vai trabalhar para um daqueles grandes Hipers na América e ao fim do primeiro dia o chefe pergunta-lhe:
- Quantas vendas já fizeste?
- Uma.
- Uma venda? Isso é muito mau!!! Os meus vendedores normalmente fazem entre 25 a 30 vendas por dia!!!
Ora diz lá de quanto foi a venda...
- 757.326,45 DOLLARS
- O quê?????? Mas afinal o que é que vendeste?????
- Ora, primeiro vendi ao freguês um anzol pequeno, depois um anzol médio, e a seguir um anzol grande!...
Com tanto anzol vendi-lhe uma cana de pesca!... Perguntei onde é que ele ia pescar e ele disse para a costa.
Claro que lhe expliquei que para a costa era melhor ter um barco!!!
Então levei-o à secção de barcos de recreio e vendi aquele 'Silver Esprit' com os dois 'outboard' que o gajo até se passou!...
Conversa puxa conversa e ele disse que o carro dele era um Fiat Uno... e eu disse-lhe que para puxar o barco ele precisava dum 4x4!!!
Então fomos direitinhos ao stand e vendi-lhe aquele Range Rover que lá estava.
- Muito bem! Deves ser mesmo bom para venderes isso tudo a um gajo que só queria um anzol pequeno!!!
- Qual anzol qual quê!!!
- Ele só cá vinha comprar uma caixa de TAMPAX para a mulher... e eu disse-lhe
'Já que tem o fim-de-semana lixado, mais vale ir à pesca...'